"Poderíamos aqui meditar sobre como seria saudável também para a nossa sociedade atual se num dia as famílias permanecessem juntas, tornassem o lar como casa e como realização da comunhão no repouso de Deus" (Papa Bento XVI, Citação do livro Jesus de Nazaré, Trad. José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ, São Paulo: Ed. Planeta, 2007, p. 106)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

As famílias e a crise econômica

Um relatório revela a situação do casamento na América do Norte


Por Pe. John Flynn, L.C.

ROMA, quarta-feira, 20 de janeiro de 2010 (ZENIT.org)-. A atual crise econômica pode ter ocasionado um efeito positivo no matrimônio. O divórcio caiu 4% nos Estados Unidos, até 16,9 divórcios por cada 1.000 mulheres casadas, sendo que em anos anteriores havia subido de 16,4 em 2005 para 17,5 em 2007.

Esse é um dos pontos apresentados no relatório anual da situação matrimonial que foi publicada em dezembro no National Mirriage Project, da Universidade da Virgínia, junto com o Center for Marriage and Families of Institute for American Values.

O relatório, intitulado “A Situação de nossos matrimônios na América do Norte 2009: Dinheiro e Casamento”, também confirmou que os americanos estão atrasando o casamento ou renunciando a ele.

Parte dessa queda vem da tendência de adiar o primeiro casamento: a idade média do primeiro casamento passou de 20 anos para as mulheres e de 23 para o sexo masculino para cerca de 26 e 28, respectivamente, em 2007. Outro importante fator foi o aumento da coabitação.

Juntamente com os dados sobre casamentos e divórcios, o relatório continha uma série de ensaios que examinavam as implicações das últimas estatísticas. Considerando o impacto econômico da recessão nos casamentos, o professor de sociologia e diretor do National Marriage Project Bradford Wilcox observou que não é a primeira vez que ocorre uma correlação entre crise econômica e menos divórcios.

A mesma coisa ocorreu na Grande Depressão dos anos 30. O declínio do divórcio é em partes devido a fatores econômicos que simplesmente levam os casais a adiar o divórcio. Há, no entando, outro fator dinâmico mais durável segundo Wilcox. Nas últimas décadas, os americanos veem cada vez mais o casamento como uma união de parceiros ou parceiras de alma. Dessa forma, a intimidade emocional, a satisfação sexual e a felicidade individual passam a ser as aspirações primárias do casamento.

“A recessão nos recorda que o matrimônio é mais que uma relação emocional; o casamento é também uma sociedade econômica e uma rede de segurança social”, comenta Wilcox. Assim, caso ocorra desemprego, ou a possibilidade de duas fontes de renda incentiva muitos casais a ficarem juntos.

Desvantagens

As pressões econômicas também tem suas desvantagens, admitiu Wilcox. As dificuldades econômicas podem trazer consigo alcoolismo, depressão e um aumento de tensões no casamento, que em alguns casos levam ao divórcio. Em geral, a maioria dos casais casados não responderam à crise econômica escolhendo o divórcio.

Wilcox ainda adverte que o impacto da crise econômica poderia ser mais difícil para quem não tem estudo. O desemprego atingiu de forma dura as pessoas sem cursos acadêmicos. Na verdade, mais de 75% dos postos de trabalho perdidos foram concentrados neste grupo.

A informação fornecida em setembro de 2009 pela Oficina de Estatística Laboral mostrava que 4,9% das mulheres e 5% dos homens com formação acadêmica estavam desempregados. Em contraste, entre aqueles com somente ensino médio, 8,6% das mulheres e 11,1% dos homens estavam desempregados.

Wilcox segue citando sobre a pesquisa, que indicava que os maridos são claramente menos felizes nos casamentos e mais propícios a pensar no divórcio, quando suas esposas assumem a tarefa de trazer o pão para casa.

O aumento do desemprego entre as pessoas de classe trabalhadora poderia também ter impacto na situação matrimonial desse grupo sócio-econômico.

Os apêndices estatísticos do relatório proporcionam mais informação sobre essa preocupante tendência. As mulheres com educação universitária estão se casando com uma maior idade que o restante das mulheres. Não só isso, mas a taxa de divórcios entre estas mulheres está relativamente baixa e segue baixando.

“Na verdade, as mulheres universitárias, que uma vez foram líderes da revolução do divórcio, agora têm uma visão mais restrita do divórcio que as mulheres menos instruídas”, diz o relatório.

Por outro lado, entre as mulheres que adiam o casamento até depois dos 30 anos, as que são mais instruídas são as que têm mais probabilidade de ter filhos depois do casamento e não antes.

Essa tendência positiva é compensada pelo fato dos norte-americanos com formação universitária com famílias felizes e estáveis não terem filhos suficientes para substituir a si mesmos. Em 2004, 24% das mulheres de 40 a 44 anos com um diploma universitário não tinham filhos, em comparação com somente 15% daquelas que só tinham o ensino médio.

Reduzir as dívidas

Olhando para o lado positivo, Jeffrey Dew, professor adjunto na Universidade Estadual de Utah, afirmou que a recessão resultou que os norte-americanos coloquem fim à bagunça nos cartões de créditos.

Até dezembro de 2008, os consumidores dos Estados Unidos haviam alcançado os 988 milhões de dólares em dívidas de crédito, mas em 2009 esse número caiu para cerca de 90 milhões de dólares.

Dew citou investigações que indicam que a dívida dos consumidores tem um poderoso papel na erosão da vida matrimonial. Os estudos indicam que os casais recém-casados que fazem dívidas de consumo são menos felizes nos seus casamentos.

Em contrapartida, os casais recém-casados que pagaram suas dívidas de consumo que trouxeram para o casamento ou adquiriram depois de casados têm menos problemas na qualidade do casamento ao longo do tempo.

Um estudo indicou que se um dos cônjuges estava gastando dinheiro descontroladamente aumentava a probabilidade de divórcio em 45% tanto em homens quanto mulheres. Somente as causas de alcoolismo e consumo de drogas estão acima desse motivos anteriores, como causa de divórcios.

O estudo de Drew também fazia uma interessante menção a respeito da vida matrimonial. Os cônjuges materialistas sofrem mais com problemas matrimoniais. Estes casais baseiam muito sua felicidade e sua própria valorização no acúmulo de bens materiais. Assim, quando há problemas econômicos, sofrem vários conflitos em seu casamento.

Dica econômica

Alex Roberts, perito do Institute for Americans Values, citava dados do Ministério de Saúde e Assuntos Sociais que mostram que a atual crise revela, mais uma vez, que existem vantagens econômicas que os casais perdem quando se divorciam.

Roberts afirma que uma família de três membros - dois pais e um filho - precisa ter renda de U$ 18.311 para que seja considerada acima da linha da pobreza. Se os pais se mantiverem em famílias separadas, o total necessário para estar fora do patamar de pobreza é de U$ 25.401.

Dessa forma, se os pais se separam, deverão ganhar U$ 7.090 dólares a mais (um aumento de 39%) para evitar a pobreza. “O casamento consegue gerar enormes economias de escala - especialmente para aqueles com salários baixos”, observou Roberts.

O casamento tem também um efeito positivo na produção de riqueza. Roberts fazia referência às pesquisas dos economistas Joseph Lupton e James P. Smith.

Eles verificaram os salários e as finanças de 7.608 chefes de família entre 1984 e 1989, e descobriram que aqueles que estavam casados gozavam de um aumento em seus ingressos entre 50% e 100% e um aumento patromonial entre 400% e 600%.

Os lares dos que continuavam casados, em média, tinham o dobro do rendimento e quatro vezes mais de patrimônio que os dos divorciados ou daqueles que nunca se casaram.

O que está atrás dessa vantagem dos casados? Roberts dizia que isso se explica em parte pela tendência de se casar das pessoas com maior salário e poupança. Também mostrava que os homens casados trabalham mais e ganham mais que os solteiros.

Os pesquisadores, disse Roberts, descobriram que o casamento se conecta às regras e expectativas de responsabilidade e administração econômica que animam a um sábio uso dos recursos.

Esse efeito não ocorre nas uniões de fato, que é menos provável que atinja tantos recursos ou se sintam motivados a gastar de modo adequado ou poupar.

Não podemos reduzir os casamentos unicamente a um mero benefício econômico, admitiu Roberts, mas é certo que seria vantajoso para a sociedade que houvesse uma apreciação mais clara das vantagens econômicas do casamento. Um ponto ao qual os políticos deveriam prestar atenção.

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