"Poderíamos aqui meditar sobre como seria saudável também para a nossa sociedade atual se num dia as famílias permanecessem juntas, tornassem o lar como casa e como realização da comunhão no repouso de Deus" (Papa Bento XVI, Citação do livro Jesus de Nazaré, Trad. José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ, São Paulo: Ed. Planeta, 2007, p. 106)

terça-feira, 7 de novembro de 2017

A SANTIDADE QUE SURGE NA FAMÍLIA: SANTA ELISABETH DA TRINDADE


Carlos Eduardo da Eucaristia[1], OCDS

Santa Elisabeth da Trindade foi canonizada pelo Papa Francisco em 2016, mas tudo começou em uma família, a partir do amor de um casal. O nascimento de Santa Elisabeth foi o fruto do amor de José Francisco Catez e Maria Rolland. Nesse artigo iremos contar um pouco sobre a história de amor desse casal, que se dedicou tanto para criar suas duas filhas, frutificando para o bem do povo de Deus. Também iremos partilhar um pouco do ambiente familiar de Santa Elisabeth da Trindade, especialmente nos seus relacionamentos com sua mãe e sua irmã. No final, rezaremos juntos pelas famílias.

Quem foi José Francisco Catez, pai de Santa Elisabeth da Trindade?
O pai de Santa Elisabeth nasceu em 1832, em um município no norte da França. José Francisco Catez era filho de um senhor muito simples, religioso e trabalhador. Infelizmente, o menino, que viria a ser o pai de Santa Elisabeth, ficou órfão aos 8 anos de idade. A criação de José Catez ficou sob responsabilidade da sua mãe, senhora Fideline, que dependia do apoio econômico dos seus filhos mais velhos. Neste período do século XIX, a França passava por uma dura crise econômica e a família Catez sofreu bastante.
Com 20 anos, em 1853, o jovem José mudou-se para a cidade de Arrás para se alistar no exército imperial da França. Ele precisou se esforçar muito e passar por diversas dificuldades para poder progredir na carreira militar. Ele serviu na Argélia e lutou na Guerra Franco-Prussiana. Lamentavelmente, o jovem militar, que viria a ser o pai de Santa Elisabeth, foi preso pelos prussianos durante sete meses. Na sequência, José Catez recebeu promoções, chegando ao cargo de capitão aos 43 anos de idade, contando mais de 20 de anos de serviço militar à França, que já havia se tornado, novamente, uma república. 
O capitão Catez comandava um esquadrão, de maneira ativa e enérgica. Sua situação sócio-econômica atingiu uma condição que lhe permitia pensar em formar uma família. Ele foi transferido para o sul da França, o que foi providencial para que ele conhecesse sua futura esposa, a jovem Maria Emília, que vivia nesta mesma região.

Quem foi Maria Emília Rolland, mãe de Santa Elisabeth da Trindade?
Maria Emília Rolland nasceu em uma família abastada e não precisou sofrer as dificuldades e necessidades que marcaram o início da vida de seu marido. Ela era filha de Raimundo Rolland e Josefina Klein. Este outro avô de Santa Elisabeth, senhor Raimundo, também era um militar, mas era nascido no sul da França. Ele começou a sua carreira no exército aos 20 anos e, em 1851, conseguiu chegar ao cargo de capitão, como o senhor José Catez conseguiria décadas depois. A esposa do capitão Raimundo era uma filha única, de temperamento enérgico.
Os jovens Raimundo e Josefina casaram-se na cidade de Lunéville, no nordeste da França. Foi justamente em Lunéville, em 1846, que nasceu a mãe da Santa Elisabeth da Trindade. A pequena Maria Emília sentia a falta do seu pai, capitão Rolland, quando ele se ausentava para períodos mais intensos do serviço militar, especialmente no período do conflito na Argélia e na campanha da Itália. A jovem Maria também sofreu muito ao ser mordida por uma cobra, o que afetou sua saúde, deixando-a com uma aparência mais envelhecida.  
Antes de conhecer José Catez, a jovem Maria Rolland apaixonou-se por um outro jovem militar e chegou a tornar-se noiva. Contudo, este seu primeiro noivo morreu na Guerra Franco-Prussiana, em 1870. Maria ficou muito abalada com a perda do seu primeiro grande amor. Questionou até mesmo a sua vocação: por que será que sofreu essa perda? Será que não deveria se casar? Seria melhor tornar-se religiosa?
Francisco Sancho Fermín e Rómulo Cuartas Lodoño comentaram sobre a importância de um livro de Santa Teresa de Jesus na formação espiritual de Maria Rolland. Esta jovem conheceu a obra Caminho de Perfeição e gostava de copiar alguns trechos mais marcantes. Este amor à espiritualidade carmelita seria transmitido para sua filha, Santa Elisabeth da Trindade.

A Família aumentou: os nascimentos de Santa Elisabeth da Trindade e sua irmã
O tempo passou e a jovem Maria conheceu José Catez, que era quase 14 anos mais velho. Eles se apaixonaram e, finalmente, se casaram numa cerimônia presidida pelo padre Angles, na cidade de Santo Hilário, na região onde o capitão trabalhava e na qual o casal se conheceu. Mesmo depois da viuvez, Maria, assumindo o sobrenome Catez, continuou tendo um carinho especial com esse local e viajaria outras vezes para essa região com suas duas filhas. O padre Angles permaneceu amigo da família, mantendo uma afinidade espiritual profunda com Santa Elisabeth da Trindade.
A primeira filha do casal José e Maria Catez foi justamente Santa Elisabeth, que nasceu no dia 18 de julho de 1880, em um acampamento militar onde seu pai estava trabalhando. No ano seguinte, o capitão Catez mudou-se com a família para Auxone, onde nasceria a segunda filha, Margarida, em 1882. A última transferência do capitão José Catez foi direcionada para a cidade de Dijon. O pai de Santa Elisabeth pôde manter um bom padrão de vida para sua família, em Dijon. O capitão finalmente se aposentou, em 1885, contando com a estima de seus colegas militares, em virtude da sua retidão, lealdade e bom coração.

Santa Elisabeth da Trindade, órfã de pai
No ano em que nasceu a segunda filha do casal, Margarida, morreu a dona Josefina, mãe de Maria e avó daquelas crianças. O viúvo, senhor Raimundo, foi morar com a filha, o genro e as netas. As crianças, Elisabeth e Margarida, conviveram com seu avô até o seu falecimento, em 1887. No mesmo ano, a família teve outra grande tristeza, com a morte do papai de Santa Elisabeth da Trindade. Como foi o impacto de perder o pai aos 7 anos de idade? Dez anos depois, a adolescente reviu esse fato doloroso escrevendo uma poesia que expressou a profundidade do sentimento:
“Ó pai, há dez anos,
Feria-te a cruel morte!
Deixavas tua viúva desolada,
Tuas filhas tão jovens ainda;
E tua alma deixava a terra,
Lugar de exílio e de misérias,
Para voltar ao seio de Deus,
Na bela cidade dos Céus”
(Santa Elisabeth da Trindade, poesia 37).

Sobre a Convivência de Santa Elisabeth da Trindade com a sua Família
As duas irmãs, Elisabeth e Margarida, possuíam temperamentos diferentes, mas eram amigas e companheiras nos estudos, na música e nas brincadeiras. Se Margarida mostrava um temperamento sereno e calmo, Elisabeth era o oposto, chegando a ser comparada com um  “diabinho”, pois mostrava um comportamento até violento, às vezes. Como é que Elizabeth mudou suas atitudes? Pelo Amor a Deus e à sua mãe. Um fato muito marcante nessa “conversão” de Santa Elisabeth da Trindade foi a sua Primeira Eucaristia, em 1891, quando recebeu uma Graça que a marcou durante toda a sua vida. A partir daí, ela foi se entregando cada vez mais Jesus, com generosidade e humildade.
A senhora Maria Catez manteve-se muito ligada espiritualmente com as filhas, especialmente com Santa Elisabeth da Trindade. Apesar do sofrimento de ver a filha entrar no Carmelo, soube oferecer esse sacrifício a Deus, espelhando-se em outra viúva, a Santíssima Virgem, aos pés da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo (Jo 19, 25-27). Assim como a Virgem Maria ofereceu seu filho crucificado, a senhora Catez ofereceu sua filha que ingressava na clausura carmelita, em 1901.
No ano seguinte, a senhora Catez teve a alegria de ver o casamento de sua filha mais nova, Margarida, com o senhor Jorge Chevignard. Margarida teve nove filhos, sendo que as duas primeiras crianças receberam carinhos e orações especiais de Santa Elisabeth da Trindade: Odete, nascida em 1905, e a primogênita, que recebeu o nome Elisabeth em homenagem à sua tia carmelita. Observe-se que, dos nove sobrinhos de Santa Elisabeth, um foi sacerdote e quatro mulheres se consagraram a Deus, incluindo a primogênita.
Santa Elisabeth sentia uma amizade muito grande com sua irmã Margarida, o que foi se transformando em uma espécie de comunhão espiritual, que se manifestou no escrito “Céu na Fé”, escrito durante a doença final daquela jovem irmã carmelita, em 1906, alguns meses antes de morrer. A monja carmelita queria fazer uma “surpresa” para sua irmã, que apenas ficou sabendo disso em 1907. Santa Elisabeth sentia-se a “mãezinha” espiritual de sua irmã Margarida e deixou esses escritos como uma espécie de alimento para a caminhada dela, beneficiando, posteriormente, todo o povo de Deus.
Também era grande o amor de Santa Elisabeth da Trindade pela sua mãe. A senhora Catez sofria com a clausura da filha, que morava na mesma cidade. Mesmo assim, mãe e filhas se amavam de coração. A irmã Elisabeth da Trindade acompanhava, do Carmelo, cada sofrimento de sua mãe, até mesmo as doenças de estômago. A senhora Catez sofreu muito com a doença e a morte de Santa Elisabeth. A passagem da filha abalou profundamente a mãe, que modificou bastante a sua vida interior. Oito anos depois, em 1914, a senhora Catez também iria falecer, por causa de uma parada cardíaca. Por sua vez, a senhora Margarida, irmã de Santa Elisabeth, faleceu, já viúva, aos 71 anos de idade, em 1954.

Oração final pelas Famílias
Como é bonito ver uma família que se ama, produzindo frutos de fé esperança. Santa Elisabeth da Trindade não nasceu do acaso, mas nasceu do amor de um casal unido pelo sacramento do matrimônio. Vamos terminar esse artigo pedindo a intercessão dessa santa carmelita em favor de todas as famílias. Que Deus olhe com Misericórdia infinita para os lares, curando feridas e distribuindo bênçãos: Santa Elisabeth da Trindade, rogai por nós!

Referências
CARMEL DE DIJON. Elisabeth de la Trinité: Vie. Dijon: Carmel de Flavignerot, 2016c. Disponível em: http://elisabeth-dijon.org/vie.html. Acesso em: 14 dez. 2016.
ELISABETE DA TRINDADE, Irmã Carmelita Descalça. Obras Completas. Tradução autêntica dos escritos originais por Attílio Cancin. Petrópolis: Vozes, 1993.
FERMÍN, Francisco J. Sancho; LODOÑO, Rómulo Cuartas. 100 fichas sobre “Elisabete da Trindade”: para aprender e ensinar. Burgos: Editorial Monte Carmelo, 2006.
SCIADINI, Frei Patrício. Memórias da Beata Elisabeth da Trindade. São Paulo: LTr Editora, 2006, 216p.
VARGAS, Carlos Eduardo de C. A Misericórdia na Espiritualidade de Santa Elisabeth da Trindade. Prefácio de Frei Patrício Sciadini. São Paulo: LTr Editora, 2017.









[1]     Carlos Vargas é presidente da Comunidade Santa Teresa de Jesus (Curitiba – Paraná) e conselheiro da Província Nossa Senhora do Carmo. Escreveu o livro “A Misericórdia na Espiritualidade de Santa Elisabeth da Trindade” (LTr, São Paulo, 2017).