"Poderíamos aqui meditar sobre como seria saudável também para a nossa sociedade atual se num dia as famílias permanecessem juntas, tornassem o lar como casa e como realização da comunhão no repouso de Deus" (Papa Bento XVI, Citação do livro Jesus de Nazaré, Trad. José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ, São Paulo: Ed. Planeta, 2007, p. 106)

sexta-feira, 11 de maio de 2012

CATEQUESE PREPARATÓRIA PARA O VII ENCONTRO MUNDIAL DAS FAMÍLIAS - CATEQUESE 3 - A FAMÍLIA VIVE A PROVAÇÃO

A FAMÍLIA: O TRABALHO E A FESTA

Catequeses preparatórias
para o VII Encontro Mundial das Famílias

(Milão, 30 de Maio – 3 de Junho de 2012)

3. A FAMÍLIA VIVE A PROVAÇÃO

A. Canto e saudação inicial

B. Invocação do Espírito Santo

C. Leitura da Palavra de Deus

13Um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe: «Levantate,
toma o menino e a sua mãe, e foge para o Egipto; permanece lá
até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino, para
o matar».
14José levantou-se durante a noite, tomou o menino e a sua mãe, e
fugiu para o Egipto. 15Ali permaneceu até à morte de Herodes,
para que se cumprisse quanto o Senhor dissera através do profeta:
«Do Egipto chamei o meu filho».
19Quando Herodes morreu, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a
José, no Egipto, e disse-lhe: 20«Levanta-te, toma o menino e a sua
mãe, e retorna para a terra de Israel, porque morreram aqueles que
atentavam contra a vida do menino». 21José levantou-se, tomou o
menino e a sua mãe, e foi para a terra de Israel. 22No entanto, ao
ouvir que Arquelau reinava na Judeia, no lugar do seu pai Herodes,
não ousou ir para lá. Depois, avisado divinamente em sonhos,
retirou-se para a província da Galileia, 23e foi habitar numa cidade
chamada Nazaré, para que assim se cumprisse o que fora dito
pelos profetas: «Será chamado Nazareno» (Mt 2, 13-15.19-23).

D. Catequese bíblica

1.      Um anjo apareceu em sonhos a José. Mais cedo ou mais tarde, de vários modos, a vida de família é posta à prova. Então, exigem-se sabedoria, discernimento e esperança, muita esperança, às vezes para além de qualquer evidência humana. O sofrimento, o limite e a falência fazem parte da nossa condição de criaturas, assinalada pela experiência do pecado, ruína de toda a beleza, corrupção de toda a bondade. Isto não significa que somos destinados a sucumbir; pelo contrário, a aceitação desta condição estimula-nos a confiar na presença benévola de Deus, que sabe renovar todas as coisas.
Este trecho evangélico descreve com tons dramáticos a viagem de uma família, a família de Jesus, aparentemente semelhante a muitas outras: a criança está em perigo e, durante a noite, é necessário partir imediatamente, empreendendo a viagem rumo a uma terra estrangeira. Assim, a jovem família encontra-se a encaminharse por uma estrada imprevista, complicada e inquietadora. É aquilo que acontece também nos dias de hoje e muitas famílias, obrigadas a deixar as suas habitações para poder oferecer aos seus filhos um contexto de vida melhor e para os subtrair aos perigos do mundo circunstante. Porém, talvez a narração da fuga para o Egipto faça alusão a uma vicissitude mais universal, que diz respeito a todas as famílias: a necessidade de empreender a viagem que conduza os pais rumo à sua maturidade, e os filhos para a idade adulta, na consciência da sua própria vocação; e isto, não raro, pode verificar-se à custa de decisões também dolorosas. Trata-se da viagem da construção da família, da geração e da educação dos filhos, caminho árduo, difícil e exigente, no qual as numerosas dificuldades, das quais nenhuma família é preservada, às vezes podem desanimar.
Nesta narração evangélica, Jesus parte como criança e, quando regressa, adquire o seu nome de adulto: «Será chamado Nazareno» (v. 23), título que já prefigura o seu destino de cruz; assim, da viagem de cada família, em que também os pais amadurecem, nascem filhos adultos, capazes de assumir pessoalmente a vocação que lhes é própria. Desta viagem de família, os protagonistas principais são os pais, de modo especial o pai, chamados a predispor boas condições de vida para os filhos. A necessidade de partir é comunicada a José mediante a linguagem dos sonhos. Em sonhos (cf. Mt 1, 20-21) já lhe tinha sido anunciada a gravidez de Maria e comunicado o convite a recebê-la e a tomá-la consigo (cf. Mt 1, 20-21).
Sabemos pouco acerca de José, mas uma coisa é certa: «Era um homem justo» (Mt 1, 19). A justiça, virtude das relações interpessoais, põe em primeiro lugar a salvaguarda do próximo; assim José, dado que era justo, tinha decidido rejeitar Maria secretamente, em vez de a expor ao juízo público. Na simplicidade do seu coração, ele sabe entrever o plano de Deus e vislumbrar nos acontecimentos da vida de família a mão divina. É fundamental saber «ouvir os anjos», discernir espiritualmente os acontecimentos e os momentos da nossa vida familiar, para que as relações sejam sempre purificadas, favorecidas e curadas. Com efeito, a família vive de bons relacionamentos, de olhares recíprocos positivos, de estima e de garantias mútuas, de defesa e de tutela: deste clima derivam o discernimento atento e a decisão pronta que salvaguarda a vida de um filho. Isto é válido para todas as famílias, para aquelas que vivem uma situação concreta de perigo, mas também para aquelas que vivem situações aparentemente mais seguras: os pais permaneçam voltados para a vida boa dos filhos, que devem ser subtraídos às ameaças e aos perigos.
O anjo convida a despertar, tomar, acolher, fugir... e confiar, permanecendo numa terra estrangeira até que o Senhor avise. José assume as suas responsabilidades, é protagonista da sua própria vicissitude, mas não se sente sozinho, porque conta com o olhar d'Aquele que provê à vida dos homens. A confiança em Deus não exonera da reflexão, da avaliação das situações, do percurso complexo da decisão mas, ao contrário, torna possível viver em todas as situações, sem jamais desesperar ou resignar-se. José está acordado, é capaz de enfrentar os acontecimentos e proteger a vida da mãe e do menino; mas ele age também na plena consciência de que é assistido pela salvaguarda eficaz de Deus.
2.       Toma o menino e a sua mãe. José obedece, toma o menino e a sua mãe, e afasta-os da situação de perigo. Com efeito, o rei Herodes, que devia ser garante da vida do seu povo, na realidade transformou- se no perseguidor do qual escapar. Também hoje, a família vive em contacto com insídias perigosas e dissimuladas: sofrimento, pobreza e prepotência, mas também ritmos de trabalho excessivos, consumismo, indiferença, abandono, solidão... O mundo inteiro pode apresentar-se como hostil, adversário da vida dos mais pequeninos, de muitas formas. Cada pai ou mãe gostaria de tornar mais fácil o mundo, mais habitável para os seus filhos, demonstrando-lhes que a vida é boa e digna de ser vivida.
Os cuidados oferecidos aos filhos na sua primeira infância são motivados por este desejo: os pais sentem-se mal quando os filhos choram; sofrem e fazem de tudo para aliviar a sua dor. Fazem aquilo que podem, para que a vida dos seus filhos seja boa, seja um dom, seja abençoada em nome de Deus. Eis o significado da viagem para o Egipto: a busca de um lugar seguro, para além da noite, que proteja contra as ameaças, preserve da violência, restitua a esperança e permita conservar uma boa ideia de Deus e da vida.
A esta obra parece ser chamado, em primeiro lugar, o pai:é ele que acorda e toma a iniciativa. A José estão confiados o filho e a mãe; ele sabe que deverá levá-los, a ambos, para o Egipto, para um lugar seguro. «Toma o menino e a sua mãe», diz duas vezes o anjo, e o texto retoma mais duas vezes estas mesmas palavras.
Elas ressoam como um encorajamento aos pais, a superar as incertezas, a ir em frente, a cuidar do menino e da mãe. Hoje, as ciências humanas redescobrem a importância decisiva da figura paterna para o crescimento integral dos filhos.
O pai – sugere o texto – encontra a sua identidade e o seu papel, quando protege a mãe, ou seja, quando cuida da relação conjugal. Sabemos bem como o entendimento dos pais é decisivo para proteger, salvaguardar e encorajar os filhos; sabemos também como é difícil para o homem tutelar a mulher contra as mil noites da solidão, do silêncio e da incomunicabilidade. Considerando bem, também estas são ameaças que tornam a vida mais «difícil» para os filhos!
3.         Fugiu para o Egipto. A viagem de uma família: partir, ir embora de uma terra hostil rumo a outra mais habitável, o Egipto, que a seu tempo tinha sido terra de escravidão e de sofrimento, mas também lugar da revelação do amor do Senhor pelo seu povo Israel.
O Egipto enche de pensamentos o imaginário de Israel: é a terra em que foram hospedados Jacob e os seus filhos e, antes ainda, o seu filho José, vendido pelos próprios irmãos; é a terra onde o povo sofreu a escravidão e experimentou a libertação.
Também Moisés tinha fugido daquela terra que o hospedara. O anjo pede a José que salve o menino, levando-o precisamente para lá, como se dissesse que, revisitado e habitado de esperança e de confiança, até um lugar de morte pode tornar-se um berço para a vida.
No entanto, para que isto aconteça, são necessários a coragem de voltar ali e a decisão de habitar naquele lugar difícil, sustentado pela confiança no Deus da vida. A fé em Deus é capaz de renovar todas as coisas e de infundir nova vitalidade nas famílias.
José parte «durante a noite». Na noite nada se vê, o homem caminha como um cego; porém, é possível ouvir e escutar a voz que sustém e encoraja. Existem muitas «noites» que caem sobre a vida de família: aquelas povoadas de sonhos, bons e maus; aquelas que vêem o casal andar às apalpadelas na escuridão de um relacionamento que se tornou difícil; aquelas dos filhos em crise, que se tornam mudos, distantes, ou então acusadores e rebeldes... quase irreconhecíveis.
Todas estas noites – ensina a narração da fuga para o Egipto – podem ser atravessadas, levando o filho para um lugar seguro, na medida em que se mantiver com confiança o ouvido atento à Palavra do Senhor.
Aos pais é pedido que preservem os filhos contra as numerosas noites da sua relação, dos seus problemas, e contra as noites dos seus próprios filhos, por vezes muito dolorosas, por causa das suas escolhas contrárias ao bem. Especialmente nestes momentos, o pai cuida do filho, conservando a certeza, também aos olhos amargurados da mãe, de encontrar para ele um lugar de refúgio. Tal refúgio é, não raro, o próprio coração do pai e da mãe, onde a imagem do filho se conserva intacta, e onde os pais possam voltar a encontrar a paciência e a esperança, para continuar a amá-lo.
Jesus morrerá em Jerusalém, naquela mesma terra da qual é afastado para ser protegido, pela mão do mesmo poder ao qual os seus pais o subtraíram. Chega um momento, na vida da família, em que os pais devem retirar-se. Quando completaram o seu serviço, acompanhando o filho a reconhecer a sua vocação, é bom que se ponham de lado, deixando que seja feita a vontade de Deus. A família não é eterna, e depois de ter acompanhado o filho a esperar na bondade da vida recebida, tem o dever de os encorajar a partir, a ir mais além pelo seu caminho. Os pais dão prova da sua sabedoria na discrição da sua presença, no gesto de se porem de lado, o que nunca é um abandono, mas sim uma forma de estima e de liberdade que prepara o futuro do mundo.
Ainda em sonhos, José compreende que chegou o momento de reconduzir a família para a terra de Israel. Sabiamente toma as iniciativas, avalia a situação e decide – iluminado por uma profecia misteriosa – estabelecer a sua morada em Nazaré, um lugar mais seguro em relação à Judeia. O sonho é novamente um lugar de revelação e de vitória sobre a hostilidade e a violência; embora seja invisível e quase inconsistente, torna-se lugar do discernimento atento e corajoso, conseguindo derrotar a arma do poder, muito mais evidente e sólida. Nada pode pôr em xeque a providência de Deus, capaz de salvar das situações mais difíceis e perigosas todos aqueles que se lhe confiam. Ele está presente nas noites das nossas famílias, e na trama escondida e às vezes obscura dos acontecimentos, tece o seu desígnio de salvação.

E. Escuta do Magistério

O n. 18 da Familiaris consortio representa um sugestivo afresco das «noites da família» que caem sobre todas as idades da vida e sobre todas as fases da existência. O texto ajuda a ler, em cada região do mundo, as dificuldades peculiares das famílias no tempo presente, com a inteligência da mente e a compaixão do coração. Ouvindo as preocupações pastorais dos Padres do Sínodo, o grande afecto de João Paulo II dirige o «olhar» da Igreja a ler com amor os sofrimentos e as dificuldades que atravessam a vida familiar, e pede também hoje aos seus pastores, aos ministérios laicas e às famílias, que enriqueçam o «olhar» da Igreja sobre a multidão incontável, que é como «um rebanho sem pastor».
Ajudar a família em dificuldade
«Um empenho pastoral ainda mais generoso, inteligente e prudente, na linha do exemplo do Bom Pastor, é pedido para aquelas famílias que – muitas vezes independentemente da própria vontade ou pressionadas por outras exigências de natureza diversa – se encontram em situações objectivamente difíceis [...]
Tais são, por exemplo, as famílias dos emigrantes por motivos de trabalho; as famílias de quantos são obrigados a ausências longas, como, por exemplo, os militares, os marinheiros, os itinerantes de todo o tipo; as famílias dos presos, dos refugiados e dos exilados; as famílias que vivem praticamente marginalizadas nas grandes cidades; aquelas que não têm casa, as incompletas ou «monoparentais»; as famílias com filhos deficientes ou drogados; as famílias dos alcoólatras; as desenraizadas do seu ambiente social e cultural ou em risco de perdê-lo; as discriminadas por motivos políticos ou por outras razões; as famílias ideologicamente divididas; as que dificilmente conseguem ter um contacto com a paróquia; as que sofrem violência ou tratamentos injustos por causa da própria fé; as que se compõem de cônjuges menores; os anciãos, não raramente forçados a viver na solidão e sem meios adequados de subsistência [...]
Outros momentos difíceis em que a família tem necessidade de ajuda da comunidade eclesial e dos seus pastores, podem ser: a irrequieta adolescência contestadora e às vezes tumultuosa dos filhos; o seu matrimónio, que os separa da família de origem; a incompreensão ou a falta de amor da parte das pessoas mais queridas; o abandono do cônjuge ou a sua perda, que faz começar a experiência dolorosa da viuvez, a morte de um familiar, que mutila e transforma em profundidade o núcleo originário da família».
[Familiaris Consortio, 77]

F. Perguntas para o casal e o grupo

PARA O CASAL
  1. Quais são as «provações» actuais da nossa família? Como as vivemos?
  2. Que homem sou para a mãe dos meus filhos? Que mulher sou para o pai dos meus filhos? Que pai e mãe somos para os nossos filhos?
  3. Como pode crescer a nossa união conjugal, no cansaço e na esperança, diante das situações de dificuldade e de sofrimento?
  4. Que pequena decisão podemos tomar?
PARA O GRUPO FAMILIAR E A COMUNIDADE
  1. Quais são as principais ameaças para as famílias da nossa sociedade e cultura?
  2. Como podemos tornar o mundo mais vivível para os nossos filhos?
  3. Como podemos ajudar a nossa comunidade a fortalecer a esperança no futuro?

G. Um compromisso para a vida familiar e social

H. Orações espontâneas. Pai-Nosso

I. Canto final

FONTE: http://www.family2012.com/pt/catequeses.php

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