O mundo só mudará com “familias
santas”, como a de Santa Teresinha
Reflexões
de Frei Patrício Sciadini, ocd, superior carmelita no Egito
Por Redação
Cairo, 18 de Outubro de 2015 (ZENIT.org)
Os olhos de todos os cristãos e
não cristãos estão nestes dias fixos em Roma, onde se realiza a segunda etapa
do Sínodo da Família. Centenas de bispos, de especialistas da pastoral
familiar, reunidos buscam dar uma resposta para “reconstruir a família
humana” como lugar de alegria, de amor, de esperança, onde se constrói o
futuro de amanhã. A família “está doente”, de uma enfermidade que foi provocada
um pouco intencionalmente, pelos meios de comunicação, que colocam na
mesa das famílias de tudo: coisas boas e ruins, alimentos que saciam e que
contaminam e nem sempre os comensais têm a capacidade de reconhecer
os alimentos contaminados. A família tem também se fragilizado por
outras causas ideológicas; em vista de solucionar os problemas de
desentendimentos e de conflitos se tem visto pessoas da família
“fazerem as próprias malas” e irem para outros lugares, na esperança de
criar uma nova família, que não raramente, depois de um pouco de tempo,
também começa a viver em tensões.
A igreja, mãe, mestra e
companheira de caminho, está tomando uma atitude muito séria, acertada:
colocar-se na escuta de todos. O Sínodo é o grande espaço da escuta de
todas as vozes do mundo contemporâneo. Questionários preparados corajosamente
foram enviados pelo mundo inteiro, seja a pessoas de fé e a pessoas
sem fé. A todos a Igreja pediu humildemente uma palavra de luz. Agora,
juntos, se reflete sobre as repostas, para depois dar uma “resposta”
oficial do caminho a seguir, para “reconstruir a família”, oferecer
remédios que curam, cirurgia dolorosa, terapias longas,
caminhos que não serão fáceis. Escutaremos gritos que chegam de todos os
lados, de pessoas que cantam a vitória e de pessoas que
choram por derrotas. Mas no amor não existe nem vitória e nem derrota,
existe só o amor que ama, perdoa, é misericordioso e caminha de mãos
dadas para abrir novos caminhos de luz e de esperança. Sem dúvida soam
importantíssimas as vozes da sociologia, da psicologia, da
pastoral, de todas as ciências humanas. A missão da Igreja é buscar
caminhos e luz, venham de onde vierem. Não é condenar, é amar,
compreender e anunciar corajosamente a Verdade que liberta. Não a verdade
anônima, obscura, ambígua, de superficialidade; a verdade que tem um nome e se
chama JESUS. Ele é caminho, luz, verdade e vida.
Em todo este vai e vem de
idéias, de confrontos, de discórdias e quem sabe de desuniões, a Igreja
durante este Sínodo, tomou uma das decisões mais acertadas, mais luminosas para
dar uma reposta que não pode ser contestada sobre o caminho a seguir, para
reconstruir a família: a canonização dos pais de santa Teresa do Menino Jesus.
Que significa isto? Que
mensagem a Igreja quer dar com este gesto profético e testemunhal de um
casal santo e de uma família santa?
Diante da canonização, isto é,
da proclamação pela Igreja como santos os pais de santa Teresinha, Luiz
Martin e Zélia Guerin, surge uma pergunta que nos angustia a todos nós,
especialmente aos casais do mundo inteiro: mas como eles fizeram
para chegar à santidade? A resposta simples é a mesma, que vale para todas as épocas
e tempos: VIVENDO O EVANGELHO NA VIDA DE CADA DIA. Hoje se recorre,
para “desculpar” a nossa mediocridade, a tantas desculpas que servem só
para nos confundir e não nos dão uma clareza de vida: os tempos são
diferentes, o mundo não é o mesmo, os filhos não são iguais, a
sociedade é culpada e por aí vai... jamais porém poderá existir em todos
os tempos e lugares, alguém que seja proclamado santo que não tenha
vivido o Evangelho.
Lendo a vida da família
Martin nos deparamos com dificuldades que têm o sabor e a cor de toda
história, dificuldades materiais. Houve momentos materialmente difíceis para a
família Martin, em que o trabalho de “relojoeiro” de Luiz não era
suficiente e o peso das despesas caía sobre as costas de Zélia, que
administrava com competência a pequena fábrica de bordado.
Dificuldades de caráter, Zélia era dinâmica, pronta, ágil, de
grande intuição; já Luiz era um homem pacato, tranqüilo, que
gostava mais de viajar e de ficar em casa, preferia ficar lendo os seus livros
e pensando que trabalhar na relojoaria. Dificuldades na orientação
educativa das filhas: Zélia era mais determinada e amorosa, mas mais dura;
Luiz era bondoso, gostava de brincar com as filhas, contar
histórias ou levar as filhas à igreja. Mas havia pontos em comum: solidez
da fé, o amor à Igreja, a participação aos sacramentos, uma educação cristã de
verdade. O Evangelho e a doutrina da Igreja eram seguidos “à risca”;
a família era uma pequena igreja, havia o amor aos pobres, se ensinava
não com as palavras, mas sim com a vida. Uma família onde a chama do testemunho
ardia sem se apagar. Teresinha define seus pais com uma pincelada que é
magistral: “Deus me deu pais mais dignos do Céu que da Terra”.
O gesto da Igreja de proclamar
santos, durante o Sínodo da Família, os pais de Santa Teresinha será sem dúvida
a mais bela intervenção pública de que só famílias santas poderão
transformar o mundo, a sociedade e a Igreja. Sem as famílias santas
encontraremos “paliativos”, mas a família irá continuar “enferma”,
incapaz de superar as dificuldades que são
inevitáveis.Só o amor nos dá possibilidade, que embora as dificuldades, os
caracteres diferentes, os conflitos, podemos nos amar, perdoar e viver a
alegria de estar juntos. Penso de continuar a escrever ainda sobre os
pais de Santa Teresinha proximamente.
Fonte:http://www.zenit.org/pt/articles/o-mundo-so-mudara-com-familias-santas-como-a-de-santa-teresinha
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