"Poderíamos aqui meditar sobre como seria saudável também para a nossa sociedade atual se num dia as famílias permanecessem juntas, tornassem o lar como casa e como realização da comunhão no repouso de Deus" (Papa Bento XVI, Citação do livro Jesus de Nazaré, Trad. José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ, São Paulo: Ed. Planeta, 2007, p. 106)

terça-feira, 15 de maio de 2012

CATEQUESE PREPARATÓRIA PARA O VII ENCONTRO MUNDIAL DAS FAMÍLIAS - CATEQUESE 7 - O TRABALHO, DESAFIO PARA A FAMÍLIA

  

A FAMÍLIA: O TRABALHO E A FESTA

Catequeses preparatórias
para o VII Encontro Mundial das Famílias

(Milão, 30 de Maio – 3 de Junho de 2012)

7. O TRABALHO, DESAFIO PARA A FAMÍLIA

A. Canto e saudação inicial

B. Invocação do Espírito Santo

C. Leitura da Palavra de Deus

8Ora, o Senhor Deus tinha plantado um jardim no Éden, do lado
do oriente, e colocou aí o homem que Ele tinha criado. 9O Senhor
Deus fez brotar da terra toda a espécie de árvores, de aspecto agradável,
e de frutos bons para comer; a árvore da vida no meio do
jardim, e a árvore da ciência do bem e do mal. 10Um rio saía do
Éden para regar o jardim, e dividia-se em seguida em quatro córregos.
15O Senhor Deus tomou o homem e colocou-o no jardim
do Éden, para o cultivar e para o guardar (Gn 2, 8-10.15).
17E disse, em seguida, ao homem: «Porque ouviste a voz da tua
mulher e comeste do fruto da árvore que eu te havia proibido comer,
maldita seja a terra por tua causa!
Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento,
durante todos os dias de tua vida.
18Ela produzir-te-á espinhos e abrolhos,
e tu comerás a erva da terra.
19Comerás o pão com o suor do teu rosto,
até que voltes à terra
da qual foste tirado;
porque és pó, e pó te hás-de tornar!» (Gn 3, 17-19).

D. Catequese bíblica

1.      O Senhor Deus tinha plantado um jardim no Éden. O jardim no éden constitui uma dádiva que provém das mãos de Deus, um lugar maravilhoso, rico de água que irriga o mundo inteiro. O primeiro dever que Deus confia ao homem, depois de o ter criado,é de trabalhar no seu jardim, cultivando-o e guardando-o. O sopro de vida que Deus infundiu na humanidade enriquece-a de criatividade e de força, de genialidade e de vigor, a fim de que seja capaz de colaborar para a obra da sua criação.
Deus não é cioso da sua obra, mas coloca-a à disposição dos homens, sem qualquer desconfiança e com grande generosidade.
Não só Ele confia ao seu cuidado todas as suas outras criaturas, mas concede aos homens o espírito, a fim de que eles participem activamente na Sua criação, plasmando-a segundo o Seu desígnio. O espírito é o recurso que Deus inseriu na criatura humana, a fim de que cuide, para Ele e com Ele, de toda a criação.
Os homens não foram criados, como afirmavam algumas religiões do Antigo Oriente, para substituir o trabalho dos deuses ou para ser os seus escravos nos serviços mais humildes. A humanidade foi desejada por Deus para cultivar a natureza criada, colaborando activamente para a sua obra criativa.
Segundo a tradição bíblica, o trabalho manual goza de grande consideração e, nas escolas rabínicas, é acompanhado pelo estudo. Hoje, diante de um crescente desprezo por alguns tipos de profissões, especialmente artesanais, é mais oportuno do que nunca redescobrir a dignidade do trabalho manual. A conservação e o cultivo do jardim terrestre confiada por Deus à humanidade não diz respeito apenas à mente e ao coração, mas emprega também as mãos, o trabalho agrícola e a produção artesanal e industrial permanecem dois pontos de referência do trabalho, através dos quais os homens contribuem para o desenvolvimento de cada pessoa e da sociedade inteira.
Como afirma o n. 9 da Laborem exercens: «O trabalho é um bem do homem – é um bem da sua humanidade – porque, mediante o trabalho, o homem não somente transforma a natureza, adaptando-a às suas próprias necessidades, mas também se realiza a si mesmo como homem e até, num certo sentido, "se torna mais homem"».
2.      O Senhor Deus tomou o homem e colocou-o no jardim do Éden. Deus não apenas planta um jardim, mas nele coloca o homem para o habitar.
O jardim terrestre é concedido aos homens, a fim de que vivam em comunhão entre si e, trabalhando, cuidem reciprocamente da sua vida. O trabalho não é uma punição divina, como se imaginava nos mitos antigos, nem uma condição de escravidão, como se pensava na cultura greco-romana: é sobretudo uma actividade constitutiva de cada ser humano. O mundo espera que os homens lancem mãos à obra. Eles têm a possibilidade e a responsabilidade de realizar no mundo criado o desígnio de Deus Criador. Nesta luz, o trabalho é uma forma com que o homem vive a sua relação e a sua fidelidade a Deus.
Por conseguinte, o trabalho não é o fim da vida: ele conserva a sua justa medida de meio. O fim é a comunhão e a co-responsabilidade dos homens com o seu Criador. Se o trabalho se tornasse uma finalidade, a idolatria do trabalho tomaria o lugar da colaboração exigida dos homens da parte de Deus. Deles não se requer simplesmente que trabalhem, mas que «trabalhem cultivando e guardando» a criação divina. O homem não trabalha por sua própria conta, mas colabora com a obra de Deus. Além disso, a sua colaboração é activa e responsável, de tal maneira que ele, evitando a indolência e exercendo a laboriosidade, «cultiva e guarda» a terra, «trabalhando».
O trabalho previsto para o homem no jardim do Éden é o do camponês, consiste principalmente em cuidar da terra a fim de que a semente nela lançada liberte toda a sua fertilidade, dando fruto em abundância. Promover a criação sem a deformar, valorizar as leis inscritas na natureza, pôr-se ao serviço da humanidade, de cada homem e de cada mulher, criados à imagem e semelhança de Deus, trabalhar para os libertar de todas as formas de escravidão, mesmo no campo do trabalho: eis algumas das tarefas confiadas ao homem, a fim de que contribua para fazer da humanidade uma única grande família.
3.      Para o cultivar e guardar. Enquanto na primeira narração da criação (cf. Gn 1) se perfila ao homem que reine sobre os animais e domine a terra, na segunda narração (cf. Gn 2) alude-se sobretudo à sementeira e ao cultivo da terra. E se na primeira narração não se entende um domínio despótico, mas principalmente o generoso senhorio do soberano que, sábia e equitativamente, busca o bem do seu povo, na segunda narração remete-se à paciência e à esperança, na expectativa dos frutos.
No tempo da expectativa, ao homem é pedida a virtude da fidelidade, semelhante àquela exigida daqueles que, em Israel, prestam serviço religioso no templo. A laboriosidade do homem requer, além disso, a humildade do camponês que observa a terra para adivinhar como melhor cultivá-la, como também a modéstia do carpinteiro que trabalha a madeira respeitando as suas veias.
A justa exploração dos recursos terrestres implica a salvaguarda da criação e a solidariedade para com as gerações vindouras. Uma máxima indiana ensina que «nunca deveríamos pensar que herdamos a terra dos nossos pais, mas que a emprestamos dos nossos filhos».
A tarefa de conservar a terra exige o respeito pela natureza, no reconhecimento da ordem desejada pelo seu Criador. Deste modo, o trabalho humano evade-se à tentação de dilapidar as riquezas e deturpar a beleza do planeta terra, tornando-o ao contrário, segundo o sonho de Deus, o jardim da coexistência e do convívio da família humana, abençoada pelo Pai celestial.
4.        Comerás o pão com o suor do teu rosto. O perigo de que o trabalho se torne um ídolo é válido também para a família. Isto acontece quando a actividade de trabalho detém o primado absoluto perante as relações familiares, quando ambos os cônjuges se sentem obcecados pelo lucro económico e depositam a sua felicidade unicamente no bem-estar material. O risco dos trabalhadores, em todas as épocas, é de se esquecer de Deus, deixando-se absorver completamente pelas ocupações mundanas, na convicção de que nelas se encontra a satisfação de todos os seus desejos. O justo equilíbrio no trabalho, capaz de evitar estas derivas, exige o discernimento familiar acerca das opções domésticas e profissionais. A este propósito, parece injusto o princípio que delega somente à mulher o trabalho doméstico e o cuidado da casa: toda a família deve ser envolvida nesta tarefa, em conformidade com uma distribuição equitativa dos deveres. Por outro lado, no que diz respeito à actividade profissional, é certamente oportuno que os cônjuges concordem em evitar ausências demasiado prolongadas do seio da família. Infelizmente, a necessidade de prover ao sustento da família muitas vezes não deixa aos cônjuges a possibilidade de escolher com sabedoria e harmonia.
O desleixo da vida religiosa e familiar opõe-se ao mandamento do amor a Deus e ao próximo, que Jesus indicou como o primeiro e maior de todos os mandamentos (cf. Mc 12, 28-31). Reconhecer o seu amor de Pai com todos os seus dons, viver neste horizonte é quanto Deus deseja para cada família humana. Reconhecer o amor do Pai que está nos céus e vivê-lo na terra, eis a vocação que é própria de cada família.
A fadiga é parte integrante do trabalho. Na era contemporânea, do «tudo e já», a educação para trabalhar «suando» é providencial. A condição da vida na terra, somente provisória e sempre precária, prevê também para a família cansaço e dor, sobretudo no que diz respeito ao trabalho a realizar para o próprio sustento. No entanto, o cansaço derivado do trabalho encontra sentido e alívio quando é assumido não para o enriquecimento egoísta pessoal, mas sim para compartilhar os recursos de vida, dentro e fora da família, especialmente com os mais pobres, na lógica do destino universal dos bens.
Às vezes os pais excedem ao evitar qualquer dificuldade aos filhos. Eles não devem esquecer que a família é a primeira escola de trabalho, onde se aprende a ser responsável por si mesmo e pelos outros, pelo ambiente comum de vida. A vida familiar, com as suas incumbências domésticas, ensina a apreciar o cansaço e a fortalecer a vontade em vista do bem-estar comum e do bem recíproco.

E. Escuta do Magistério

O cristão reconhece o valor do trabalho, mas sabe ver nele inclusive as deformações introduzidas pelo pecado. Por isso, a família cristã aceita o trabalho como uma providência para a sua vida e a vida dos seus familiares. Mas evita fazer do trabalho um valor absoluto e considera esta tendência, hoje muito difundida, como uma das tentações idolátricas desta época. Não se limita a afirmar uma convicção diferente. Ela delineia a sua vida de modo que ressalte uma prioridade alternativa. Faz sua a solicitude da Laborem exercens (cf. n. 9), para que «o trabalho, mediante o qual a matéria é nobilitada, o próprio homem não venha a sofrer uma diminuição da sua dignidade».
Trabalho: um bem para a pessoa e a sua dignidade
«E no entanto, com toda esta fadiga – e talvez, num certo sentido, por causa dela – o trabalho é um bem do homem. E se este bem traz em si a marca de um bonum arduum –"bem árduo" – para usar a terminologia de S. Tomás de Aquino, isto não impede que, como tal ele seja um bem do homem. E mais, é não só um bem "útil" ou de que se pode usufruir, mas é um bem "digno", ou seja, que corresponde à dignidade do homem, um bem que exprime esta dignidade e que a aumenta. Querendo determinar melhor o sentido ético do trabalho, é indispensável ter diante dos olhos, antes de mais nada, esta verdade […]
Sem esta consideração, não se pode compreender o significado da virtude da laboriosidade, mais exactamente não se pode compreender por que é que a laboriosidade haveria de ser uma virtude; efectivamente, a virtude, como aptidão moral, é algo que faculta ao homem tornar-se bom como homem. Este facto não muda em nada a nossa justa preocupação por evitar que no trabalho, mediante o qual a matéria é nobilitada, o próprio homem não venha a sofrer uma diminuição da sua dignidade. Sabe-se, ainda, que é possível usar de muitas maneiras o trabalho contra o homem, que se pode mesmo punir o homem com o recurso ao sistema dos trabalhos forçados nos lagers (campos de concentração), que se pode fazer do trabalho um meio para a opressão do homem e que, enfim, se pode explorar, de diferentes maneiras, o trabalho humano, ou seja o homem do trabalho. Tudo isto depõe a favor da obrigação moral de unir a laboriosidade como virtude com a ordem social do trabalho, o que há-de permitir ao homem "tornar-se mais homem" no trabalho, e não já degradar-se por causa do trabalho, desgastando não apenas as forças físicas (o que, pelo menos até certo ponto, é inevitável), mas sobretudo menoscabando a dignidade e subjectividade que lhe são próprias».
[Laborem Exercens, 9]

F. Perguntas para o casal e o grupo

PARA O CASAL
  1. Sabemos suster-nos nas nossas respectivas dificuldades profissionais?
  2. Procuramos com interesse ocasiões nas quais desempenhar em conjunto um trabalho manual?
  3. Os nossos filhos compreendem o cansaço do trabalho e o valor do dinheiro ganho mediante o compromisso e a fadiga?
  4. Sabemos compartilhar o produto do nosso trabalho também com os pobres?
PARA O GRUPO FAMILIAR E A COMUNIDADE
  1. Como influi a crise económica sobre a vida das nossas famílias?
  2. Nas nossas comunidades cristãs há preocupação por quantos estão desempregados, ou então desempenham um trabalho precário, pouco retribuído ou insalubre?
  3. Quais são as opções concretas que a família pode fazer para educar os mais pequeninos para a «salvaguarda da criação»?
  4. Ainda existem formas de escravidão no mundo do trabalho? Como podemos vencê-las, enfrentá-las e superá-las?

G. Um compromisso para a vida familiar e social 

H. Orações espontâneas. Pai-Nosso

I. Canto final

FONTE: http://www.family2012.com/pt/catequeses.php

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