O Castelo Interior para Santa Teresa é “entrar dentro de si mesmo” em
busca do “aposento do Rei”, no mais profundo da alma, onde está Cristo. A graça
de Deus nos impulsiona em direção ao centro. Deus deseja comunicar-se com a
pessoa profundamente e para que isto ocorra existe a necessidade da resposta
humana, uma abertura ao chamado de Deus.
“No
caminho que vai da entrada do Castelo Interior até os aposentos do Rei, a graça
vai transformando a pessoa profundamente, até o encontro com Deus e a comunhão
pessoal com Cristo no matrimônio espiritual, inaugurando concomitantemente uma
humanidade transformada.” Lúcia Pedrosa-Pádua
Então
através de uma linguagem simbólica, Santa Teresa vai nos ensinar, todo esse
percurso, essa caminhada para dentro de nós mesmos, e com um único objetivo.
Encontrar o Senhor no mais profundo de nós mesmos. A porta para se entrar neste
castelo, que somos nós mesmos, é a oração, que como nos ensina Santa Teresa é o
trato de amizade com aquele que sabemos que nos ama.
Se cada
pessoa tem o seu próprio castelo interior para adentrar, iniciando pelo
autoconhecimento até chegar ao encontro com o Rei, então como perceber o
castelo interior na vida matrimonial? Os cônjuges são chamados à santificação
não apesar do casamento, mas no e pelo casamento. Não há necessidade para as
pessoas casadas de procurar outro caminho para a santificação, que não o seu
amor penetrado e transfigurado pelo amor divino. Este amor não os fecha sobre
si mesmos, fortalece para a missão que é especificamente sua unidos pelo
Sacramento do Matrimônio, que os torna uma só carne e com uma só vocação. O desejo
de seguir a Cristo os une e então juntos vão trilhar este caminho.
Entra-se em si mesmo, cada um buscando conhecer-se com
intuito de melhorar como pessoa, sempre com os olhos fixos no Amado, mas também
se entra no castelo formado por estas duas almas desejosas de juntas, unidas
pelo matrimônio, chegar à união com Deus.
“O casal esforçando-se para
aprender, a exemplo de Cristo, servir a Deus por toda a sua vida e em pleno
mundo...” Pe Caffarel.
“Dois sequiosos de Deus”, dois buscadores cuja inteligência e
coração são ávidos de conhecer e de encontrar Deus, no mais profundo de seu
ser, de sua alma, ou seja, nos aposentos reais como nos diz Santa Teresa. Dessa
maneira é que se pode falar de castelo interior na vida matrimonial. Os dois buscam conhecer-se a si mesmos e
adequar esse conhecimento de si ao conhecimento, amor e respeito ao outro cônjuge. Estas duas almas que caminham
juntas, estreitadas pelo laço de matrimônio em direção aos aposentos do Rei,
vivem todas as dificuldades, tempos ruins, tristezas, mas também, tempos bons,
alegrias e tudo que faz parte da vida em comum ao casal. Na realidade cabe ao
casal envolver toda a vida familiar nesta busca santa.
Primeiras Moradas
Nós somos o castelo
onde Deus mora
“O castelo interior somos nós, é dentro de nós
que devemos entrar, não com violência, mas com ternura e delicadeza, não pelas
janelas, mas pela porta central que é a oração”. Para esta viagem devemos nos armar de muita
determinação, humildade e obediência.
Da mesma forma que a pessoa nas
primeiras moradas é chamada a conhecer-se e entrar no castelo cuja porta é
oração, os cônjuges são convidados a percorrer esse caminho de conhecimento
deles mesmos como indivíduos e como casal. Para o casal, que deseja caminhar
juntos, a porta também será a oração. Os momentos que sentam para rezar juntos,
dialogar, verificar as dificuldades de cada um e como lidar com isso. Ao casar,
trazemos para o relacionamento nossos próprios problemas e questões pessoais, a
bagagem de cada um se junta, e necessitamos como casal, aprender a lidar com o
que faz parte de cada um. É justamente neste caminho de oração, diálogo e
autoconhecimento que o casal adentra no castelo.
Não é pequena lástima e confusão que, por nossa culpa, não nos entendamos
a nós mesmos nem saibamos quem somos. Não seria grande ignorância filhas minhas,
que se perguntasse a uma pessoa quem é e ela não se conhecesse nem soubesse
quem foi seu pai, sua mãe ou a terra onde nasceu? 1M 1,2
“Quando duas
pessoas se unem pelo casamento, a maior parte de seus problemas provém de
coisas em suas bagagens que conflitam entre si. Portanto, conhecer a outra
pessoa profundamente e descobrir as suas raízes é fundamental para compreender
o porquê deste ou daquele comportamento. E mais: conhecer a si mesmo é
igualmente essencial, pois isso lhe ajudará a desenvolver maneiras de lidar com
suas próprias raízes e assim resolver as diferenças e conflitos.” Casamento
Blindado
Como nos ensina Santa Teresa, muitas
pessoas vivem sempre só em torno do castelo e não se interessam de entrar nele,
não tem ideia do que existe nesta maravilhosa mansão e nem quem nela habita.
Então na vida matrimonial, quando nos
propomos a adentrar neste castelo interior, quando buscamos nos conhecer como
pessoa e como casal, através da porta que é a oração, precisamos considerar
tudo com muito zelo e seguir os conselhos de santa madre: para ser oração –
vida de oração é necessária a reflexão e vamos encontrar esta oportunidade na
Oração Conjugal.
Nestes primeiros aposentos ainda acabam
entrando muitas coisas que não são boas e assim, ainda não se pode enxergar
toda a beleza do castelo.
Mas Santa Teresa nos diz:
... muito fazem em já ter entrado.
É muito bom, é sumamente bom entrar no primeiro aposento do conhecimento
próprio, antes de voar aos outros. É este o caminho.
Segundas Moradas
Grande importância da Perseverança
Teresa nos fala da grande importância
que a pessoa não abandone o caminho começado e como é também de extrema
importância lidar com aqueles que se empenham nas mesmas coisas, não só dos que
se encontram nas mesmas moradas, como aqueles que já se aprofundaram mais.
Então o casal tem um ao outro, e também podemos perceber que temos uns aos
outros, casais empenhados em superar todas as dificuldades e seguir rumo aos
aposentos do Rei.
“Todo o empenho de quem começa a ter oração... deve ser trabalhar,
determinar-se e dispor-se, com toda a diligência possível, a amoldar sua
vontade a vontade de Deus." 2M 1,8
Nestas segundas moradas santa Teresa
nos fala que aqui já se encontram pessoas que já começaram a ter oração e que
compreenderam o valor de caminhar sempre mais no progresso espiritual e não
parando nas primeiras moradas. Mas são ainda almas que não têm a firmeza
necessária para ir adiante definitivamente, ainda não abandonaram as ocasiões
de pecado, mas já percebem e de vez em quando fogem, o que é grande
misericórdia de Deus.
Estas almas começam a perceber melhor
os chamados do Senhor, e estes podem ser através de homilias, livros,
acontecimentos em nossa vida, pessoas... nosso cônjuge. Ainda muito mergulhados
nas coisas do mundo, ora podem cair e ora se levantam. O Senhor não deixa de
chamar. É importante não desanimar e continuar na oração. Aqui é um ponto
bastante importante para nós casais que estejamos bem unidos nessa empreitada.
Sua Majestade pode aguardar muitos dias e até anos especialmente quando
vê a perseverança e bons desejos.
Pontos
concretos de esforço dos dois:
· Perceber
o que mais necessitamos nesse caminho
· Cuidado
com a queda e a recaída
· Dever
de sentar-se para dialogar, orar juntos
· Seja o
casal vigilante na construção de sua casa
É uma etapa de luta, buscar superar a
situação de divisão psicológica de querer ir pra frente, mas sofrer com a
tentação de olhar para trás.
Teresa dirá
que esta etapa é de luta porque o pecado ainda espreita a alma. São as moradas
das provas do inimigo. Aqui persistem os dinamismos de desordem, introduzidos
no castelo pela vida vivida fora dele, são as serpentes, víboras... E outros
animais venenosos, que no entender de Teresa são as forças de desordens
introduzidas no castelo pelo pecado. Teresa propõe três frentes de combate:
1. O
interior - combater a desordem conflitiva dentro de si mesmo. Quem entra nestas
segundas moradas, se encontra estranhamente incômodo no próprio castelo.
2. O
exterior - quem padeceu o mal do pecado, colocando seu ser interior fora de si,
agora sofre o chamado insistente de todas as coisas e pessoas que lhe
dominaram. Terá de enfrentar tudo isso para readquirir a liberdade e o domínio
de si.
3. O
transcendente - Os demônios, dirá Teresa, como São Paulo. Ela crê que na luta
que combate o cristão intervêm forças misteriosas.
Como pessoas e casais que somos, seremos muito
tentados a comodidades, soluções rápidas e mais fáceis para os problemas da
vida de casal e familiar. Mas necessitamos nos empenhar nesta busca como casal
cristão de viver realmente o Evangelho, a vocação ao matrimônio a que fomos
chamados.
Empenho do casal para aprender como, a exemplo
de Cristo, servir a Deus por toda a vida e em pleno mundo. “Então olhos fixos
em Jesus”.
Terceiras Moradas
Andar com Temor - Humildade é o que precisamos
Mas bem sabe Sua Majestade que só posso confiar em Sua misericórdia; e já
que não posso deixar de ser quem tenho sido não tenho outro remédio senão
apegar-me a ela e confiar nos méritos de Seu Filho e da Virgem, sua Mãe, cujo
hábito indignamente envergo. 3M 1,3
Do livro As moradas do Castelo
interior: Um passo a mais dentro do nosso castelo... Chegamos às terceiras
moradas. Travessia que é um período de prova. Se nas segundas moradas fomos
provados pelo inimigo, aqui quem nos prova é o amigo... Onde o orante é
submetido a misteriosas provas de autenticidade do seu amor por Jesus... O tipo
bíblico que Teresa vai recorrer aqui para mostrar quem é o homem das terceiras
moradas é o jovem do Evangelho...
Excelente disposição é para a alma perseverar e não
voltar ao contato com os parasitas dos primeiros aposentos, nem mesmo pelo
desejo...
E ela nos pede para guardar bem este
aviso de se considerar servo inútil !
De exercitar sempre a virtude da
Humildade e nos lembra de que muitos não vão adiante por falta desta virtude.
Para nós casais: Com determinação os
esposos buscam viver uma vida santa, enfrentando as dificuldades, confiando
sempre na Misericórdia de Deus. Paulatinamente vão acontecendo os processos de
purificação e crescimento. É um trabalho
lento, perseverante e corajoso.
Quartas Moradas
Para aproveitar
neste caminho e subir às moradas desejadas, o essencial não é pensar muito
– é amar muito
Como estas moradas já se encontram mais perto de onde está o Rei, é grande
a sua formosura... Parece razoável pensar que, para chegarmos a estas moradas,
deveremos ter vivido nas outras muito tempo. 4M
1,2
Nestas moradas também vai nos falar
que as distrações não são impedimento para a nossa oração.
E também que nestas moradas poucas
vezes entram os répteis peçonhentos e se o fazem, não causam tanto prejuízo.
A vontade está mergulhada em Deus.
Entre oração e vida não deve existir
separação, mas busca de união.
Do livro As
moradas do Castelo interior:
As quartas
moradas equivalem à segunda água com que se rega o horto da alma... aqui
escutaremos a santa falando de recolhimento e quietude, mas essas novas formas
de oração que experimentamos irão transbordar em toda a nossa vida, como
exemplo, através de uma conduta fraterna.
Sobre Luís e
Zélia: De sua vida de
oração, de sua presença sob o olhar de Deus, resulta uma evidência: a
necessidade de ascese. “A alma colocada sob a luz de Deus descobre as
exigências da pureza divina, diz Frei Maria Eugênio”. Sua ascese tomará a forma
que lhes oferece a vida litúrgica e os acontecimentos que se apresentam ao
longo da jornada... A vida dos dois se tornou um diálogo de amor com Aquele
de quem se sabem filhos queridos.
Quintas Moradas
“Senhor meu, enviai
do céu luz para que eu possa esclarecer de algum modo estas Vossas servas”
A alma nas quintas morada encontra-se
no campo místico. Entrou no castelo, passou pelas lutas, superou as provações e
está aberta à ação gratuita de Deus. Ele mesmo sai ao encontro da alma para
juntá-la e uni-la consigo em uma primeira experiência de união. Do livro As moradas do Castelo Interior
Santa Teresa vai nos explicar nesta
etapa, a impossibilidade de chegarmos à oração de união por nossas próprias
forças. A união é obra exclusiva de Deus. Porém Ele quer a nossa disposição para
recebê-la.
Para explicar a oração de união Santa
Teresa vai se utilizar da comparação com o bicho da seda.
Sobre o casal
Luís e Zélia:
“Com efeito,
Deus é o primeiro em seus corações e em suas vidas. Luís e Zélia têm elevado
nível de consciência da grandeza do amor divino – que é nossa origem, a única
realidade verdadeira e nosso fim, o que os Martins conservam constantemente no
espírito. Há um texto que Zélia sabia de cor e recita amiúde para as filhas: “Oh!
Falai-me dos mistérios desse mundo que meus desejos pressentem, no seio do qual
minha alma, cansada das sombras da terra, anseia por mergulhar. Falai-me
daquele que o fez e o encheu de si mesmo, o único que pode preencher o imenso
vazio que abriu em mim...”
Sextas Moradas
Ó Formosura que
excedeis...
“Com o favor do Espírito Santo, falemos,
pois, das sextas moradas, onde a alma, já ferida pelo amor do Esposo, procura
mais ocasiões de estar a sós e deixar – de acordo com seu estado – tudo quanto
possa atrapalhar essa solidão.”
“Na Bíblia, várias vezes vemos
comparações de Deus como um fogo”. Santa Teresa está convencida de que para a
alma receber as joias que lhe serão dadas na vida mística, é indispensável uma
lavagem profunda do espírito, desapegando-o de todo criado.
Teresa deixa para seus leitores uma
mensagem decisiva para a vida espiritual: a vida do cristão deve estar
centralizada de forma radical na humanidade de Cristo.
“Ainda que possam fruir de algo de bom
neste mundo, Luís e Zélia situam no Céu essa felicidade em plenitude, de modo a
manter o olhar incessantemente voltado para lá. A própria Teresinha confirmará isso:
O Céu, para o qual tendiam todos os seus desejos e ações...” Dessa confiança na
bondade de Deus e em sua Providência decorre seu abandono à divina vontade.
Luís e Zélia vão progressivamente colocar suas vidas nas mãos do Senhor e
deixar que ele lhes indique a direção.”
Sétimas Moradas
Alcancemos o alvo
Centro do
Castelo, centro da alma, centro de si mesmo.
O tema
destes capítulos será a santidade de vida. Teresa nos apresentará a santidade
como estágio final, plenitude de vida nova.
Em sua
dimensão antropológica, a santidade promove a plenitude do desenvolvimento
humano, a maturidade do “homem novo”.
Um dos grandes efeitos produzidos na
alma que é conduzida por Deus a esta morada, é o esquecimento de si. Aqui ela
só deseja contentar a Deus. Eis a finalidade deste matrimônio espiritual.
“Desejemos
e pratiquemos a oração não a fim de nos satisfazer, mas para termos força no
serviço de Deus”. 7M 4, 12
Marta e Maria
Teresa nos diz que as duas devem
andar juntas, pois contemplação e oração conduzem ao serviço que devemos
prestar ao Senhor.
Crede-me: Marta e Maria sempre hão de andar juntas, a fim de hospedar o
Senhor. É preciso trazê-lo a todo instante consigo e não o receber mal,
deixando-o sem alimento. Como Maria lhe daria a refeição, sempre assentada a
seus pés, se sua irmã não a ajudasse? O alimento para o Senhor é que, por todos
os modos ao nosso alcance, ganhemos almas que se salvem e eternamente louvem a
Deus. 7M 4,12
E nos ensina Santa Teresa:
“ Só vos digo uma coisa: não queirais
ajudar a todo mundo. Contentai-vos em ajudar aqueles que estão em vossa
companhia. A vossa obrigação para com eles é maior. Desse modo, a vossa obra
será tanto mais meritória” 7M 4,14
Conclusão: Qual o
nosso caminho como casais cristãos OCDS
·
Ponto
de Partida - A entrada no castelo interior
·
Ponto
de chegada – Aposentos do Rei
·
Exigência
– Perseverança e determinação na vida de oração em nosso matrimônio
·
Implicações
– Nosso testemunho no mundo
·
Itinerário
– O caminho ensinado por Teresa e João da Cruz, em busca do Amado
Bibliografia
·
Livro
das Moradas. Leitura orante e pastoral. Edições Loyola
·
Luís
e Zélia. Hélène Mongin
·
Santa
Teresa de Jesus – Mística e Humanização. Lúcia Pedrosa-Pádua
·
A
Missão do Casal Cristão. Henri Caffarel
·
Casamento
Blindado. Renato & Cristiane Cardoso
·
As
Moradas do Castelo Interior – De Ana Geórgia Bezerra de Menezes e Frei Patrício
Material
preparado para o II
Congresso de Casais OCDS, por Gerardo Fernandes e Mônica Dodt, membros da
Comunidade Rainha do Carmelo – Fortaleza-Ceará.
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