MOMENTO:
“AMORIS LAETITIA”
Sobre o Amor
na Família
Capítulo IV
O Amor no
Matrimônio
“...esclarecendo
o significado das expressões do texto de I Cor 12, 4-7, tendo em vista uma
aplicação à existência concreta de cada família.”
Paciência
91. A primeira palavra usada é “macrothymei”. A sua tradução
não é simplesmente “suporta tudo”, porque esta idéia é expressa no final do
versículo 7. O sentido encontra-se na tradução grega do texto do Antigo
Testamento onde se diz que Deus é “lento para a ira” (cf. Nm 14,18; cf. Ex
34,6). Uma pessoa mostra-se paciente, quando não se deixa levar pelos impulsos
interiores e evita agredir. A paciência é uma qualidade do Deus da Aliança, que
convida a imitá-lo também na vida familiar. Os textos nos quais Paulo usa este
termo devem se lidos à luz do livro da Sabedoria (Cf. 11,23; 12,2.15-18): ao
mesmo tempo que se louva a moderação de Deus para dar tempo ao arrependimento,
insiste-se no seu poder que se manifesta quando atua com misericórdia. A
paciência de Deus é exercício da misericórdia
de Deus para com o pecador e manifesta o verdadeiro poder.
92. Ter paciência não é deixar que nos maltratem
permanentemente, nem tolerar agressões físicas, ou permitir que nos tratem como
objetos. O problema surge quando exigimos que as relações sejam idílicas, ou
que as pessoas sejam perfeitas, ou quando nos colocamos no centro esperando que
se cumpra unicamente a nossa vontade. Então tudo nos impacienta, tudo nos leva
a reagir com agressividade. Se não cultivarmos a paciência, sempre acharemos
desculpas para responder com ira, acabando por nos tornarmos pessoas que não
sabem conviver, antissociais incapazes de dominar os impulsos, e a família tornar-se-à um campo de batalha. Por isso, a Palavra de
Deus exorta: “Desapareça do meio de vós todo amargor e exaltação, toda ira e gritaria,
ultrajes e toda espécie de maldade” (Ef 4,31). Esta paciência reforça-se quando
reconheço que o outro, assim como é, também tem direito a viver comigo nesta terra.
Não importa se é um estorvo para mim, se altera os meus planos, se me incomoda
com o seu modo de ser ou com as suas idéias, se não é em tudo como eu esperava.
O amor possui sempre um sentido de profunda compaixão, que leva a aceitar o
outro como parte deste mundo, mesmo quando age de modo diferente do que eu
desejaria.
Fonte: Documentos Pontifícios - 24
Exortação Apostólica Pós-Sinodal, Papa Francisco
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