Maridos e mulheres, sujeitai-vos uns aos outros no temor de Cristo" (Ef 5, 21-33).
Assistindo a um casamento, um Bispo recomendava aos noivos que levassem para a nova residência três coisas que pertenciam às famílias tradicionais: tesoura, agulha e linha. Mas não levá-las apenas materialmente, afinal, é difícil uma casa sem tesoura, agulha e linha. Estes três objetos devem adquirir um sentido simbólico: cortar o que separa e costurar o que une na vida matrimonial.
Num estilo de vida que privilegia o interesse pessoal, o narcisismo e descarta a compreensão e o perdão, é sempre mais difícil a convivência do homem e da mulher. É verdadeiro milagre dois jovens iniciarem uma vida a dois e vencerem os desafios que essa comporta. Afinal, estamos no mundo do bem-estar, onde os conflitos não são resolvidos, mas anestesiados: Prozac para depressão, Lexotan para ansiedade, Dormonid para ansiedade, Antak para gastrites e úlceras do stress, e mais ginástica, natação, spa, massagem, ioga etc, tudo para não olhar de frente os problemas. (Evidente que tudo isso pode ser necessário, pois há doenças provindas de nosso organismo debilitado).
O egoísmo e o narcisismo (olhar apenas o próprio interesse) inventam fugas aparentemente modernas: casamento com casas separadas, casamento de experiência, casamento múltiplo (o homem aceita que a esposa tenha casos e vice-versa), swing (troca de casais), o amor-livre, deixando de lado um compromisso estável, e muito mais. Tudo isso para que se evite o desafio do amor que é inseparável da doação, do diálogo, da fidelidade, perdão, paciência, auto-ajuda.
Quando se sabe o que se quer – o homem responsabilizar-se pela felicidade da mulher e a mulher se consagrar à realização do homem – buscam-se caminhos próprios e não se medem os sacrifícios. Quando se pensa apenas em si, o casamento é realmente inútil e prejudicial: não foi feito para egoístas.
Voltemos aos nossos "instrumentos". A tesoura serve para cortar tudo o que impede a boa convivência: olhar apenas os defeitos, fixar-se nos erros, nas exigências exageradas ou impossíveis, recordar problemas do passado, alterar a voz para vencer "no grito", fazer-se de vítima, de sofredor(a). Cortar as dependências familiares (minha mãe era diferente, meu pai resolvia assim, minha mãezinha cozinhava melhor), aparar as diferenças: há coisas do passado que devemos conservar e muitos supérfluos de que devemos nos livrar. Ninguém pode viver sempre dizendo "eu aprendi desse jeito".
A agulha e a linha devem servir para costurar os corações, fazer pontos que impeçam de se rasgar o tecido do amor, cerzir as costuras enfraquecidas por desavenças, experiências dolorosas. Ajudam como a agulha e a linha do médico, necessárias após uma cirurgia. Certamente a agulha, quando espeta, provoca sangramento, dor, mas dá pontos que garantem a união do tecido cortado para extirpar o tumor. Se a tesoura corta o que separa, a linha e a agulha costuram tudo o que une, favorece a união e a fidelidade matrimonial, formando o tecido de um só coração e uma só alma.
Pe. José Artulino Besen
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