Carlos Eduardo da Eucaristia[1],
OCDS
Santa Elisabeth da Trindade foi canonizada pelo Papa Francisco em
2016, mas tudo começou em uma família, a partir do amor de um casal. O
nascimento de Santa Elisabeth foi o fruto do amor de José Francisco Catez e
Maria Rolland. Nesse artigo iremos contar um pouco sobre a história de amor
desse casal, que se dedicou tanto para criar suas duas filhas, frutificando
para o bem do povo de Deus. Também iremos partilhar um pouco do ambiente
familiar de Santa Elisabeth da Trindade, especialmente nos seus relacionamentos
com sua mãe e sua irmã. No final, rezaremos juntos pelas famílias.
Quem foi José Francisco Catez, pai
de Santa Elisabeth da Trindade?
O
pai de Santa Elisabeth nasceu em 1832, em um município no norte da França. José
Francisco Catez era filho de um senhor muito simples, religioso e trabalhador.
Infelizmente, o menino, que viria a ser o pai de Santa Elisabeth, ficou órfão
aos 8 anos de idade. A criação de José Catez ficou sob responsabilidade da sua
mãe, senhora Fideline, que dependia do apoio econômico dos seus filhos mais
velhos. Neste período do século XIX, a França passava por uma dura crise
econômica e a família Catez sofreu bastante.
Com
20 anos, em 1853, o jovem José mudou-se para a cidade de Arrás para se alistar
no exército imperial da França. Ele precisou se esforçar muito e passar por
diversas dificuldades para poder progredir na carreira militar. Ele serviu na
Argélia e lutou na Guerra Franco-Prussiana. Lamentavelmente, o jovem militar,
que viria a ser o pai de Santa Elisabeth, foi preso pelos prussianos durante
sete meses. Na sequência, José Catez recebeu promoções, chegando ao cargo de
capitão aos 43 anos de idade, contando mais de 20 de anos de serviço militar à
França, que já havia se tornado, novamente, uma república.
O capitão Catez comandava um esquadrão, de maneira ativa e
enérgica. Sua situação sócio-econômica atingiu uma condição que lhe permitia
pensar em formar uma família. Ele foi transferido para o sul da França, o que
foi providencial para que ele conhecesse sua futura esposa, a jovem Maria
Emília, que vivia nesta mesma região.
Quem foi Maria Emília
Rolland, mãe de Santa Elisabeth da Trindade?
Maria
Emília Rolland nasceu em uma família abastada e não precisou sofrer as
dificuldades e necessidades que marcaram o início da vida de seu marido. Ela
era filha de Raimundo Rolland e Josefina Klein. Este outro avô de Santa
Elisabeth, senhor Raimundo, também era um militar, mas era nascido no sul da
França. Ele começou a sua carreira no exército aos 20 anos e, em 1851,
conseguiu chegar ao cargo de capitão, como o senhor José Catez conseguiria
décadas depois. A esposa do capitão Raimundo era uma filha única, de
temperamento enérgico.
Os jovens Raimundo e Josefina casaram-se na cidade de Lunéville,
no nordeste da França. Foi
justamente em Lunéville, em 1846, que nasceu a mãe da Santa Elisabeth da
Trindade. A pequena Maria Emília sentia a falta do seu pai, capitão Rolland,
quando ele se ausentava para períodos mais intensos do serviço militar,
especialmente no período do conflito na Argélia e na campanha da Itália. A jovem Maria também sofreu muito ao ser mordida por uma cobra, o
que afetou sua saúde, deixando-a com uma aparência mais envelhecida.
Antes de conhecer José Catez, a jovem Maria
Rolland apaixonou-se por um outro jovem militar e chegou a tornar-se noiva.
Contudo, este seu primeiro noivo morreu na Guerra
Franco-Prussiana, em 1870. Maria ficou muito abalada com a perda do seu primeiro
grande amor. Questionou até mesmo a sua vocação: por que será que sofreu essa
perda? Será que não deveria se casar? Seria melhor tornar-se religiosa?
Francisco Sancho Fermín e Rómulo Cuartas Lodoño comentaram sobre a
importância de um livro de Santa Teresa de Jesus na formação espiritual de
Maria Rolland. Esta jovem conheceu a obra Caminho
de Perfeição e gostava de copiar alguns trechos mais marcantes. Este amor à
espiritualidade carmelita seria transmitido para sua filha, Santa Elisabeth da
Trindade.
A
Família aumentou: os nascimentos de Santa Elisabeth da Trindade e sua irmã
O tempo passou e a jovem Maria conheceu José Catez, que era quase
14 anos mais velho. Eles se apaixonaram e, finalmente, se casaram numa
cerimônia presidida pelo padre Angles, na cidade de Santo Hilário, na região
onde o capitão trabalhava e na qual o casal se conheceu. Mesmo depois da
viuvez, Maria, assumindo o sobrenome Catez, continuou tendo um carinho especial
com esse local e viajaria outras vezes para essa região com suas duas filhas. O
padre Angles permaneceu amigo da família, mantendo uma afinidade espiritual
profunda com Santa Elisabeth da Trindade.
A primeira filha do casal José e Maria Catez foi justamente Santa
Elisabeth, que nasceu no dia 18 de julho de 1880, em um acampamento militar
onde seu pai estava trabalhando. No ano seguinte, o capitão Catez mudou-se com
a família para Auxone, onde nasceria a segunda filha, Margarida, em 1882. A
última transferência do capitão José Catez foi direcionada para a cidade de
Dijon. O pai de Santa Elisabeth pôde manter um bom padrão de vida para sua
família, em Dijon. O capitão
finalmente se aposentou, em 1885, contando com a estima de seus colegas
militares, em virtude da sua retidão, lealdade e bom coração.
Santa Elisabeth da Trindade,
órfã de pai
No ano em que nasceu a
segunda filha do casal, Margarida, morreu a dona Josefina, mãe de Maria e avó
daquelas crianças. O viúvo, senhor Raimundo, foi morar com a filha, o genro e
as netas. As crianças, Elisabeth e Margarida, conviveram com seu avô até o seu
falecimento, em 1887. No mesmo ano, a família teve outra grande tristeza, com a
morte do papai de Santa Elisabeth da Trindade. Como foi o impacto de perder o
pai aos 7 anos de idade? Dez anos depois, a adolescente reviu esse fato doloroso
escrevendo uma poesia que expressou a profundidade do sentimento:
“Ó
pai, há dez anos,
Feria-te
a cruel morte!
Deixavas
tua viúva desolada,
Tuas
filhas tão jovens ainda;
E tua
alma deixava a terra,
Lugar
de exílio e de misérias,
Para
voltar ao seio de Deus,
Na bela cidade dos Céus”
(Santa Elisabeth da
Trindade, poesia 37).
Sobre
a Convivência de Santa Elisabeth da Trindade com a sua Família
As
duas irmãs, Elisabeth e Margarida, possuíam temperamentos diferentes, mas eram
amigas e companheiras nos estudos, na música e nas brincadeiras. Se Margarida
mostrava um temperamento sereno e calmo, Elisabeth era o oposto, chegando a ser
comparada com um “diabinho”, pois
mostrava um comportamento até violento, às vezes. Como é que Elizabeth mudou
suas atitudes? Pelo Amor a Deus e à sua mãe. Um fato muito marcante nessa
“conversão” de Santa Elisabeth da Trindade foi a sua Primeira Eucaristia, em
1891, quando recebeu uma Graça que a marcou durante toda a sua vida. A partir
daí, ela foi se entregando cada vez mais Jesus, com generosidade e humildade.
A
senhora Maria Catez manteve-se muito ligada espiritualmente com as filhas,
especialmente com Santa Elisabeth da Trindade. Apesar do sofrimento de ver a
filha entrar no Carmelo, soube oferecer esse sacrifício a Deus, espelhando-se
em outra viúva, a Santíssima Virgem, aos pés da Cruz de Nosso Senhor Jesus
Cristo (Jo 19, 25-27). Assim como a Virgem Maria ofereceu seu filho
crucificado, a senhora Catez ofereceu sua filha que ingressava na clausura
carmelita, em 1901.
No
ano seguinte, a senhora Catez teve a alegria de ver o casamento de sua filha
mais nova, Margarida, com o senhor Jorge Chevignard. Margarida teve nove
filhos, sendo que as duas primeiras crianças receberam carinhos e orações
especiais de Santa Elisabeth da Trindade: Odete, nascida em 1905, e a
primogênita, que recebeu o nome Elisabeth em homenagem à sua tia carmelita.
Observe-se que, dos nove sobrinhos de Santa Elisabeth, um foi sacerdote e
quatro mulheres se consagraram a Deus, incluindo a primogênita.
Santa
Elisabeth sentia uma amizade muito grande com sua irmã Margarida, o que foi se
transformando em uma espécie de comunhão espiritual, que se manifestou no
escrito “Céu na Fé”, escrito durante
a doença final daquela jovem irmã carmelita, em 1906, alguns meses antes de
morrer. A monja carmelita queria fazer uma “surpresa” para sua irmã, que apenas
ficou sabendo disso em 1907. Santa Elisabeth sentia-se a “mãezinha” espiritual
de sua irmã Margarida e deixou esses escritos como uma espécie de alimento para
a caminhada dela, beneficiando, posteriormente, todo o povo de Deus.
Também
era grande o amor de Santa Elisabeth da Trindade pela sua mãe. A senhora Catez
sofria com a clausura da filha, que morava na mesma cidade. Mesmo assim, mãe e filhas se amavam de
coração. A irmã Elisabeth da Trindade acompanhava, do Carmelo, cada sofrimento
de sua mãe, até mesmo as doenças de estômago. A senhora Catez sofreu muito com
a doença e a morte de Santa Elisabeth. A passagem da filha abalou profundamente
a mãe, que modificou bastante a sua vida interior. Oito anos depois, em 1914, a
senhora Catez também iria falecer, por causa de uma parada cardíaca. Por sua
vez, a senhora Margarida, irmã de Santa Elisabeth, faleceu, já viúva, aos 71
anos de idade, em 1954.
Oração final pelas
Famílias
Como é bonito ver uma
família que se ama, produzindo frutos de fé esperança. Santa Elisabeth da
Trindade não nasceu do acaso, mas nasceu do amor de um casal unido pelo
sacramento do matrimônio. Vamos terminar esse artigo pedindo a intercessão
dessa santa carmelita em favor de todas as famílias. Que Deus olhe com
Misericórdia infinita para os lares, curando feridas e distribuindo bênçãos: Santa
Elisabeth da Trindade, rogai por nós!
Referências
CARMEL DE DIJON. Elisabeth
de la Trinité: Vie. Dijon: Carmel de Flavignerot, 2016c. Disponível em: http://elisabeth-dijon.org/vie.html. Acesso em: 14 dez. 2016.
ELISABETE DA TRINDADE, Irmã Carmelita Descalça. Obras Completas. Tradução autêntica dos
escritos originais por Attílio Cancin. Petrópolis: Vozes, 1993.
FERMÍN, Francisco J.
Sancho; LODOÑO, Rómulo Cuartas. 100 fichas sobre “Elisabete da Trindade”:
para aprender e ensinar. Burgos: Editorial Monte Carmelo, 2006.
SCIADINI, Frei Patrício. Memórias da Beata Elisabeth da Trindade. São Paulo: LTr Editora,
2006, 216p.
VARGAS, Carlos Eduardo de C. A Misericórdia na Espiritualidade de Santa
Elisabeth da Trindade. Prefácio de Frei Patrício Sciadini. São Paulo: LTr
Editora, 2017.
[1] Carlos
Vargas é presidente da Comunidade Santa Teresa de Jesus (Curitiba – Paraná) e
conselheiro da Província Nossa Senhora do Carmo. Escreveu o livro “A
Misericórdia na Espiritualidade de Santa Elisabeth da Trindade” (LTr, São
Paulo, 2017).
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