Por Dom Jesús Sanz Montes, ofm
HUESCA, sexta-feira, 2 de outubro de 2009 (ZENIT.org).
- Publicamos o comentário do Evangelho deste domingo, XXVII do tempo comum, (Marcos 10, 2-16), redigido por Dom Jesús Sanz Montes, ofm, bispo de Huesca e Jaca (Espanha).
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Este domingo nos apresenta uma incômoda página evangélica na qual Jesus se distancia de uma verdade que dependa da manipulável opinião coletiva. Nossa época é uma época montada no cavalo do relativismo subjetivo: as coisas já não "são", mas "parecem que são". A verdade reside no que a maioria pensa, no que a maioria decide, no que a maioria rejeita. De modo que a nova sabedoria se chama "estatística" e seu seio de partida são as urnas. As consequências educativas, sociais, políticas e familiares destes princípios são impressionantes.
Qual era o costume entre os judeus sobre o casamento? Que tal união poderia ser dissolvida, quase sempre em benefício do homem e, às vezes, por razões extremamente pitorescas, como a mulher ter queimado a comida. O fato é que alguns fariseus se aproximam de Jesus, e para colocá-lo à prova, perguntam-lhe: é lícito para um homem divorciar-se de sua mulher?
Como em outras ocasiões, os fariseus não se interessavam pela instituição do matrimônio, ou os direitos da mulher, nem sequer os do homem neste caso, mas por ver como Jesus responderia a uma pergunta tão habilmente capciosa. Se respondesse que não era lícito, opor-se-ia a importantes escolas rabínicas, e uma majoritária prática por parte de tantos judeus (começando pelo próprio Herodes, que vivia adulteramente com a mulher de seu irmão, cuja denúncia custou a vida do Batista). Se respondesse que era lícito, podiam reprová-lo por ir contra o Gênesis como projeto originário de Deus.
A resposta de Jesus foi clara: a verdade é a verdade, independentemente do que digam as pesquisas de opinião, a prática da maioria ou qualquer mostra estatística.
O proposto por Jesus a esse respeito não se trata de uma pedra no pescoço, mas de estar sempre começando, ou seja, estar sempre alimentando a chama que um dia fez nascer o amor entre duas pessoas. Nem o amor nem o ódio podem ser improvisados: a indiferença é fruto de um desprezo, de ter apagado lentamente o fogo do amor. O dia do casamento é o dia em que um homem e uma mulher começam a casar-se, repetindo-se cada dia, em cada circunstância, aquele "sim" que foi somente o ponto de partida. Pelo complexo que tantas vezes é ser fiel, perdoar, acolher, voltar a começar, Deus não assiste ao casamento como espectador, mas como quem contrai (é um sacramento): o matrimônio cristão é coisa de três, o homem, a mulher e Deus. O que é impossível tantas vezes para o casal humano, Deus - que também faz parte desse matrimônio - o faz possível.
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