"Poderíamos aqui meditar sobre como seria saudável também para a nossa sociedade atual se num dia as famílias permanecessem juntas, tornassem o lar como casa e como realização da comunhão no repouso de Deus" (Papa Bento XVI, Citação do livro Jesus de Nazaré, Trad. José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ, São Paulo: Ed. Planeta, 2007, p. 106)

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A vida familiar de Santa Teresa dos Andes



Santa Teresa de Jesus dos Andes morreu no 12 de abril de 1920, dia de seu nascimento no céu (dies natalis). Neste aniversário de sua Páscoa celeste, partilhamos um breve resumo de sua vida familiar que foi publicado no site oficial do Santuário dedicado à sua memória, no Chile (www.teresadelosandes.org):

"Aquela que, mais tarde, será chamada de Teresa dos Andes nasce em Santiago do Chile o 13 de julho de 1900. Filha de dom Miguel Fernández Jaraquemada e de dona Lucia Solar Armstrong, recebe o batismo com o nome de Juanita.

Juanita nasce numa família relativamente rica. O avô paterno de Juanita era originário de La Rioja (Espanha). Seu avô materno, dom Eulogio, tinha em Chacabuco, a sessenta quilômetros ao norte de Santiago, uma fazenda muito grande onde reunia freqüentemente a sua famíla.

Juanita passou numerosas férias neste lugar que gostava muito. Muito jovem aprendeu a montar a cavalo. Verdadeira amazona, gostava de galopar pela fazenda até os arredores da cordilheira dos Andes.

Os irmãos de Juanita eram: Lucita, Miguel, Luis (Lucho), Juana (falecida poucas horas depois do seu nascimento; Juanita recebeu seu nome), Rebeca e Ignacio. Juanita estava particularmente ligada a seu irmão Lucho e a Rebeca, sua inseparável irmã menor.

Muito cedo, Juanita se sentiu atraída pelas coisas de Deus. Gostava de acompanhar Ofelia (a serva que cuidava dela) à igreja. Um dia, estando em Chacabuco, tomou a mão dum sacerdote amigo da famíla e lhe disse:
"Padrezinho, vamos ao céu!".
Tendo saído da casa, o sacerdote lhe perguntou:
"Então, Juanita, por onde se vai ao céu?"
Juanita respondeu:
"Por aí", apontando com seu dedo a cordilheira dos Andes.
O sacerdote lhe disse:
"Depois de ter escalado estas montanhas muito altas, ainda estarás muito longe do céu. Não, Juanita, este não é o caminho do céu. Jesus no sacrário é o caminho real para chegar ao céu."

Mas Juanita não tem um caráter fácil. É vaidosa, não gosta de obedecer, se irrita freqüentemente e chora por nada. Com o auxílio da graça de Deus, especialmente da eucaristia, Juanita conseguirá progressivamente vencer seus defeitos e dominar-se.
Em 1906, um terremoto sacude a cidade de Santiago. Juanita escreve em seu Diário que foi nessa época que Jesus começou a tomar seu coração.

Em 1907, o avô de Juanita morre santamente. Sua mãe, dona Lucia, recebe em herança uma parte da fazenda de Chacabuco. Dom Miguel, seu pai, dirige os negócios da fazenda. No mesmo ano, Juanita entra como externa em Santiago no colégio das Irmãs do Sagrado Coração de Santa Madalena Sofia Barat.

Foi seu irmão Lucho que ensinou Juanita a oração do rosário. Ambos prometeram rezá-lo todos os dias, promessa que Juanita cumpriu até o fim de sua vida (uma só vez, confessou ela, o esqueceu quando era muito pequena):
"Nosso Senhor, a partir daí, se pode dizer, me tomou pela mão com a Ssma. Virgem."

Juanita teve muito cedo um desejo grande de fazer sua primeira comunhão. Perguntava freqüentemente quando poderia fazê-la, mais lhe diziam que era demasiado pequena. Então Juanita pedia que lhe ensinassem a fazer comunhões de desejo. Finalmente, recebeu a licença de fazer sua primeira comunhão e quis preparar-se pela confissão, a oração e a oferenda a Jesus de numerosos pequenos sacrifícios.
"Por um ano me preparei. Durante esse tempo a Virgem me ajudou a limpar meu coração de toda imperfeição."
Fez sua primeira comunhão em Santiago em 11 de setembro de 1910, dia que a marcou profundamente por toda sua vida (como conta no seu Diário). Ela comungará cada dia, na medida do possível.

Durante o ano 1915, Juanita entra no internado do colégio do Sagrado Coração com sua irmã Rebeca. Sofre por ter que deixar sua família que ama muito. Contudo, compreende que o Senhor a prepara deste modo à grande separação quando ela entrar no Carmelo. Juanita gosta do ambiente do colégio que lhe permite viver uma vida cristã fervorosa.

Em agosto de 1918, Juanita deixa o colégio para voltar à casa de seus pais e substituir sua irmã Lucita que acabou de casar-se. Se dedica cada dia e aceita todo sacrifício pela felicidade dos seus.
"Não sabia que a vida doméstica era uma vida de sacrifício... me está servindo de preparação para minha vida religiosa". Seu irmão Lucho disse que Juanita era "a jóia da casa".
Juanita escreve no seu Diário:
"Esmerar-me-ei em construir a felicidade dos demais. Minha resolução é sacrificar-me por todos".

Ao mesmo tempo que tem uma vida espiritual intensa, Juanita vive como uma jovem de sua época: gosta de estar com sua família e encontrar suas amigas; gosta do esporte, particularmente da equitação e do tênis que descobre com paixão. Gosta da beleza do mar e das montanhas. O humano e o sobrenatural formam nela uma síntese harmoniosa e unificada. Tem uma contemplação muito profunda do mistério de Deus na oração e, ao mesmo tempo, é natural e comunicativa com os demais. Embora sofra por causa da sua saúde fraca e das purificações da graça de Deus no seu coração, está alegre e gosta de brincar.

Em janeiro de 1919, visita pela primeira vez o Carmelo de Los Andes. Recebe aí a confirmação de que Deus a chama a entrar nesse lugar.Dia 25 de março de 1919, escreve uma carta magnífica a seu pai para pedir-lhe licença para entrar no Carmelo. Lhe diz que desde sua infância buscou a felicidade, mas entendeu que só Deus podia fazê-la plena e definitivamente feliz. Deseja pertencer totalmente a Deus numa vida consagrada à oração e à penitência.

Comovido, seu pai chora e lhe da licença. A partir desse momento, Juanita experimenta em seu coração a maior alegria e o maior sufoimento: alegria de poder consagrar-se totalmente a Cristo, que a atrai com tanta força, e sofrimento de deixar o seus tão queridos que sofrem muito por causa da separação.

Entra no Carmelo de Los Andes dia 7 de maio de 1919 e recebe o nome de irmã Teresa de Jesus."

"Se quer ser um bom pai, seja um bom esposo"


O último livro de Piero Ferruci, "Nossos mestres as crianças" já foi traduzido em 11 idiomas.Neste livro ele afirma:
"Foi preciso tempo, mas ao final percebi: a relação com meus filhos passa através da relação com minha mulher. Não posso ter com eles uma boa relação se minha relação com ela não é boa".

A experiência clínica de Ferruci demonstrou-lhe que "cada ser humano é o resultado da relação entre dois indivíduos: seu pai e sua mãe. E esta relação segue vivendo dentro de nós como uma harmonia belíssima ou como uma dilaceração dolorosa. "
A relação entre nossos progenitores - disse Ferruci – constitui-nos no que somos. E isto é verdade também na época da 'família-dormitório', dos progenitores single, da fecundação artificial, da manipulação genética, dos ventres de aluguer, dos bancos de espermatozóides... Uma criança sente com todo o seu ser a relação entre os seus progenitores, seja qual for, sente-a nele mesmo. Se a relação está envenenada, o veneno circulará pelo seu organismo. Se a atmosfera não é harmoniosa, crescerá em dissonância. Se está repleta de ânsias e inseguranças, também seu futuro será incerto".

A conclusão então parece clara: se você quer ser um bom pai, seja um grande esposo. Se quer ser uma boa mãe, seja uma grande companheira para o seu marido. Isto que parece simples, na prática não é. Por quê? Ferruci responde em primeira pessoa, com grande humildade:
"Às vezes esqueci esta realidade. Tive demasiada confiança. Sabendo que nossa relação ia bem, a deixei aí".

Abandonada a relação à sua própria sorte, prontamente aparecem os desgostos, as recriminações.Quando um matrimónio reage a tempo e recupera o belo do seu amor, os primeiros a perceber são os filhos. E conta a sua própria experiência depois de uma temporada em que, ao escrever seus livros, começou a levantar-se às 5 da manhã e a passar o dia a reclamar do ruído das interrupções:
"Comecei a sentir-me deprimido, algo não andava bem. Finalmente compreendi o que sabia mas não queria admitir. A ordem das minhas prioridades estava equivocada.Decidi devolver a Vivien, minha mulher, um marido que não caísse de sono. Depois ocorreu algo subtil e surpreendente. A relação entre Emilio e Viven melhorou. Não é que fosse uma relação má, mas havia algo que eu não gostava. Com frequência Emilio era descortês com ela e falava comigo como se Vivien não existisse, ignorando-a como o machista mais endurecido. Depois entendi: Emilio mostrava-me qual era a minha atitude para com Vivien... Eu era quem a transformava numa sombra. Afortunadamente percebi a tempo".

Como manter e melhorar constantemente a relação conjugal? Este autor italiano é um grande romântico e crê que a fonte do amor para os esposos estão nas recordações dos melhores momentos.
"Ao contrário do que muitos pensam, eu creio que o fato de apaixonar-se é o instante mais autêntico da relação entre duas pessoas; é quando elas vêm que todas as possibilidades se abrem diante delas, quando tocam a essência e a beleza do amor... Ante os olhos da minha mente desfilam nossos momentos mais luminosos: o primeiro passeio juntos, a decisão de casar-nos numa tarde de Setembro, Vivien que veio me receber no aeroporto num dia de chuva, o concerto durante a gravidez de Emilio...Tudo isso é a origem, a fonte: o lugar no qual tudo vai bem e é perfeito. Resulta positivo regressar de vez em quando às origens e beber daquela fonte de água pura".

Fonte: "Fazer Família" de Maria Esther Roblero

"O amor verdadeiro é fiel, entrega definitiva de si mesmo".


"Mediante o sacramento do matrimônio os esposos estão unidos por Deus e com sua relação manifestam o amor de Cristo, que deu sua vida pela salvação do mundo.

Em um contexto cultural no qual muitas pessoas consideram o matrimônio como um contrato temporário que se pode romper, é de vital importância compreender que o amor verdadeiro é fiel, entrega definitiva de si mesmo. Já que Cristo consagra o amor dos esposos cristãos e se compromete com eles, essa fidelidade não somente é possível, mais ainda, é o caminho para entrar em uma caridade cada vez maior"




(Sua Santidade, Papa Bento XVI, mensagem ao Cardeal Stanislaw Rylko, Presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, 2010).

domingo, 11 de abril de 2010

CONSAGRAÇÃO A NOSSA SENHORA (Venerável Servo de Deus João Paulo II, Papa)

ATO DE CONSAGRAÇÃO A MARIA
(8 de Outubro de 2000)


1. "Mulher, eis aí o teu filho!" (Jo 19, 26)
Quando já se aproxima o termo deste Ano Jubilar,
no qual Tu, ó Mãe, nos deste novamente Jesus,
o fruto bendito do teu ventre puríssimo,
o Verbo encarnado, o Redentor do mundo,
é-nos particularmente doce ouvir esta palavra
com que Ele nos entrega a Ti, tornando-Te nossa Mãe:
“Mulher, eis aí o teu filho!”
Confiando-Te o apóstolo João,
e com ele os filhos da Igreja, e mesmo todos os homens,
Cristo, longe de atenuar, reiterava
o seu papel exclusivo de Salvador do mundo.
Tu és esplendor que nada tira à luz de Cristo,
porque existes n'Ele e por Ele.
Em Ti, tudo é um "fiat", "faça-se": Tu és a Imaculada,
és transparência e plenitude de graça.
Assim, eis aqui os teus filhos, congregados ao teu redor,
ao alvorecer do novo Milênio.
A Igreja, hoje, pela voz do Sucessor de Pedro,
à qual se junta a de tantos Pastores
aqui reunidos das várias partes do mundo,
procura refúgio sob a tua materna proteção
e implora confiadamente a tua intercessão
perante os desafios que o futuro encerra.
2. Muitos, neste ano de graça,
viveram e continuam a viver
a alegria superabundante da misericórdia
que o Pai nos concedeu em Cristo.
Nas Igrejas particulares espalhadas pelo mundo,
e ainda mais neste centro da cristandade,
acolheram este dom
as mais variadas categorias de pessoas.
Aqui vibrou o entusiasmo dos jovens,
daqui se elevou a súplica dos doentes.
Por aqui passaram sacerdotes e religiosos,
artistas e jornalistas,
os homens do trabalho e da ciência,
crianças e adultos,
e todos reconheceram, no teu amado Filho,
o Verbo de Deus, feito carne no teu seio.
Com a tua intercessão, ó Mãe, faz
que não se percam os frutos deste Ano,
e que as sementes de graça se desenvolvam
até à medida plena da santidade
à qual todos somos chamados.
3. Queremos, hoje, consagrar-Te o futuro que nos espera,
pedindo-Te que nos acompanhes no nosso caminho.
Somos homens e mulheres dum período extraordinário,
tão cheio de triunfos como de contradições.
A humanidade possui, hoje, instrumentos de força inaudita:
pode fazer deste mundo um jardim,
ou reduzi-lo a um amontoado de ruínas.
Conseguiu uma capacidade extraordinária de intervenção
sobre as próprias fontes da vida:
pode usá-la para o bem, dentro das margens da lei moral,
ou ceder ao orgulho míope
duma ciência que não aceita confins,
até espezinhar o respeito devido a todo o ser humano.
Hoje, como nunca no passado,
a humanidade encontra-se numa encruzilhada.
E, uma vez mais, a salvação está total e unicamente,
ó Virgem Santa, no teu Filho Jesus.
4. Por isso, Mãe, tal como o Apóstolo João,
queremos receber-Te na nossa casa (cf. Jo 19, 27),
para aprendermos de Ti a conformar-nos com o teu Filho.
“Mulher, eis aqui os teus filhos!”
Viemos à tua presença
para consagrar à tua solicitude materna
nós mesmos, a Igreja, o mundo inteiro.
Intercede por nós junto do teu amado Filho
para que nos dê o Espírito Santo em abundância,
o Espírito de verdade que é fonte de vida.
Acolhe-O por nós e conosco,
como na primeira comunidade de Jerusalém,
aconchegada ao teu redor no dia de Pentecostes (cf. Atos 1, 14).
O Espírito abra os corações à justiça e ao amor,
incite os indivíduos e as nações à mútua compreensão
e a uma vontade firme de paz.
Nós Te consagramos todos os homens, a começar pelos mais débeis:
as crianças que ainda não foram dadas à luz
e as nascidas em condições de pobreza e de sofrimento,
os jovens à procura de um sentido,
as pessoas carecidas de emprego
e atribuladas pela fome e pela doença.
Consagramos-Te as famílias em crise,
os anciãos sem assistência
e quantos vivem sozinhos e sem esperança.
5. Ó Mãe que conheces os sofrimentos
e as esperanças da Igreja e do mundo,
assiste os teus filhos nas provas quotidianas
que a vida reserva a cada um
e faz com que, graças ao esforço de todos,
as trevas não prevaleçam sobre a luz.
A Ti, aurora da salvação, entregamos
o nosso caminho no novo Milênio,
para que, sob a tua guia,
todos os homens descubram Cristo,
luz do mundo e único Salvador,
que reina com o Pai e o Espírito Santo
pelos séculos dos séculos. Amém.

S.S. Ioannes Paulus II

O PAI NOSSO E A FAMÍLIA/MATRIMÔNIO


O “PAI-NOSSO” E O MATRIMÔNIO-FAMÍLIA


PAI-NOSSO QUE ESTAIS NOS CÉUS

Deus é o Pai de todas as famílias! Ele é o centro do Sacramento do Matrimônio! Quem deseja casar-se, deve fazê-lo no sentido de consagrar sua vida e o amor conjugal a Deus! Se não for assim, não há sentido algum em se casar “na Igreja”. Sem essa aliança com Deus, não há sentido no matrimônio. Ele é um sacramento, um ato sagrado, um sinal sensível da graça divina! Todo sacramento (portando, também o matrimônio) é sinal da presença de Deus! O Matrimônio é o sacramento da presença de Deus na Família Humana!
Se Deus é nosso Pai, isto significa que meu cônjuge é um (a) filho (a) de Deus! Merece, portanto, todo respeito! Somos (eu e meu cônjuge) irmãos em Cristo e irmãos na fé! O mandamento: “amai o próximo como a ti mesmo”, é válido e imprescindível também no Matrimônio. No sacramento do Matrimônio, dois cristãos decidem, espontaneamente, caminhar juntos, em ajuda mútua, e resolvem constituir uma família cristã!
Deus, nosso Pai, está no Céu! Ele é Santo e quer que seus filhos e filhas, feitos à Sua imagem e semelhança, sejam santos também! Nosso Céu começa a ser construído aqui mesmo, na terra. Os esposos devem querer e almejar a salvação eterna um do outro! Ambos devem se ajudar mutuamente! Esta é a vontade de Deus, no tocante ao sacramento do Matrimônio. Lembremo-nos das promessas que fazemos perante o sacerdote, durante a cerimônia do casamento.


SANTIFICADO SEJA O VOSSO NOME

Deus é glorificado, louvado e se sente feliz em uma família unida, cheia de amor, respeito mútuo, isto é, santa! Uma família cristã é sinal da presença de Deus no mundo! Portanto, uma família desunida, destruída, é sinal da presença do mal no mundo!


VENHA A NÓS O VOSSO REINO

Desejar isso é o mesmo que dizer: “Senhor, que a Tua presença se faça realidade em minha família, em meu casamento! Fica conosco, Senhor! Que o Céu em que viveis já comece aqui, em minha casa!”.
O Reino de Deus é: Justiça, Amor, Verdade, Unidade, Perdão, Paciência, Vida e Paz. Todas essas virtudes tornam o casamento e a família invencíveis!

SEJA FEITA A VOSSA VONTADE, ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU

Desejar isso é muito sério! É simplesmente desejar que a Vontade de Deus, que nem sempre é a nossa vontade, seja plenamente cumprida em nossa vida e em nosso casamento! Como isso é grave! Quantos não são os casais que “se casam” sem ao menos pensar nisso...
Querer que a Vontade de Deus “seja feita” exige: amor a Deus e ao cônjuge, renúncia de “nossas vontades”, sacrifício, luta e coragem!
Para o homem, é impossível salvar-se! Porém, para Deus, tudo é possível! Só conseguiremos fazer a Vontade de Deus com a ação de duas forças: nossa decisão e a graça divina! E isso só se consegue com a oração e vida sacramental.


O PÃO NOSSO, DE CADA DIA, NOS DAI HOJE

Aqui não falamos apenas do pão “material”. É claro que este é muito importante e fundamental! Nesta parte do “Pai-Nosso”, porém, pedimos ao Pai, principalmente, pelo “pão espiritual”, o alimento e força das almas e, portanto, da existência da família: Jesus Eucarístico!
Estamos já “cansados” de escutar que a família é a Igreja doméstica! Pois bem, se ela (a família) é uma igreja doméstica, e como a Eucaristia é o Centro da Igreja, assim, Ela também é o Centro da Família Cristã!
Todo sacramento, inclusive o Matrimônio, está voltado para a Eucaristia! O Matrimônio só tem, portanto, sentido, se tiver como meta, como objetivo, força e sustento, a união do casal com Jesus Eucarístico! Daí uma pessoa ou casal que contrai apenas o “casamento” civil, não pode comungar o Corpo e o Sangue do Senhor!
Repito: não vejo sentido algum no Sacramento do Matrimônio em um casal sem vida eucarística! Se eu me caso, perante Deus, não é no intuito apenas de me unir ao meu cônjuge, mas também de me unir e unir meu cônjuge a Deus, fonte e autor do Sacramento do Matrimônio!
A forma máxima de união com Deus é através da recepção (com amor, devoção e preparação) da Comunhão Eucarística, isto é, do próprio Jesus, Deus-Homem, vivo e real na Hóstia Consagrada!

PERDOAI-NOS AS NOSSAS OFENSAS

Constantemente um casal deve estar unido à Misericórdia Divina! Pecamos e somos ingratos a Deus diariamente!
Para recebermos o perdão de Deus, e para podermos recebe-lo na Eucaristia, temos que freqüentar, com devoção e assiduidade, o Sacramento do Perdão: a Confissão.
A Confissão é o banho da alma, é o remédio dos corações e a cura de nossas misérias. O que acontece ao nosso corpo quando passamos dois a três dias sem banho? O que acontece a um doente quando passa dois a três dias sem tomar seus remédios? Como podemos comparecer a uma festa na casa de um amigo sujos, fedendo e rasgados? A Confissão é o banho que nos limpa, o remédio que nos fortalece e a veste nova que nos torna prontos para comparecermos ao banquete, à grande festa que Deus nos oferece: a Santa Missa!
A confissão freqüente (pelo menos uma vez ao mês, como Nossa Senhora pede em Medjugorje) é o remédio e a cura para a família de hoje!


ASSIM COMO NÓS PERDOAMOS A QUEM NOS TEM OFENDIDO

Vida conjugal é IGUAL a perdão mútuo diário! Dois esposos cristãos (portanto, dois irmãos na fé) devem SEMPRE se perdoar! É claro que devemos evitar ofender o outro e procurar, no que for possível, agradar e torná-lo feliz. Porém, se ofendermos o nosso cônjuge, devemos logo lhe pedir perdão e procurar reparar a ofensa! A parte ofendida, por sua vez, deve oferecer o perdão e deixar-se ser reparada!
Sei que isso é difícil! O maligno espreita o casal e a família para leva-los ao ódio, ao ciúme, ao ressentimento, à intriga, ofensas, brigas, agressões verbais e até mesmo físicas! Quanta violência nós vemos hoje em dia nos jornais e na televisão, produzidas dentro da família!
Jesus, Aquele mesmo que, no dia do casamento, oficiou a união do casal, na pessoa do sacerdote, é a força para vencermos todas as tentações e ataques do demônio!

NÃO NOS DEIXEIS CAIR EM TENTAÇÃO

A família, base da sociedade e da Igreja é o alvo “número um” dos ataques do maligno, do mundo (seu escravo) e da carne (inimiga do Espírito de Deus):
1) O Demônio: sugerindo todo tipo de pecado ou vício que possa destruir a família!
2) O Mundo: oferecendo aos membros da família seus falsos valores (o “amor livre”, “aventuras” extraconjugais, divórcio, aborto, etc) e “novas idéias” tidas como “modernas” ou “normais para os dias de hoje”.
3) A Carne: ciúmes, luxúria, desonestidades, despudor, traição, impaciência com o outro, sentimentos de dominação do outro, etc.
Peçamos sempre ao Pai, que nos ama, que nos livre de toda tentação: a repentina, a inesperada, a escondida (disfarçada), a constante e a intensa!

MAS, LIVRAI-NOS DO MAL!

Como oração, digamos: sim, ó Pai, livrai nossas famílias de todos os males: da falta de amor, da falta de perdão, do desrespeito, do ódio, do ciúme, da inveja, da desconfiança, de brigas, rixas, calúnias, mentiras, impurezas, adultério, do desemprego, de doenças graves, da violência, da falta de fé, do comodismo e preguiça espirituais, da falta de amor a Deus e à Igreja, de heresias, do “ateísmo prático”, etc!
Nossa Senhora, Rainha das Famílias, rogai por nós! Amém!
Sim! Assim seja! Faça-se em nós, em minha família, em todas as famílias, a Vossa Eterna Vontade, ó Senhor! Amém!
(Giovani Carvalho Mendes)

sexta-feira, 2 de abril de 2010

"Muitas dessas mães tinham o desejo de ver um de seus filhos tornar-se sacerdote"

"No pequeno vilarejo de Lu na Itália do norte, há uma localidade com poucos milhares de habitantes, situado numa região rural a 90 km a oeste de Turim. Este pequeno vilarejo teria ficado desconhecido se em 1881 algumas mães de família não tivessem tomado uma decisão que iria ter “grandes repercussões”.

Muitas dessas mães tinham no coração o desejo de ver um de seus filhos tornar-se sacerdote ou uma das suas filhas entregar-se totalmente ao serviço do Senhor. Começaram então a reunir-se todas as terças-feiras para a adoração do Santíssimo Sacramento, sob a guia do seu pároco, Monsenhor Alessandro Canora, e a rezar para as vocações. Todos os primeiros domingos do mês recebiam a Comunhão com essa intenção. Após a Missa todas as mães rezavam juntas para pedir vocações sacerdotais. Graças à oração cheia de confiança destas mães e à abertura de coração destes pais, as famílias viviam num clima de paz, de serenidade e de alegre devoção que permitiu aos filhos discernir com maior facilidade as suas chamadas.

Quando o Senhor disse: “Muitos são os chamados, mas poucos os eleitos” (Mt 22,14), devemos entendê-lo desta maneira: muitos serão chamados, mas poucos responderão. Ninguém podia pensar que o Senhor teria atendido tão amplamente o pedido destas mães. Deste vilarejo emergiram 323 vocações para a vida consagrada (trezentas e vinte três!): 152 sacerdotes (e religiosos) e 171 religiosas pertencentes a 41 diferentes congregações. Nalgumas famílias houve até três ou quatro vocações. O exemplo mais conhecido é o da família Rinaldi. O Senhor chamou sete filhos desta família. Duas filhas entraram para as irmãs Salesianas e, enviadas a Santo Domingo, tornaram-se pioneiras e missionárias corajosas. Entre os homens, cinco tornaram-se sacerdotes Salesianos. O mais conhecido dos cinco irmãos, Filippo Rinaldi, foi o terceiro sucessor de Dom Bosco, beatificado por João Paulo II aos 29 de Abril de 1990. De facto, muitos jovens entraram para os salesianos. Não foi por acaso, visto que Dom Bosco durante a sua vida visitou quatro vezes Lu. O santo participou da primeira Missa de Filippo Rinaldi, seu filho espiritual, na sua cidade de origem. Filippo gostava muito de lembrar a fé das famílias de Lu: “Uma fé que fazia dizer aos nossos pais: O Senhor nos doou filhos e se Ele os chama nós certamente não podemos dizer não!”. Mons. Evasio Colli, arcebispo de Parma, também vinha de Lu (Alessandria). Dele disse João XXIII: “Ele é que devia ser papa, não eu. Tinha tudo para ser um grande papa”.

A cada 10 anos, todos os religiosos, as religiosas e os sacerdotes ainda vivos se reúnem em Lu, vindos de todas as partes do mundo. Dom Mario Meda, durante muitos anos pároco da cidade, contou como este encontro na realidade é uma grande festa, uma festa de agradecimento a Deus por ter feito grandes coisas em Lu.

A oração que as mães de família rezavam em Lu era breve, simples e profunda: “Senhor, fazei que um dos meus filhos se torne sacerdote! Eu mesma quero viver como boa cristã e quero conduzir os meus filhos ao bem para obter a graça de poder oferecer a Vós, Senhor, um sacerdote santo. Amém”."

Fonte: Carta da Congregação do Clero, assinada pelo Cardeal Dom Cláudio Hummes, para promover a adoração eucarística em reparação e para a santificação do Clero.

Socorro! Queremos um Filho!

Socorro! Queremos um Filho!

"Por favor, socorra-me! Há algo estranho acontecendo comigo e com meu marido: queremos um filho! Sei que não é nada comum alguém querer um filho hoje em dia, por isso estou pedindo socorro. Ocorre que queremos um filho. Queremos dar a vida, dar à luz, pôr no mundo, como você quiser chamar, mas queremos um filho.

O mais espantoso é que queremos um filho não para nós mesmos, nem para nossa realização nem para nos sentirmos bem ou curtirmos a experiência de sermos pais. Queremos um filho por ele mesmo! Não é incrível?!? Não o queremos para ter uma experiência gratificante. Queremos um filho como uma pessoa única, por quem ele é, seja ele como for.

Não me entendo, devo estar ficando maluca, mas queremos um filho seja ele feio ou bonito, inteligente ou burro, alto ou baixo, verde, azul, marrom, branco, vermelho, amarelo, não importa. Queremos por ele mesmo, não por nós, entende? Isso me deixa preocupada. Sou diferente de todas. Acho que influenciei meu marido. Por favor, ajude-me!

A coisa é tão grave, que queremos um filho mesmo que seja anencéfalo, mesmo que seja fruto de um estupro, mesmo que seja Down, mesmo que não ouça, não veja, não ande, não fale... Sim, sei que é grave, mas queremos um filho por ele mesmo!!!

Do mais profundo de nós mesmos, sobe um grito: queremos um filho para amá-lo, para nos entregarmos a ele, para servi-lo em sua dependência e fragilidade, em sua vulnerabilidade inicial. Queremos, em Deus, dar a vida para que ele tenha vida, você entende? Sei que é insano, mas queremos seguir seu crescimento, seu desenvolvimento vida afora, queremos gerá-lo para Deus e para a humanidade, ainda que isso nos custe a saúde, a beleza, a vida. Estranho, mas queremos um filho não por nós, mas por ele mesmo, não para nosso prazer, mas para que ele seja quem Deus quer que ele seja e queremos colaborar para isso com todas as nossas forças, em meio a alegrias e dores.

Está vendo como é grave? A imagem de Deus segundo a qual fomos criados nos empurra a fazer a oferta de nós mesmos a um filho, me empurra a ser mãe de um filho por ele mesmo. É mais forte do que eu! Ajude-me, o que faço?

Não sei explicar direito, mas é como se a fecundidade que Deus pôs em nós fosse mais que biológica, semelhante à dos animais. É como se fosse... deixe-me ver... ahn... uma participação do poder criador de Deus que é Pai e não somente continuador ... preservador de espécie, entende? Que horror! Estou tão doente que só de falar em ter filho para preservar a espécie, para continuar a família, me sinto mal! Ajude-me! Sou chamada a ser mãe como Deus é Pai e não como uma gata é mãe! É grave, já lhe disse! Não me negue sua ajuda!

Para agravar mais ainda meu caso, queremos um filho de nossas entranhas, gerado em um ato conjugal, um belo presente-surpresa de Deus que não só participa, mas governa nosso matrimônio! É, ainda tem essa: meu marido e eu casamos virgens. Sou casada sempre com o mesmo homem, e casada na Igreja, como se diz.

Por favor, não se espante demais! Tenho medo de que me abandone, de que desista de me ajudar, mas preciso ser verdadeira: minhas entranhas são raham, como dizem os hebreus. São entranhas para dar a vida... Não me olhe assim, por favor. Acho que errei quando mencionei os hebreus, mas é que eles são meus irmãos mais velhos... Perdão se tenho que mencionar João Paulo II, sei que lhe desagrado. Posso continuar?

Queremos um filho que não seja programado em um consultório médico. Queremos um filho home made, que não seja manipulado em laboratório. Não queremos escolher a cor de seus olhos, de sua pele, de seus cabelinhos. Não queremos programar ou aprimorar seu DNA, queremo-lo como Deus o quiser, queremos estender as mãos para o céu e recebê-lo como um presente de Deus colocado por meu marido em minhas entranhas. As entranhas raham têm de participar, entende?

Perdoe-me. Sei que não estou sendo moderna, nem emancipada, nem dona do meu próprio filho, como se faz hoje em dia. Sei que estou fora da mentalidade e fora da lei. É exatamente por isso que peço ajuda. Estou diferente demais dos outros. Devo estar doente.

Não tomo anticoncepcionais, não uso DIU, não aplico compressas hormonais, não fico como histérica preocupada a contar dias para lá e para cá, meu marido não usa preservativos. Sei que é extraordinário, mas queremos um filho que venha como fruto de sabermos que nossa fecundidade humana é apenas parcial e que a verdadeira fecundidade vem de Deus e não queremos inverter isso. Deus vem primeiro com relação ao meu filho. Eu até já digo a Ele que é o nosso filho. Não é de preocupar? Queremos um filho que não nasça da vontade da carne, que controla tudo, que pretende ter nas mãos as rédeas da criação. Queremos um filho que nasça do Espírito e no Espírito seja educado para Deus.

Será que estou com aquela doença de quem tem mania de ser Deus? Porque, na verdade, queremos um filho por ele mesmo porque, como disse João Paulo II ... ops, desculpe! Mencionei outra vez... Bem, como ele disse, Deus nos quis por nós mesmos, únicos aos seus olhos, dons Dele dados ao mundo pela mediação das leis biológicas e desejo dos nossos pais. Como é mesmo o nome desta enfermidade na qual a pessoa pensa que é Deus ou um santo qualquer? Será que é ela que nos aflige, que nos faz tão diferentes das outras pessoas?

Ocorre que queremos entrar na alegria e experimentar o riso de Sara, participando da alegria de Deus ao acolher um filho por ele mesmo, sabendo que todas as criaturas de Deus são boas, como diz Timóteo. Queremos um filho para viver com ele a experiência da fecundidade que transcende a fecundidade biológica. Queremos um filho para nos darmos a ele e para recebê-lo gratuitamente e, juntos a ele, ordenarmos nossa vida para o amor.

Queremos um filho para criá-lo juntos, na mesma casa, sob o mesmo teto, sob as mesmas alegrias e dores, com um monte de outros irmãos. (É isso mesmo, esqueci de mencionar que, para tornar meu estado ainda pior, queremos muitos, muitos filhos). Não queremos uma “produção independente” ou um fruto de “gravidez assistida”. Não o queremos para entregar para que outros criem. Queremos criá-lo! Queremos vê-lo tornar-se santo e dar a nossa vida para que isso realmente aconteça! Oh meu Deus, devo estar maluca!

Você vê a que ponto cheguei? Vê a que ponto me tornei esdrúxula com relação às outras mulheres? Vê o perigo que corro de não ser aceita, de não ser compreendida, de não ser considerada normal?

Você percebe a que ponto influenciei o meu marido a pensar como eu? Percebe como sou um perigo para a sociedade, para o progresso da ciência e para a saúde financeira dos laboratórios, clínicas de fertilização e hospitais? Vê como sou uma ameaça à eugenia disfarçada que estamos a praticar? Vê como sou perigosa para algumas idéias nazistas que se vêm espalhando sorrateiramente? Percebe como me tornei fora da lei do nosso país que, na prática, permite o aborto sob vários disfarces? Entende como sou um perigo para a modernidade relativista, hedonista, individualista? Então, você tem ou não como ajudar-me a não ser tão perigosa?

Você me acusa de irônica, de desrespeitosa, de insolente... seu olhar enche-se de ódio... Ei! ... O que está fazendo? Por que esta seringa? Por que este vidro de veneno? ... Vai injetá-lo em mim!... É a solução que encontrou?!? Sim, entendo. É preciso matar-me para eu não atrapalhar, não ameaçar, não estragar tudo planejado e gotejado nas consciências há tantas décadas. Sei que não tenho como correr daqui. As portas estão fechadas. Não há janelas. Só você, grande e forte, com a seringa mortífera na mão, nesta sala minúscula.

Você me segura com muita força. Estou imóvel. Sei que você vai me matar. Esta é a solução encontrada: matar. Matar sempre, matar de várias formas, matar sob vários disfarces. Sei que vai me matar. Deus perdoe. Mas, preciso dizer-lhe, esta doença que trago é tão perigosa, é tão poderosa que, quando se mata um portador, ela se espalha, misteriosamente, em milhares de outros. É o vírus que inocula os que se sabem amados por Deus. É bom você catalogá-lo e especificar sua ação antes de acabar comigo, pois não há como constatar sua presença através de exames. Guarde bem o nome em sua memória e digite-o assim que meu corpo cair sem o que você chama de vida. É o perigoso vírus do martírio."

Maria Emmir Oquendo Nogueira

Artigo baseado em texto de Georgette Blaquière
Em “Femmes sélon le Coeur de Dieu”, ed. Fayard

Fonte: Comunidade Shalom - http://www.comshalom.org/formacao/exibir.php?form_id=660

domingo, 28 de março de 2010

Aniversário de Santa Teresa de Jesus

Sendo hoje o aniversário do nascimento de Santa Teresa de Jesus, comemorado no dia 28 de março, partilhamos estes trechos do "Livro da Vida", onde ela relata aspectos importantes de sua família e de sua infância:
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"Ter pais virtuosos e tementes a Deus – se eu não fosse tão ruim – me bastaria, com o que o Senhor me favorecia, para ser boa.

Era meu pai homem de muita caridade para com os pobres e de compaixão para com os enfermos. Com os criados tinha tanta, que jamais se pôde conseguir que tivesse escravos, porque deles tinha grande dó. Estando uma vez em sua casa, uma escrava de um irmão seu, meu pai a tratava como a seus filhos. Ninguém jamais o viu jurar ou murmurar; era extraordinariamente honesto.

Minha mãe também tinha grandes virtudes e passou a vida com grandes enfermidades. Grandíssima honestidade. Com ser de muita formosura, jamais deu ocasião a que se entendesse que dela fazia caso porque, apesar de morrer aos trinta e três anos, seu traje já era como o de pessoa de muita idade. Muito pacífica e de grande entendimento. Foram
grandes os trabalhos pelos quais passou enquanto viveu. Morreu muito cristãmente.

Éramos três irmãs e nove irmãos. Por bondade de Deus, todos se pareceram com os pais, em ser virtuosos, menos eu, embora fosse a mais querida de meu pai. E, antes que eu começasse a ofender a Deus, parece que tinha alguma razão para isso, mas quando me recordo das boas inclinações que o Senhor me tinha dado, lastimo o mal que eu delas me soube aproveitar.

Eu dava esmola conforme podia; e podia pouco. Procurava solidão para rezar as minhas devoções que eram muitas, em especial o Rosário, do qual a minha mãe era muito devota e assim nos fazia sê-lo. Gostava muito, quando brincava, com outras crianças, de fazer mosteiros como se fôssemos freiras; e parece-me que desejava ser, embora não tanto como as outras coisas que já disse.

Recordo-me que, quando morreu minha mãe, fiquei da idade de doze anos, pouco menos. Quando comecei a perceber o que tinha perdido, fui, aflita, a uma imagem de Nossa Senhora e supliquei-Lhe, com muitas lágrimas, que fosse minha Mãe. Embora o fizesse com simplicidade, parece-me que me tem valido; porque conhecidamente tenho encontrado esta Virgem soberana, sempre que me tenho encomendado a Ela, e, enfim, fez-me Sua"

(Santa Teresa de Jesus, Livro da Vida)
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sábado, 27 de março de 2010

Família: central para vida da sociedade, indica Papa

Ao receber os bispos dos países escandinavos em visita “ad Limina”

CIDADE DO VATICANO, sexta-feira, 26 de março de 2010 (ZENIT.org).



- A família é fundamental para a vida de uma sociedade sadia, indicou Bento XVI ontem, ao receber no Vaticano os bispos dos países escandinavos (Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia) em visita ad Limina.
Recordando o enfraquecimento da instituição do matrimônio e da compreensão cristã da sexualidade humana, defendeu o direito das crianças de serem concebidas, “trazidas ao mundo e educadas dentro do matrimônio”.
“É através da relação segura e reconhecida dos seus próprios pais que elas podem descobrir sua identidade e alcançar seu próprio desenvolvimento humano”, afirmou, citando a instrução Donum Vitae.
Neste sentido, o Papa afirmou que, “em sociedades com a nobre tradição de defender os direitos de todos os seus membros, seria de esperar que a este direito dos filhos se desse prioridade, em relação a todo e qualquer alegado direito dos adultos a impor-lhes modelos alternativos de vida familiar e sem dúvida de qualquer suposto direito ao aborto”.
Abordando depois a questão da imigração, Bento XVI pediu que se garantisse a ajuda “a esses novos membros das vossas comunidades, para aprofundarem em seu conhecimento e compreensão da fé através de programas oportunos de catequese”.
Quanto à promoção das vocações, pediu que fosse feita “tanto entre os nativos quanto entre as populações imigrantes”, já que “do coração de qualquer comunidade católica sadia, o Senhor sempre chama homens e mulheres para servi-lo” na vida consagrada.
Em um âmbito mais geral, o Papa incentivou os bispos a transmitirem a mensagem social e ética da Igreja, elogiando as diversas iniciativas levadas a cabo neste sentido. E destacou o cuidado pastoral que deve ser prestado “aos casais nos quais apenas um dos cônjuges é católico”.
Constatando que a população católica do território é pequena em número e está estendida em uma ampla região, indicou que “é muito importante que percebam que, cada vez que se reúnem em torno do altar para o sacrifício eucarístico, estão participando de um ato da Igreja universal, em comunhão com os católicos do mundo inteiro”.
Destacando a importância da atividade ecumênica, animou os prelados a dedicarem suas energias à promoção de “uma nova evangelização”, priorizando “o incentivo e apoio aos vossos sacerdotes, que frequentemente têm de trabalhar isolados uns dos outros e em circunstâncias difíceis para administrar os sacramentos ao povo de Deus”.
Também pediu que comprovassem que os candidatos ao sacerdócio “estão bem preparados para esta tarefa sagrada”.
Finalmente, solicitou que garantissem “que os fiéis leigos valorizem o que seus sacerdotes fazem por eles e lhes ofereçam o ânimo e apoio espiritual, moral e material de que precisam”.

quarta-feira, 24 de março de 2010

O papel da família no terceiro milenio


Em foco


O papel da família no terceiro milênio
Fala o cardeal Ouellet, arcebispo de Quebec e primado do Canadá

Por Carmen Elena Villa

ROMA, sexta-feira, 19 de março de 2010 (ZENIT.org). – A primeira década do século XXI tem sido marcada por uma “confusão de valores e uma perda de referências”, realidade que atingiu muitas famílias. Foi o que afirmou na última quarta-feira o cardeal Marc Ouellet, arcebispo de Quebec e primaz do Canadá.

O purpurado discursou sobre o tema “O papel da família no terceiro milênio”, no congresso “Oriente e ocidente: em diálogo sobre o amor e a família”, realizado nesta semana no Instituto João Paulo II para Estudos sobre a Família e o Matrimônio da Pontifícia Universidade Lateranense de Roma.

“A humanidade vive hoje uma crise sem precedentes”, afirmou o cardeal Quellet, sublinhando alguns aspectos como a crise dos recursos naturais, o colapso financeiro, o terrorismo internacional e o relativismo moral – fenômenos, segundo ele, ligados à crise da fé. “No último século, modificou-se a imagem que o homem tem de si mesmo”, afirmou.

A crise cria também uma “confusão alimentada por uma linguagem ambígua”. Por isso, observa o purpurado, a crise atual “não é tão somente uma crise moral ou espiritual, mas principalmente antropológica, pois questiona a própria humanidade”.

Magistério e família

O purpurado lembrou como o Concílio Vaticano II foi capaz de abordar os desafios que se vislumbrava às portas do terceiro milênio. Destacou também como a Constituição Pastoral Gaudium et Spes tratou da questão da família, que deve viver “segundo a graça da semelhança trinitária”.

Da mesma forma, enfatizou a importância da família como “igreja doméstica”, afirmando que esta deve ser “recolocada no coração da Igreja”.

“A união introduz a família na relação entre Cristo e a Igreja, inaugurando uma nova dinâmica. Os cônjuges devem estar empenhados em amarem-se com Deus e em Deus”, acrescentou o purpurado.

Nutrir-se de Deus para projetar-se no mundo

O cardeal Oullet destacou como a Exortação Apostólica Familiaris Consortio de João Paulo II, publicada em 1981, constitui fruto das reflexões conduzidas durante o Concílio Vaticano II sobre a vocação e o papel da família, em especial sobre a necessidade de aprofundar o tema do homem e da mulher como seres criados à imagem e semelhança de Deus.

Recordou ainda que a vocação da família é ser “igreja doméstica”, com base nas palavras de São João Crisóstomo, que dizia “Faz de tua casa uma Igreja”, enfatizando que “há ainda muito a se descobrir neste sentido”, visto que a família não é apenas “uma imagem da Igreja, mas também uma realidade eclesial”.

No matrimônio, acrescentou o purpurado, verifica-se “a unidade do ‘nós’ não de maneira simbólica, mas real”, e os esposos “se doam e recebem a Cristo também no cotidiano”, como resultado de um “carisma de unidade, fidelidade e fecundidade”.

“O amor é o caminho da perfeição humana em Cristo”, assinalou o cardeal, mostrando como o amor conjugal representa a união de Eros e ágape. “Um amor plenamente humano, sensível, espiritual, fiel, exclusivo até a morte, que não se exaure e que continua a suscitar novas vidas”.

Um amor que, à semelhança da Trindade, “comporta em si uma abertura ao Filho, e, de maneira ainda mais profunda: o Filho e o Espírito que se doam aos esposos como fruto do amor”, uma comunhão que envolve “não apenas uma abertura ao Espírito e ao Filho, mas também à sociedade”.

Deste modo, indicou o arcebispo de Quebec, a família “participa da missão salvadora da Igreja”, de modo que tantos os esposos quanto os filhos se tornam “Focolares da comunhão interpessoal habitada por Cristo e escola de liberdade”, e assim podem “responder à confusão de valores da cultura de morte, da cultura da posse e do efêmero”.

sábado, 6 de março de 2010

Como escolher uma esposa

Eis os trechos principais de uma homilia de São João Crisóstomo intitulada "Como escolher uma esposa", publicada na seleção On Marriage & Family Life (pág. 89-114). A tradução para o inglês é de Catherine P. Roth e David Anderson e a editora é a St. Vladimir´s Seminary Press (Crestwood, Nova York, 2003).

* * *

1) Portanto, quando fordes escolher uma esposa, não examineis somente as leis do Estado, mas, antes, examineis as leis da Igreja. Deus não vos julgará no último dia segundo as leis do Estado, mas segundo Suas
leis.

2) Não é mesmo uma tolice? Quando estamos sob ameaça de perder dinheiro, tomamos todos os cuidados possíveis, mas quando nossa alma está sob risco de ser eternamente punida, nem ao menos prestamos atenção.

3) Tu sabes que tem duas escolhas. Se tu escolheres uma má esposa, terás de enfrentar aborrecimentos. Se não aceitares enfrentá-los, serás culpado de adultério por divorciar-te dela. Se tivesses investigado as leis do Senhor e as conhecesse bem antes de te casares, terias tomado muito cuidado e escolhido uma esposa decente e compatível com teu caráter desde o início . Se tivesses te casado com uma esposa assim, terias ganhado não apenas o benefício de não te divorciares dela como o benefício de amá-la intensamente, conforme Paulo ordenou. Pois quando ele diz Maridos, amem vossas esposas, ele não pára por aí, mas fornece a medida deste amor, como Cristo amou a Igreja.

4) Vejamos, porém, se a beleza e a virtude da alma da noiva atraiu o Noivo. Não, ela não era atraente nem pura, conforme estas palavras de Paulo: Ele se entregou por ela para a santificar, purificando-a com a lavagem da água (Efésios 5:25-26). [...] Apesar disso, Ele não abominou sua feiúra, mas neutralizou sua repulsividade, remoldando-a, reformando-a e remitindo seus pecados. Tu deves imitá-Lo. Mesmo que tua esposa peque contra ti mais vezes do que podes contar, tu deves perdoá-la em tudo.

5) Quando surge uma infecção em nossos corpos, não cortamos o membro fora, mas tentamos curar a doença. Devemos fazer o mesmo com uma esposa.

6) Mesmo que ela não apresente melhoras em função de nossos ensinamentos, assim mesmo receberemos uma grande recompensa de Deus pela nossa paciência e por termos mostrado tanto auto-domínio em temor
a Ele. Nós conseguimos suportar as maldades dela com nobreza, sem cortar o membro fora. Pois uma esposa é como se fosse um membro nosso, e por causa disso devemos amá-la. É precisamente isto que ensina Paulo: Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos...Porque nunca ninguém odiou a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Cristo à Igreja; porque somos membros do Seu corpo, da Sua carne, e dos Seus ossos (Efésios 5:28-30).

7) Devemos amar nossa esposa também porque Deus estabeleceu uma lei a esse respeito quando disse: Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne (Gênesis 2:24; Efésios 5:31).

8) Assim como o noivo deixa a casa de seu pai e junta-se à noiva, assim também Cristo deixou o trono de Seu Pai e juntou-se à Sua noiva.

9) De maneira geral, a vida é composta de duas esferas de atividade: a pública e a privada. Quando Deus a diviviu assim, Ele designou a administração da vida doméstica à mulher, mas ao homem designou todas as tarefas relativas à cidade, às questões comerciais, judiciais, políticas, militares e assim por diante. [...] De fato, o que quer que o marido pense sobre questões domésticas, a esposa o saberá melhor que ele. Ela é incapaz de administrar as questões públicas competentemente, mas ela é capaz de cuidar bem dos filhos, que é o maior dos tesouros. [...] Se Deus tivesse dotado o homem para administrar ambas as esferas de atividade, teria sido fácil aos homens dispensar o gênero feminino. [...] Por isso Deus não concedeu ambas as esferas a um sexo, para que nenhum deles pareça supérfluo. Mas Deus não designou ambas as esferas igualmente a cada sexo, para que a igualdade de honra não engendre rixas e conflitos. Deus preservou a paz reservando a cada um sua esfera adequada. Ele dividiu nossas vidas em duas partes, e deu a mais necessária e importante ao homem e a parte menor e inferior à mulher. Assim, Ele organizou a vida de maneira a que admirássemos mais o homem do que a mulher, pois seus serviços são mais necessários do que os dela, e para que a mulher tivesse uma forma mais humilde e, assim, não se rebelasse contra o marido.

10) Assim sendo, eis o que tu deves buscar em uma esposa: virtude de alma e nobreza de caráter, para que desfrutes de tranquilidade, para que luxuries em harmonia e amor duradouro.

11) O homem que se casa com uma mulher rica se casa com um chefe, e não com uma esposa. Porém, o homem que se casa com uma esposa em iguais condições ou mais pobre se casa com uma ajudante e aliada,
trazendo inúmeras bênçãos para dentro de casa. Sua pobreza a força a cuidar de seu marido com muito cuidado, obedecendo-o em tudo. [...] Portanto, o dinheiro é inútil quando se trata de encontrar um parceiro
de boa alma.

12) Assim sendo, deixemos de lado as riquezas da esposa, mas examinenos seu caráter e sua piedade e recato. A esposa recatada, gentil e moderada, mesmo que seja pobre, irá transformar a pobreza em algo muito melhor do que a riqueza.

13) Antes de mais nada, tu deves aprender qual o propósito do casamento, e por que ele foi introduzido em nossas vidas. Não te perguntes mais nada. Qual seria, então, o objetivo do casamento, e por que Deus o criou? Ouve o que Paulo diz: Mas, por causa da tentação à imoralidade, cada um tenha a sua própria mulher (I Coríntios 7:2). [...] Portanto, não despreza o maior nem busca o menor. A riqueza é muitíssimo inferior ao recato. É somente por este motivo que devemos buscar uma esposa: para evitarmos o pecado, para nos libertarmos de toda imoralidade.

14) A beleza do corpo, se não estiver aliada à virtuda da alma, será capaz de atrair o marido somente por uns vinte ou trinta dias, mas não conseguirá ir além disto antes que a perversidade da esposa destrua toda sua atratividade. Quanto àquelas que irradiam beleza de alma, quanto mais o tempo passsa e sua nobreza se evidencia, tanto mais aquecido será o amor do marido e tanto mais ele sentirá afeição por ela.

15) É por meio do recato que o marido conseguirá atrair à sua família a boa vontade e a proteção de Deus. É assim que os homens de bem dos velhos tempos se casavam: buscando nobreza de alma em fez de riqueza monetária.

16) Quando te decidires por uma eposa, não corre atrás de ajuda humana. Volta-te a Deus, pois Ele não se envergonhará de ser vosso casamenteiro. Foi Ele mesmo quem prometeu: Buscai primeiro o Reino de Deus, e todas estas coisas vos serão acrescentadas (Mateus 6:33). Não te perguntes: "Como posso ver a Deus? Afinal, Ele não falará nem conversará comigo de maneira explícita, e portanto não conseguirei Lhe fazer perguntas". Estas são palavras de uma alma de pouca fé. Deus pode facilmente organizar tudo da maneira que Ele quiser, sem o uso da voz.

17) A castidade é algo maravilhoso, mas é mais maravilhoso ainda quando está aliada à beleza física. As Escrituras nos falam sobre José e sua castidade, mas antes mencionam a beleza de seu corpo: José era formoso de porte, e de semblante (Gênesis 39:6). Em seguida, as Escrituras versam sobre sua castidade, deixando claro, assim, que a beleza não levou José a licenciosidade. Pois nem sempre a beleza causa imoralidade ou a feiúra causa recato. Muitas mulheres que resplandecem em beleza física resplandecem ainda mais em recato. Outras que são feias em aparência são ainda mais feias de alma, manchada por inúmeras imoralidades. Não é a natureza do corpo mas a inclinação da alma que produz recato ou imoralidade.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Santa Teresa e a economia


Teófanes Egidio in Introducción a la lectura de Santa Teresa, pp.88-103

Realmente extranha o peso quantitativo que o elemento econômico tem nos escritos de Teresa...

É muito significativo que o primeiro escrito seu conservado seja uma peça que reproduz, nem mais nem menos, a forma habitual de extender ordens de pagamento em seu tempo, e que sua última carta datada encara a inconveniência de fundar em Pamplona !se não é com alguma renda", dado que as esmolas daquele 1582 não eram já tão esperançadoras como das épocas passadas. Por fim morreu com o amargor de disgostos que parentes lhe ocasionaram por questões econômicas de herança.

No entreato movido de sua atividade, Madre Teresa teve que ver-se com pleitos inumeráveis, com angústias pecuniárias ou com fundações asseguradas por rendas generosas. TProntamente encontrou dinheiro inesperado (que chegam das míticas Índias) como soube da angústia reiterada de achar-se sem nada. Passou do sistema fundacional em pobreza (ao arbítrio da Providência) à convicção de não dar vida a nenhum mosteiro novo sem ter bem assegurados os recursos materiais. Não se consou de aconselhar sobre mil procedimentos, sobre inversões rentáveis, de conjurar apuros, de suscitar a assistência interconventual, de olhar com esperança para Sevilha, à espera de remessas que obssessionavam a todo castelhano daqueles tempos sobre os que, segundo Pierre Vilar, pesa a maldição do ouro.

1. Os metais preciosos como modelo da dinâmica espiritual

A sensibilidade para o fato econômico se manifesta em que, para fazer mais compreensíveis a seus leitores os fenômenos espirituais, não duvida em acudir aos sistemas monetários, aos metais preciosos, como modelo socorrido e corrente do mundo material, porém que vale para explorar os cristérios de valoração das dimensões sobrenaturais. Não esqueçamos as relações que ascendência de Teresa teve com este mundo do dinheiro...

É muito frequente a assimilação do oro a Deus e a suas obras, em recursos tão cordiais então àqueles castelhanos, tão parcos a maior parte das vezes no metal precioso como desejosos de possuí-lo. Entre estas obras de Deus sobressai, naturalmente, a da alma, para cuja descrição não encontra melhor recurso que compará-la com um castelo medieval, todo feito em diamante, como sucede nas Moradas, realizado pelo lapidador divino e ouro dos mais subidos quilates (1M 1,1 e carta ao P. Gaspar - 7.12.1577). Ouro, jóias, todo um conjunto de pedras preciosas fervem em sua pluma quando debate por tornar inteligíveis coisas divinas operadas na alma à medida em que entra na dinâmica da união, o grande presente que não pode provir do esforço humano, e "nele mesmo se vê não ser de nosso metal, senão daquele puríssimo ouro da sabedoria divina" (4M 2,6).

Pelo contrário, quando se trata de obras humanas, em especial se são da pobre Madre Teresa, acode-se à metáfora da moeda mais ínfima. Não às brancas, das que em tantas oc asiões da vida real se viu ameaçada, senão à moeda de cobre, quiçá fora do curso legal, como se de moeda velha e sem valor se tratasse. "Aqui ajudaremos com nosso vintém (cornadilho)", disse a d. Francisco de Salcedo, aludindo às orações com que compensá-lo pela sua generosidade (Carta 6.07.1568).

2. Gastos e ingressos de todos os dias

As fontes clássicas e as pessoas diretas não dão possibilidade para muito na intenão de captar a angustiosa e diária preocupação pela sobrevivência; não obstante cremos merece a pena insistir em um aspecto tão vital como este da vida de todos os dias, ainda mais quando um dos cuidados fundamentais da Fundadora concentrou-se em que nunca faltasse a suas filhas e filhos de comer, suficiente e bem, ainda que fosse às custas de sacrificar a abstinência, por exemplo (Carta 28.06.1568).

Segundo os livros de entradas e saídas do convento de Medina, onde Santa Madre foi priora - forçadamente - entre agosto e setembro de 1571, o capítulo fundamental de gastos é o constituído pela dieta de pão, ovos e azeite, completada geralmente com fruta e peixe, arroz e verdura. Pedro, o criado, os trabalhadores eventuais, as enfermas têm asse3gurada sua ração de boa carne, qinda que seja sexta-feira; o menu se enriquece em ocasiões com as mais variadas iguarias. À margem da comida, qualquer gasto extraordinário pode desequilibrar o pressuposto: uma viagem das superioras, o da própria fundadora, o envio de mensageiros especiais, alguma reparação no telhado ou na nora, etc, ultrapassam em muito os custos normais de alimentação e sacristia.

Quanto aos ingressos é simples: o produto do trabalho das monjas e a esmola do exterior. "Ajudem-se do labor de suas mãos" (Constituições 2), dedicação que preconiza contra os hábitos de sua época e que matiza até ao extremo para que não se converta em esgotante trabalho, mas que seja sossegado...

Com tais condicionantes a economia da casa ficava neste particular ao risco do encargo. O fato de ter-se conservado os livros de contas de fundações em centros industriais como Segóvia e Toledo, poderia-se medir o peso das comunidades como auxiliares de alguma fase da elaboração têxtil. Na verdade a esmola tem nestes centros uma importância muito maior, suporte autêntico da economia diária carmelitana.

Mas havia problemas. Em Ávila, por exemplo, as esmolas nunca foram muitas. Quando os abulenses ficaram sabendo de que o maior esmoleiro do convento, Francisco de Salcedo, deu uma minguada ajuda ao convento de São José ("que é tão pouco para comer, que ainda para jantar não se tem"), a cidade "retirou logo as esmolas que lhes davam (carta de 15.12.1581). Como último recurso as monjas correram para eleger Santa Teresa como priora. A observação da santa está cheia de humor e realismo: "me fizeram priora por pura fome" (carta de 8.11.1581).

3. O problema dos dotes e das rendas

De todas as formas as esmolas normais e o trabalho serviram para sair do apuro diário, mas nunca foram suficientes para afrontar os gastos consequentes à ereção das casas, aos extraordinários surgidos por causa do acondicionamento posterior, nem para enxugar dívidas de certa envergadura. Em tais circunstâncias a verdade é que abundaram os benfeitores generosos. Porém o aporte principal e permanente foi o dos dotes das professas.

Neste particular, como em todo o relacionado com o dinheiro, a mentalidade teresiana sofreu uma profunda, para não dizer radical, transformação à medida que seu programa original de reforma se foi matizando no contato com as realidades.

No princípio, traumatizada pela experi~encia da Encarnação, empenhou-se em eliminar tudo aquilo que pudesse constituir um atentado contra a mais estrita igaualdade comnitária.

Não obstante, deve-se encarar o risco de que, ao sonho da igualdade, a que entra "não entre só para remediar-se" (C 21,1; 14,1). Para obviar este outro perigo, porque nem o trabalho e a esmola bastavam, para conjurar a fome que se passa em São José ou em Beas, e ainda que siga pregando que se "as monjas são muito para nós que não temos de olhar tanto no dote", estabelecerá o princípio; "deixar de dar algum dote não convém" (carta 21,01.1577).

Uma história paralela se registra no que se refere às rendas. Ter rendas era o sonho do castelhano do século XVI. Santa Teresa não participou desta tendência inveterada. De ascendência judeu-conversa, convenvencida das exigências da pobreza, deparou-se com os hábitos correntes e, contra o costume de outros mosteiros, traçou a idéia dos seus sobre as bases econômicas do trabalho e da esmola, com escândalo e medo de muitos, com a complacência dos "espirituais", caminho que não foi tão fácil.

Não tardou, com a decisão de fundar os mosteiros sem renda alguma, a ver surgir dificuldades. Elas surgem quando sua previsão de fundar em núcleos urbanos bem dotados chocou-se ante a contingência de fundar em lugares sem tantos recursos econômicos, com risco para a esmola e com escassa esperança de colocar o produto do trabalho das monjas. Tal sucedeu com a fundação de Malagón, a terceira da série. Santa Teresa tinha que decidir diante de dois problemas. Um secundário: a dificuldade observar a abstinência da Regra; outro de mais transcendência: a necessidade de contar com uma renda. Santa Teresa resistiu à importunação de dona Luisa de la Cerda; porém nesta ocasião a tenaz senhora encontrou grandes aliados que acabaram por convencer a Santa e Malagón torna-se o primeiro mosteiro erigido sobre a plataforma econômica de ingressos fixos e seguros, levando, depois Santa Teresa a definir seu pensamento sobre o assunto. Superada a fase de vacilações, sua norma se esclarece:

"Sempre pretendi que os mosteiros com renda que fundava a tivessem de tal maneira que as monjas não precisassem dos parentes nem de ninguém, e que houvesse o bastante para o sustento e o vestuário, bem como um bom tratamento para as enfermas, porque da falta do necessário decorrem um sem-número de inconvenientes. E para trazer muitos mosteiros de pobreza sem renda nunca me falta coragem e confiança e por certo Deus não permitirá que me faltem; mas, para fazê-lops com renda, embora pouca, falta-me tudo e prefiro não fundar." Portanto, fica claro como as fundações sobre renda foram sempre uma excessão, justificada só pela penúria econômica do lugar...

4. O crédito e a inversão

Ainda que durante o curto tempo de sua vida de fundadora os conventos teresianos tivessem escassas possibilidades para a acumulação de capital invertível, em 1582 já se configura uma realidade: que junto a mosteiros que vivem de rendas coexistem outros endividados até a extremos preocupantes, como o de Ávila e de Sevilha. Uns recorrem a formas correntes de crédito para saldar sua economia deficitária, para afrontar gastos crescidos de edificação ou translado; outros aproveitam sistemas do momento para colocar suas sobras em inversões rentáveis. De tudo isso teve que estar a par a Santa Madre, preocupada ou tranquila, porém sempre imersa na maré de papelório, de operações financeiras de menor ou maior alcance, de contratos complicados cujas cláusulas tinha que ler e reler em todos seus pormenores para que não se repetisse o que aconteceu em Sevilha, quando por boa fé, o fiador, d. Lourenço de Cepeda, teve que correr para evitar a prisão por um imposto sobre vendas mal feitas (Fundações 25,9).

Estas operações a obssessionaram a tal ponto que aparecem como paradigmas em fenômenos espirituais. Tal sucede no Caminhho de Perfeição, quando para ressaltar o valor autêntico, perdurável da humildade e da obediência, diante de discutíveis gostos, mercês e arroubamentos, não tem outra ocorrência que estabelecer a seguinte comparação: " ...a moeda corrente, a renda segura, os juros perpétuos, em vez de censos remíveis, que se tiram e põem, são a grande virtude da humildade e da mortificação, da grande obedi~encia em não se popor em nada ao que ordena o prelado" (Caminho 19, 7).

Sua norma constante era de não acumular-se de juros e obter e gastar dentro das estreitas possibilidades. Se o recurso se faz inevitável, é imprescindível redimí-los o quanto antes, pela simples razão de que "seria muito bom ir quitando a carga" (carta 7.09.1574).

A prática de Santa Teresa é bem clara: quando é possível a opção, prefere o dinheiro constante e sonante aos títulos sobre a dívida pública ou privada. Ao menos para com estes últimos sente uma confessada aversão, pis nem todos os afetados tinham as mesmas condições que ela para tornar efetivos os juros. É o que diz a seu irmão: "Pensa que em cobrar os censos não há trabalho? Andar sempre em execuções. Olhe que é uma tentação" (carta 2.01.1577).

É compreensível que o fenômeno sobrenatural de uma personalidade extraordinária como a de Teresa tenha deslumbrado e drenado as preocupações dos teresianismas para ângulos menos mundanos que os da economia. Porém, é como ela mesma lamenta, mas faz parte de sua vida e missão: "faz tempo que tinha abandonado dinheiros e negócios, e agora quer o Senhor que não trate de outra coisa".


do blog:http://provsjose.blogspot.com/2009_08_01_archive.html

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Superar problemas de controle e confiança no casamento

Entrevista com o psiquiatra católico Richard Fitzgibbons

Por Genevieve Pollock

WEST CONSHOHOCKEN, segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010 (ZENIT.org).

- Muitos casais e famílias de hoje sofrem problemas de controle e confiança, afirma o psiquiatra Richard Fitzgibbons. Mas, graças aos sacramentos e à prática da virtude, estes problemas podem ser superados.
Este foi o tema de um recente encontro virtual de uma série patrocinada pelo Institute for Marital Healing, que oferece recursos para casais, conselheiros e clero sobre temas referentes à paternidade, idade adulta, vida familiar e casamento.
Fitzgibbons, diretor do instituto, trabalhou com milhares de casais e escreveu extensamente sobre estes temas. Em 2008, foi nomeado também como consultor da Congregação para o Clero, da Santa Sé.
Nesta entrevista com Zenit, Fitzgibbons fala sobre as causas modernas dos problemas de confiança, a diferença entre ser forte e controlador e as virtudes particulares que oferecem um antídoto para este problema.
- Você menciona que a seção mais popular do seu site é a dedicada ao cônjuge ou familiar controlador. Por que você acha que há tanto interesse neste tema?
Fitzgibbons: De fato, nós nos surpreendemos com a resposta das pessoas na seção do esposo ou esposa controlador.
Após pensar e rezar sobre este assunto, cheguei a uma compreensão mais profunda dos graves fatores pessoais e culturais que estão contribuindo para uma tendência a dominar ou a não confiar nos demais, algo que dá como resultado a necessidade de controlar.
- Você poderia descrever brevemente as características de uma pessoa controladora?
Fitzgibbons: A pior fraqueza de caráter em uma pessoa que cai na tendência a controlar – e todos nós podemos cair às vezes – é tratar o cônjuge (que é um grande dom de Deus) com falta de respeito.
A pessoa controladora se volta totalmente para si mesma, de tal forma que não consegue ver a bondade do seu cônjuge.
A outra grande fraqueza é deixar-se levar com rapidez e em excesso pela cólera. Os cônjuges e familiares controladores são também irritáveis e costumam estar tristes porque, de fato, não é possível controlar ninguém, dado que temos uma dignidade e um vigor como filhos de Deus.
Finalmente, as tendências controladoras afetam a entrega sadia e carinhosa no casamento e reforçam o egoísmo, uma das principais causas dos comportamentos controladores.
- Que danos podem ser causados por cônjuges ou familiares controladores?
Fitzgibbons: Os comportamentos controladores causam dano na amizade do casal, no amor romântico e no amor prometido, três áreas essenciais da entrega matrimonial que João Paulo II descreve em “Amor e Responsabilidade”.
A falta de respeito leva o outro cônjuge a sentir-se triste, bravo, desconfiado e inseguro. A não ser que esse conflito seja tratado de forma adequada e correta, podem desenvolver-se graves problemas, incluindo a depressão, ansiedade, abusos graves, infidelidade, separação e divórcio.
- Em nossa rápida sociedade, em que se exige das pessoas que controlem e dominem tantos aspectos da sua vida – economia, saúde, trabalho, família etc. –, uma natureza controladora não seria mais uma vantagem, inclusive uma necessidade para sobreviver? Você vê algo positivo neste tipo de personalidade?
Fitzgibbons: Sim, a confiança e o vigor são características saudáveis na personalidade, que nos permitem responder a muitos desafios no grande sacramento do matrimônio e na vida familiar.
No entanto, é necessário o crescimento diário nas virtudes, de maneira que um marido não pode cruzar a linha porque possui estas qualidades e converter-se assim em controlador.
As virtudes que são essenciais para equilibrar o dom da fortaleza são a amabilidade, a humildade, a mansidão, o autocontrole e a fé.
Uma das metas do casamento é a fortaleza e a confiança, mas não o controle. Convido muitos maridos fortes a rezarem a São Pedro para que os proteja e assim não sejam líderes controladores do seu lar.
- Você indica que, no coração de uma personalidade controladora, costuma haver problemas de confiança. Poderia ampliar isso?
Fitzgibbons: Uma importante causa da tendência a controlar ou dominar é o fato de ter prejudicado, na infância, a capacidade de uma pessoa de confiar ou sentir-se segura.
Depois, os cônjuges podem deixar-se levar de maneira inconsciente pelo medo, até uma forma de agir controladora, isto é, só se sentem seguros quando têm o controle, algo que certamente nunca terão. No passado, os conflitos comuns da infância eram o alcoolismo, os enfrentamentos entre os pais e a experiência de um progenitor controlador.
Os motivos mais recentes de graves danos à confiança durante a infância são a cultura do divórcio, a creche e a epidemia de egoísmo nos pais, causados em grande parte pela uma mentalidade anticonceptiva. Além disso, os homens inseguros assumem comportamentos controladores em uma tentativa de estimular sua confiança masculina. Nos adultos jovens, a cultura das relações diversas também danifica gravemente sua capacidade de confiar sem que eles percebam.
Finalmente, no Catecismo da Igreja Católica, descreve-se um fator espiritual importante que não deveria ser deixado de lado: “Todo o homem faz a experiência do mal, à sua volta e em si mesmo. Esta experiência faz-se também sentir nas relações entre o homem e a mulher. Desde sempre, a união de ambos foi ameaçada pela discórdia, o espírito de domínio, a infidelidade, o ciúme e conflitos capazes de ir até ao ódio e à ruptura” (n. 1606).
- Como uma pessoa pode começar a enfrentar estes temas e mudar seu jeito controlador? Como uma pessoa pode ajudar alguém a quem ama e que pode ser controlador?
Fitzgibbons: O primeiro passo é a necessidade de descobrir esta grave fraqueza matrimonial.
Se os esposos confiassem mais em Deus dentro dos seus casamentos, não temeriam enfrentar esta dificuldade e buscar superá-la.
A mudança necessária pode acontecer por um compromisso de crescer em confiança em Deus e no próprio cônjuge, por um processo de perdão àqueles que, na infância, prejudicaram a confiança, por uma decisão de deter os repetidos comportamentos controladores de um pai, pela meditação regular sobre o fato de que Deus tem o controle e pelo crescimento em numerosas virtudes, entre as quais estão incluídos o respeito, a fé, a amabilidade, a humildade, a magnanimidade e o amor.
O papel da fé pode ser muito eficaz para enfrentar esta grave fraqueza de caráter. Vimos notáveis melhorias na luta contra isso através da graça no sacramento da reconciliação. Animamos os casais católicos controladores a buscarem a cura neste poderoso sacramento.
Além disso, as esposas controladoras podem se beneficiar do aprofundamento em sua relação com Nossa Senhora, vendo-a como modelo e adquirindo suas virtudes, descritas por São Luis Maria Grignion de Monfort no “Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem”.

Os maridos controladores serão beneficiados pela meditação sobre São José, na qual podem pedir-lhe que os ajude a ser amáveis, sensíveis, líderes entregados e alegres em seus casamentos e famílias.
- Como psiquiatra, quando você acha que deveria ser sugerido que se busque ajuda externa, de um sacerdote ou conselheiro, para curar as feridas emocionais de uma pessoa?
Fitzgibbons: Recomendo ir a um sacerdote antes de ir a um conselheiro, porque muitos profissionais da saúde mental apoiam a atual cultura do egoísmo.
Brad Wilcox, um jovem sociólogo católico da Universidade de Virgínia, escreveu sobre a influência do campo da saúde mental no casamento: “A revolução psicológica, ao centrar-se na realização individual e no crescimento pessoal, deu como resultado que o casamento acaba sendo visto como um veículo para uma ética orientada à própria pessoa, uma ética do romance, da intimidade e da realização”.
“Nesta nova postura psicológica dentro da vida matrimonial, a obrigação primária da pessoa não é a própria família, mas ela mesma; daí que o êxito matrimonial tenha sido definido não como o cumprimento exitoso das obrigações com relação ao cônjuge e aos filhos, mas como uma sensação forte de alegria subjetiva no casamento – que se encontraria em e através de uma relação intensa e emocional com o cônjuge.”
Acreditamos que um compromisso sincero de cada um dos cônjuges por crescer no conhecimento de si mesmo e nas virtudes pode resolver o conflito de um esposo controlador sem a necessidade de uma terapia de casal. Não obstante, estão disponíveis novas fontes de referência matrimonial, fiéis aos ensinamentos de Cristo, nos sites de Catholic Therapist e Catholic Psychotherapy.
A intercessão de Nossa Senhora em Caná conduziu ao primeiro milagre do Senhor, levando mais alegria a um jovem casal. Convidamos os casais católicos a lutarem contra os conflitos de controle e egoísmo dirigindo-se a Ela, para outro milagre em seus casamentos.
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Na internet:
Institute for Marital Healing: http://www.maritalhealing.com/

domingo, 7 de fevereiro de 2010

DOMINGO, 7 DE FEVEREIRO DE 2010 Se quiser ser santo, entre num Carmelo


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Instaurado processo de canonização de religiosa que viveu no interior de São Paulo

Por Alexandre Ribeiro

TREMEMBÉ, domingo, 7 de fevereiro de 2010 (ZENIT.org).- “O Carmelo é um vergel de santos. Se quiser ser santo, entre num Carmelo”. Com alegria e bom humor, as carmelitas de Tremembé (135 km de São Paulo) anunciaram a introdução da Causa de Canonização de Madre Maria do Carmo da Santíssima Trindade.

Neste domingo, 7 de fevereiro, o bispo de Taubaté, Dom Carmo João Rhoden, preside à cerimônia de introdução da Causa de Madre Maria do Carmo, conhecida como Carminha de Tremembé, fundadora do Carmelo Santa Face e Pio XII, onde hoje vivem 19 carmelitas, nessa cidade do Vale do Paraíba, interior do Estado de São Paulo.

Ao descrever o Carmelo como um “vergel de santos”, Madre Thereza Maria, uma das responsáveis pelo processo de canonização, não exagera. Santa Teresa d’Ávila, São João da Cruz e Santa Teresinha do Menino Jesus, para recordar três, são santos carmelitas doutores da Igreja.

Mas qual é a alegria de viver num Carmelo? “É viver para Ele, viver para Jesus”, respondem com sorrisos nos lábios, quase em coro, as cinco religiosas que receberam ZENIT na semana passada para conversar sobre sua Madre fundadora.

Madre Maria do Carmo (Carmen Catarina Bueno) nasceu em Itu, interior de São Paulo, a 25 de dezembro de 1898. Aos 18 anos, foi noiva. Mas, ao ingressar em um renomado colégio religioso em São Paulo, que o noivo, de família rica, indicara para que aprimorasse seus conhecimentos e se preparasse para o matrimônio, deu seu sim à vocação religiosa.

No colégio em São Paulo, em meio aos estudos humanísticos e ao amor pela literatura e poesia, depara a “História de uma Alma”, da futura Santa Teresinha. Então decide ser como a jovem de Lisieux, carmelita.

Em 1926, aos 27 anos, Carminha ingressa no Carmelo São José, no Rio de Janeiro. Ali exerce o papel de mestra de noviças, sub-priora e priora. Em 1955 deixa o Rio para ir fundar o Carmelo da Santa Face e Pio XII, em Tremembé.

Sob sua liderança e determinação, em dois anos, uma ala e meia do mosteiro estava construída. Em mais alguns anos toda área já estaria estruturada, com capela, refeitório, jardins e chácara.

Ali desenvolve sua vida em oração e humildade, virtude destacada pelas religiosas que conviveram com ela. Dedicou grande atenção à formação do noviciado e ao cuidado das irmãs de comunidade.

Em letra firme e bela, exprimiu em poemas, durante toda vida, a sofisticação de seu espírito e a total entrega ao amor de Deus.

Ao refletir sobre a morte, confessou em soneto: “Não posso mais, ó Deus meu Pai, sofrer / do céu a nostalgia que consome... / o anseio torturante de vos ver / é gozo que crucia, é dor sem nome! / Se apenas um vislumbre de prazer, / do amor que se revela e que não dorme, / o exílio transfigura e o padecer... / que então será, no Céu, saciar a fome” (...).

Madre Caminha morreu em 1966, acometida de derrame cerebral. Tinha 67 anos. Sua fama de santidade extrapolou a clausura do Carmelo em 1972. Havia o projeto de mudar o mosteiro para a cidade de Mairinque (São Paulo). Seu túmulo foi aberto e constatou-se a conservação do corpo.

“Parecia a tarde do enterro”, conta Madre Teresa Margarida, priora do Carmelo. “Até as flores estavam conservadas”, recorda a priora, que conviveu durante 10 anos com Madre Carminha.

A partir desse episódio, a fama de santidade se espalhou pelos Carmelos e comunidades. O povo de Tremembé se mobilizou e impediu que o corpo e o mosteiro completo mudassem de cidade.

Um depoimento gravado do médico que acompanhou a exumação revela sua surpresa: “Estou profundamente emocionado”, disse o Dr. Mário Degni, da Universidade de São Paulo.

No entanto, os próprios técnicos que procederam à exumação indicaram que o corpo fosse recolocado na sepultura, deixando duas aberturas, por onde ventilasse o ar, para ver se se desfazia. De fato, o corpo foi-se desfazendo, o que se constatou em exumações posteriores.

A indicação de Igreja, porém, “é não mexer”, explicou Madre Thereza Maria, que reconhece que, por desinformação, houve um erro ao fazer as aberturas no caixão.

Mas a posterior decomposição do corpo não comprometeu a devoção. O fiéis passaram a se dirigir cada vez mais à intercessão de Madre Carminha em pedidos de cura e bênçãos de Deus.

Segundo as carmelitas de Tremembé, há dois casos de milagres que já poderiam integrar o processo de canonização: o de um recém-nascido curado de uma luxação congênita no joelho (hoje uma criança de dois anos que corria pelo jardim do Carmelo um dia antes de ZENIT visitar as religiosas). E o caso de um adulto que, já desenganado pelos médicos, foi curado de peritonite aguda. Hoje é um senhor que propaga a devoção a Madre Carminha.

Deus sabe se no futuro o nome de Madre Carminha de Tremembé constará no vergel de santos do Carmelo. Mas o que a Igreja sabe é que a cada dia aumentam os fiéis que se dirigem à madre poetiza, que viveu a humildade no claustro.

De Carminha de Tremembé permanecem a fama de santidade, os belos poemas, o testemunho de vida. E também algo que, de certo modo, fica de toda religiosa de clausura, cujo testemunho fortalece a esperança e alimenta o mundo de amor.

Uma vida clarividente, refletida em versos. Escreve Carminha: “Um terno olhar de Deus em mim poisando / e do Carmelo eu vim bater à porta, / entre risos e lágrimas sonhando / ser – hóstia de Jesus, ou viva ou morta... / Custou-me o sacrifício... mas que importa, / se a dor que mora na alma vai cantando? / Se os olhos jorram pranto? A fé transporta / além e faz sorrir quem sofre amando... / Hóstia de expiação... hóstia a cantar / a loucura da cruz e o Amor supremo / que da terra meu ser desprende e arranca... / Corpo de Luz – sacrário a custodiar / na solidão, na prece e zelo extremo / minha alma – Hóstia eternamente branca!”


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