"Poderíamos aqui meditar sobre como seria saudável também para a nossa sociedade atual se num dia as famílias permanecessem juntas, tornassem o lar como casa e como realização da comunhão no repouso de Deus" (Papa Bento XVI, Citação do livro Jesus de Nazaré, Trad. José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ, São Paulo: Ed. Planeta, 2007, p. 106)

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Socorro! Queremos um Filho!

Socorro! Queremos um Filho!

"Por favor, socorra-me! Há algo estranho acontecendo comigo e com meu marido: queremos um filho! Sei que não é nada comum alguém querer um filho hoje em dia, por isso estou pedindo socorro. Ocorre que queremos um filho. Queremos dar a vida, dar à luz, pôr no mundo, como você quiser chamar, mas queremos um filho.

O mais espantoso é que queremos um filho não para nós mesmos, nem para nossa realização nem para nos sentirmos bem ou curtirmos a experiência de sermos pais. Queremos um filho por ele mesmo! Não é incrível?!? Não o queremos para ter uma experiência gratificante. Queremos um filho como uma pessoa única, por quem ele é, seja ele como for.

Não me entendo, devo estar ficando maluca, mas queremos um filho seja ele feio ou bonito, inteligente ou burro, alto ou baixo, verde, azul, marrom, branco, vermelho, amarelo, não importa. Queremos por ele mesmo, não por nós, entende? Isso me deixa preocupada. Sou diferente de todas. Acho que influenciei meu marido. Por favor, ajude-me!

A coisa é tão grave, que queremos um filho mesmo que seja anencéfalo, mesmo que seja fruto de um estupro, mesmo que seja Down, mesmo que não ouça, não veja, não ande, não fale... Sim, sei que é grave, mas queremos um filho por ele mesmo!!!

Do mais profundo de nós mesmos, sobe um grito: queremos um filho para amá-lo, para nos entregarmos a ele, para servi-lo em sua dependência e fragilidade, em sua vulnerabilidade inicial. Queremos, em Deus, dar a vida para que ele tenha vida, você entende? Sei que é insano, mas queremos seguir seu crescimento, seu desenvolvimento vida afora, queremos gerá-lo para Deus e para a humanidade, ainda que isso nos custe a saúde, a beleza, a vida. Estranho, mas queremos um filho não por nós, mas por ele mesmo, não para nosso prazer, mas para que ele seja quem Deus quer que ele seja e queremos colaborar para isso com todas as nossas forças, em meio a alegrias e dores.

Está vendo como é grave? A imagem de Deus segundo a qual fomos criados nos empurra a fazer a oferta de nós mesmos a um filho, me empurra a ser mãe de um filho por ele mesmo. É mais forte do que eu! Ajude-me, o que faço?

Não sei explicar direito, mas é como se a fecundidade que Deus pôs em nós fosse mais que biológica, semelhante à dos animais. É como se fosse... deixe-me ver... ahn... uma participação do poder criador de Deus que é Pai e não somente continuador ... preservador de espécie, entende? Que horror! Estou tão doente que só de falar em ter filho para preservar a espécie, para continuar a família, me sinto mal! Ajude-me! Sou chamada a ser mãe como Deus é Pai e não como uma gata é mãe! É grave, já lhe disse! Não me negue sua ajuda!

Para agravar mais ainda meu caso, queremos um filho de nossas entranhas, gerado em um ato conjugal, um belo presente-surpresa de Deus que não só participa, mas governa nosso matrimônio! É, ainda tem essa: meu marido e eu casamos virgens. Sou casada sempre com o mesmo homem, e casada na Igreja, como se diz.

Por favor, não se espante demais! Tenho medo de que me abandone, de que desista de me ajudar, mas preciso ser verdadeira: minhas entranhas são raham, como dizem os hebreus. São entranhas para dar a vida... Não me olhe assim, por favor. Acho que errei quando mencionei os hebreus, mas é que eles são meus irmãos mais velhos... Perdão se tenho que mencionar João Paulo II, sei que lhe desagrado. Posso continuar?

Queremos um filho que não seja programado em um consultório médico. Queremos um filho home made, que não seja manipulado em laboratório. Não queremos escolher a cor de seus olhos, de sua pele, de seus cabelinhos. Não queremos programar ou aprimorar seu DNA, queremo-lo como Deus o quiser, queremos estender as mãos para o céu e recebê-lo como um presente de Deus colocado por meu marido em minhas entranhas. As entranhas raham têm de participar, entende?

Perdoe-me. Sei que não estou sendo moderna, nem emancipada, nem dona do meu próprio filho, como se faz hoje em dia. Sei que estou fora da mentalidade e fora da lei. É exatamente por isso que peço ajuda. Estou diferente demais dos outros. Devo estar doente.

Não tomo anticoncepcionais, não uso DIU, não aplico compressas hormonais, não fico como histérica preocupada a contar dias para lá e para cá, meu marido não usa preservativos. Sei que é extraordinário, mas queremos um filho que venha como fruto de sabermos que nossa fecundidade humana é apenas parcial e que a verdadeira fecundidade vem de Deus e não queremos inverter isso. Deus vem primeiro com relação ao meu filho. Eu até já digo a Ele que é o nosso filho. Não é de preocupar? Queremos um filho que não nasça da vontade da carne, que controla tudo, que pretende ter nas mãos as rédeas da criação. Queremos um filho que nasça do Espírito e no Espírito seja educado para Deus.

Será que estou com aquela doença de quem tem mania de ser Deus? Porque, na verdade, queremos um filho por ele mesmo porque, como disse João Paulo II ... ops, desculpe! Mencionei outra vez... Bem, como ele disse, Deus nos quis por nós mesmos, únicos aos seus olhos, dons Dele dados ao mundo pela mediação das leis biológicas e desejo dos nossos pais. Como é mesmo o nome desta enfermidade na qual a pessoa pensa que é Deus ou um santo qualquer? Será que é ela que nos aflige, que nos faz tão diferentes das outras pessoas?

Ocorre que queremos entrar na alegria e experimentar o riso de Sara, participando da alegria de Deus ao acolher um filho por ele mesmo, sabendo que todas as criaturas de Deus são boas, como diz Timóteo. Queremos um filho para viver com ele a experiência da fecundidade que transcende a fecundidade biológica. Queremos um filho para nos darmos a ele e para recebê-lo gratuitamente e, juntos a ele, ordenarmos nossa vida para o amor.

Queremos um filho para criá-lo juntos, na mesma casa, sob o mesmo teto, sob as mesmas alegrias e dores, com um monte de outros irmãos. (É isso mesmo, esqueci de mencionar que, para tornar meu estado ainda pior, queremos muitos, muitos filhos). Não queremos uma “produção independente” ou um fruto de “gravidez assistida”. Não o queremos para entregar para que outros criem. Queremos criá-lo! Queremos vê-lo tornar-se santo e dar a nossa vida para que isso realmente aconteça! Oh meu Deus, devo estar maluca!

Você vê a que ponto cheguei? Vê a que ponto me tornei esdrúxula com relação às outras mulheres? Vê o perigo que corro de não ser aceita, de não ser compreendida, de não ser considerada normal?

Você percebe a que ponto influenciei o meu marido a pensar como eu? Percebe como sou um perigo para a sociedade, para o progresso da ciência e para a saúde financeira dos laboratórios, clínicas de fertilização e hospitais? Vê como sou uma ameaça à eugenia disfarçada que estamos a praticar? Vê como sou perigosa para algumas idéias nazistas que se vêm espalhando sorrateiramente? Percebe como me tornei fora da lei do nosso país que, na prática, permite o aborto sob vários disfarces? Entende como sou um perigo para a modernidade relativista, hedonista, individualista? Então, você tem ou não como ajudar-me a não ser tão perigosa?

Você me acusa de irônica, de desrespeitosa, de insolente... seu olhar enche-se de ódio... Ei! ... O que está fazendo? Por que esta seringa? Por que este vidro de veneno? ... Vai injetá-lo em mim!... É a solução que encontrou?!? Sim, entendo. É preciso matar-me para eu não atrapalhar, não ameaçar, não estragar tudo planejado e gotejado nas consciências há tantas décadas. Sei que não tenho como correr daqui. As portas estão fechadas. Não há janelas. Só você, grande e forte, com a seringa mortífera na mão, nesta sala minúscula.

Você me segura com muita força. Estou imóvel. Sei que você vai me matar. Esta é a solução encontrada: matar. Matar sempre, matar de várias formas, matar sob vários disfarces. Sei que vai me matar. Deus perdoe. Mas, preciso dizer-lhe, esta doença que trago é tão perigosa, é tão poderosa que, quando se mata um portador, ela se espalha, misteriosamente, em milhares de outros. É o vírus que inocula os que se sabem amados por Deus. É bom você catalogá-lo e especificar sua ação antes de acabar comigo, pois não há como constatar sua presença através de exames. Guarde bem o nome em sua memória e digite-o assim que meu corpo cair sem o que você chama de vida. É o perigoso vírus do martírio."

Maria Emmir Oquendo Nogueira

Artigo baseado em texto de Georgette Blaquière
Em “Femmes sélon le Coeur de Dieu”, ed. Fayard

Fonte: Comunidade Shalom - http://www.comshalom.org/formacao/exibir.php?form_id=660

Um comentário:

  1. Belíssimo texto!

    Quem sabe ele não desperta alguns deste pesadelo chamado "mentalidade contra-vida"?

    Obrigada por divulgar!

    paz

    Julie Maria

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