"Poderíamos aqui meditar sobre como seria saudável também para a nossa sociedade atual se num dia as famílias permanecessem juntas, tornassem o lar como casa e como realização da comunhão no repouso de Deus" (Papa Bento XVI, Citação do livro Jesus de Nazaré, Trad. José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ, São Paulo: Ed. Planeta, 2007, p. 106)

domingo, 25 de outubro de 2015



NOVENA DE SANTA TERESA DE JESUS - CARMELO DE TRINDADE 



NONO DIA DA NOVENA DE SANTA TERESA DE JESUS CARMELO DE TRINDADE (8)



Homilia do dia 06/10/15 -  Novena de Santa Teresa de Jesus.

A vivência das virtudes” – A importância da família na prática das virtudes em Santa Teresa.

Como Santa Teresa começou a despertar a sua alma na infância para as coisas virtuosas e de quanto contribuiu para isso os pais serem virtuosos.
No Livro da Vida (um livro autobiográfico que Santa Teresa escreveu), no primeiro comentário que ela faz sobre seu pai, ressalta o quanto ele a incentivava a ler bons livros. Lembramos que naquela época (séc. XVI) era bastante comum que as mulheres fossem analfabetas, mesmo as de famílias ricas, que eram educadas apenas para serem boas esposas e mães.
Em seguida, Teresa sublinha a bondade de seu pai para com os menos favorecidos, dizendo: “meu pai era um homem muito caridoso para com os pobres e tinha muita compaixão para com os enfermos e até mesmo com os criados; tanto que jamais se pôde conseguir que tivesse escravos, porque lhes tinha uma grande compaixão (V1,1).   “Certa vez uma escrava do irmão de meu pai estava em nossa casa e ele a tratava como a um de seus filhos”.
Estamos falando de algo que ocorreu no séc. XVI e ]e bom lembrarmos que a escravidão no Brasil perdurou até fins do séc.XIX.
Dom Alonso, pai de Santa Teresa, trabalhava também como voluntário em um hospital de indigentes, situado próximo à sua casa.
Embora tivesse em sua família muitos bons exemplos de piedade e compaixão para com os outros e, desde pequena fosse bastante virtuosa, a verdade é que Teresa não herdou espontaneamente o modo de ser de seus pais. Ela mesma confessa no Livro da Relações (R2,4): “Eu não tinha piedade natural”. Em outras palavras, foi algo que ela teve que aprender e conquistar lentamente.  Podemos dizer que foi sua relação com Jesus Cristo e o seu caminho de seguimento a ele que fizeram seu coração se abrir a esta realidade e a aproximar-se desta exigência: amar os pequeninos, amar os pobres.
Quando aconteceu esta conversão?
Evidentemente, conversão é um processo e não é algo mágico que acontece de uma hora para outra. No entanto, podemos dizer que existem momentos pontuais, especiais, carregados de densidade experiencial que marcam  este processo de conversão. No caso de Teresa, ela situa-o em sua experiência mística diante do Cristo muito chagado (Vida 9,1) . Ali ela tomou consciência verdadeira da solidariedade de Jesus para com todos. Ali também percebeu o quanto era “mal agradecida” por aquelas chagas”. Algo de muito especial, profundo e fundamental desencadeou-se no íntimo de Teresa tanto que a aproximou dos pobres e a fez querer viver como os pobres: “Quando voltei  à oração e olhei o Cristo tão pobre e despojado de suas vestes, não suportava a ideia de riquezas. Eu lhe suplicava com lágrimas que encaminhasse as coisas na minha vida de maneira que eu me visse tão pobre quanto Ele (Vida 35,3)
Sem dúvida, o caráter de Teresa foi moldado pela boa educação que recebeu de seus pais e o ambiente familiar foi igualmente decisivo para que ela crescesse com um coração bom (a tão exaltada “magnanimidade de coração vasta como a areia da praia do mar”, que frades e monjas carmelitas rezam na antífona teresiana são fruto de todas estas influências).
Como era a família de Santa Teresa?
           No início do Livro da Vida, Santa Teresa faz uma apresentação da família em que nasceu.  Refere-se ao seu pai como um homem de cultura, “afeiçoado a ler bons livros”. O gosto pela leitura, pelos estudos e pelas letras acompanhará Teresa por toda sua vida. Tanto que ela sempre preferiu os padres “letrados” para que fossem confessores das monjas do que os “santos iletrados”. Teresa tinha um profundo desejo de conhecer melhor “os grandes segredos da criaturas” (4Moradas 2,2), o mundo, as pessoas, a vida e a teologia (como ciência, conhecimento de Deus).  (***)
De sua mãe, Dona Beatriz, Teresa diz que era uma mulher muito piedosa. Dona Beatriz morreu muito cedo (tinha apenas 34 anos) deixando Teresa órfã por volta de seus treze ou quatorze anos de idade (ela mesma não lembrava com exatidão a data). Dela herdou a devoção à Virgem Maria:  “Minha mãe tinha o cuidado de fazer-nos rezar e ter devoção por Nossa Senhora e por alguns santos, começou a despertar-me com a idade de mais ou menos seis ou sete anos”. (V1,1) “Recordo-me de que quando minha mãe morreu, eu tinha doze anos, ou um pouco menos. Quando comecei a perceber o que havia perdido, ia aflita a uma imagem de Nossa senhora e suplicava-lhe, com muitas lágrimas, que fosse ela a minha mãe”. (V1,7)
Teresa tinha onze irmãos: nove homens e duas mulheres (três com ela). Dentre eles, parece que a santa tinha uma especial predileção pelo irmão Rodrigo, companheiro de aventuras espirituais na infância. Rodrigo era o irmão que o precedia em idade. (Teresa era a quinta ou sexta filha). Todos os irmãos (homens) partiram para terras distantes. A relação de Santa Teresa com seus irmãos nem sempre era algo fácil. Teve que encarregar-se da educação da irmã mais nova (Joana). Quando o seu pai morreu teve que enfrentar o desentendimento entre as irmãs por causa da herança. Intermediou para que o irmão Lourenço tivesse paciência com as excentricidades e histeria do mais novo, Pedro. Uma família normal como todas as outras, com suas virtudes e problemas…
Santa Teresa, já em sua época mostrava-se preocupada com a situação das famílias em geral: “O mundo vai de tal maneira que, se o pai tiver uma condição inferior ao filho, este não se julga honrado em reconhecê-lo como pai” (Caminho 27,5)

Frei Marcos Matsubara

Nenhum comentário:

Postar um comentário