Sendo hoje o aniversário do nascimento de Santa Teresa de Jesus, comemorado no dia 28 de março, partilhamos estes trechos do "Livro da Vida", onde ela relata aspectos importantes de sua família e de sua infância:
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"Ter pais virtuosos e tementes a Deus – se eu não fosse tão ruim – me bastaria, com o que o Senhor me favorecia, para ser boa.
Era meu pai homem de muita caridade para com os pobres e de compaixão para com os enfermos. Com os criados tinha tanta, que jamais se pôde conseguir que tivesse escravos, porque deles tinha grande dó. Estando uma vez em sua casa, uma escrava de um irmão seu, meu pai a tratava como a seus filhos. Ninguém jamais o viu jurar ou murmurar; era extraordinariamente honesto.
Minha mãe também tinha grandes virtudes e passou a vida com grandes enfermidades. Grandíssima honestidade. Com ser de muita formosura, jamais deu ocasião a que se entendesse que dela fazia caso porque, apesar de morrer aos trinta e três anos, seu traje já era como o de pessoa de muita idade. Muito pacífica e de grande entendimento. Foram
grandes os trabalhos pelos quais passou enquanto viveu. Morreu muito cristãmente.
Éramos três irmãs e nove irmãos. Por bondade de Deus, todos se pareceram com os pais, em ser virtuosos, menos eu, embora fosse a mais querida de meu pai. E, antes que eu começasse a ofender a Deus, parece que tinha alguma razão para isso, mas quando me recordo das boas inclinações que o Senhor me tinha dado, lastimo o mal que eu delas me soube aproveitar.
Eu dava esmola conforme podia; e podia pouco. Procurava solidão para rezar as minhas devoções que eram muitas, em especial o Rosário, do qual a minha mãe era muito devota e assim nos fazia sê-lo. Gostava muito, quando brincava, com outras crianças, de fazer mosteiros como se fôssemos freiras; e parece-me que desejava ser, embora não tanto como as outras coisas que já disse.
Recordo-me que, quando morreu minha mãe, fiquei da idade de doze anos, pouco menos. Quando comecei a perceber o que tinha perdido, fui, aflita, a uma imagem de Nossa Senhora e supliquei-Lhe, com muitas lágrimas, que fosse minha Mãe. Embora o fizesse com simplicidade, parece-me que me tem valido; porque conhecidamente tenho encontrado esta Virgem soberana, sempre que me tenho encomendado a Ela, e, enfim, fez-me Sua"
(Santa Teresa de Jesus, Livro da Vida)
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