O
Relatório Final do Sínodo sobre a família já é um documento de orientação para
toda a Igreja?
No que concerne a situação de alguns de nossos irmãos e irmãs
divorciados recasados, com quem caminhamos e conversamos pelo Brasil afora, é
necessário redobrar a prudência no que concerne as interpretações do texto
publicado, pois o texto sequer menciona o acesso à Eucaristia e ao Sacramento
da Confissão.
Roma, (ZENIT.org) Pe. Rafael Fornasier
O Papa Francisco, em seu discurso de conclusão do Sínodo dos
Bispos sobre “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo
contemporâneo” afirmou que “certamente não significa que esgotamos todos os
temas inerentes à família” e que não “encontramos soluções exaustivas para
todas as dificuldades e dúvidas que desafiam e ameaçam a família” na
atualidade, mas que, com coragem, dedicação e sem medo de afrontar os desafios
postos às famílias e na família, “procuramos iluminá-los com a luz do
Evangelho, da tradição e da história bimilenária da Igreja, infundindo neles a
alegria da esperança”, sem cair em repetições simplistas.
Com efeito, o Relatório
Final do Sínodo foi entregue ao Papa Francisco, como reza o Artigo 41 do
Regulamento do Sínodo dos Bispos (Ordo
Synodi Episcoporum). Segundo as explicações do próprio regulamento,
não há uma regra estabelecida de antemão sobre a elaboração de um documento
final do Sínodo. Fato é que, após várias assembleias sinodais, os últimos papas
publicaram um documento retomando ou levando em conta o fruto do trabalho do
Sínodo. Haja vista que os bispos, ao entregar o Relatório Final da assembleia,
fizeram um pedido ao papa para que ele publicasse um documento, é de se esperar
que isso aconteça nos próximos meses.
Assim sendo, o texto que
foi publicado no fim de semana passado não é um documento normativo nem
definitivo. Virá a sê-lo se o papa assim o quiser. Mas poderá também passar por
modificações por parte do papa. Por isso, é temerário já agora tirar
orientações bem precisas em nível prático para a ação pastoral da Igreja,
embora não nos seja impedido de começar – ou continuar – a refletir sobre isso.
No que concerne a
situação de alguns de nossos irmãos e irmãs divorciados recasados, com quem
caminhamos e conversamos pelo Brasil afora, é necessário redobrar a prudência
no que concerne as interpretações do texto publicado, pois o texto sequer
menciona o acesso à Eucaristia e ao Sacramento da Confissão.
O título no qual se
aborda o assunto fala de “discernimento e integração”, deixando,
propositadamente, a questão aberta e a ser cada vez mais discernida, com
misericórdia e verdade, não só pelas pessoas implicadas, mas também por toda
comunidade eclesial, inclusive levando em conta aspectos culturais, como também
mencionado pelo Papa Francisco no seu discurso final. A respeito do acesso à
Eucaristia, alguns comentários observaram que o texto não diz nem que “sim” nem
que “não”. Isso também é válido para aquelas formas de impedimentos hoje
existentes na prática eclesial. Tal responta obliqua e não direta do texto faz-nos
voltar ao que o papa disse no discurso final, ou seja, de que o sínodo não
ofereceu soluções exaustivas a todas as situações complexas, pois estas são
múltiplas e variadas. Anunciar aos quatro cantos um acesso ao Sacramento da
Eucaristia para todos os que se encontram nesta situação, não somente vai além
do que afirma o texto conclusivo do sínodo – repitamo-lo: ainda não normativo
nem definitivo – mas também não respeita a complexidade da história de
vidas envolvidas num divórcio e suas consequências temporais, que, quer se
queira ou não, toca a noção de comunhão no sentido mais amplo (comunhão
eclesial, eucarística, mas também conjugal e familiar), que pode ter sido, em
certos casos, gravemente rompida.
Ainda que o Papa
Francisco venha a decidir sobre essa questão, a proposta, segundo as sugestões
dos bispos representares de todas as partes do mundo, não será a panaceia para
dar fim aos problemas dos divorciados recasados, mas será aplicada caso a caso,
como sugerido pelo Cardeal W. Kasper desde o início dessa discussão – o que não
deixará de suscitar dificuldades e incompreensões em nossas comunidades,
diga-se de passagem...
Deixando de lado todas
essas especulações – que interessam muito aos meios de comunicação
desinteressados da vida real das pessoas! – o importante é não reduzir toda a
riqueza dos trabalhos do sínodo nestes dois últimos anos ao “pode ou não pode”,
pois o acompanhamento que visa não só a integração de diversas situações, mas
também a preparação ao matrimônio, através da transmissão do Evangelho da
família, a vida pós-matrimonial, a transmissão e educação dos filhos, a
formação para a missão eclesial e social da família, requer conversão pastoral
e pessoal, de todos nós, disponibilidade de tempo para a escuta e o serviço,
coragem e ousadia para intervir, também com misericórdia, junto às famílias
quando são assoladas por mentiras em relação à essência do amor, da liberdade,
da fidelidade, da responsabilidade, da abertura à vida para se tentar evitar e
superar as crises, e assim permitir que a família continue sendo o maior
tesouro da humanidade!
Fonte: http://www.zenit.org/pt/articles/o-relatorio-final-do-sinodo-sobre-a-familia-ja-e-um-documento-de-orientacao-para-toda-a-greja?utm_campaign=diarioportughtml&utm
Nenhum comentário:
Postar um comentário