"Poderíamos aqui meditar sobre como seria saudável também para a nossa sociedade atual se num dia as famílias permanecessem juntas, tornassem o lar como casa e como realização da comunhão no repouso de Deus" (Papa Bento XVI, Citação do livro Jesus de Nazaré, Trad. José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ, São Paulo: Ed. Planeta, 2007, p. 106)

quinta-feira, 17 de maio de 2012

CATEQUESE PREPARATÓRIA PARA O VII ENCONTRO MUNDIAL DAS FAMÍLIAS - CATEQUESE 9 - O TRABALHO, DESAFIO PARA A FAMÍLIA

   

A FAMÍLIA: O TRABALHO E A FESTA

Catequeses preparatórias
para o VII Encontro Mundial das Famílias

(Milão, 30 de Maio – 3 de Junho de 2012)

9. A FESTA, TEMPO PARA O SENHOR

A. Canto e saudação inicial

B. Invocação do Espírito Santo

C. Leitura da Palavra de Deus

23Num dia de sábado, o Senhor caminhava pelos campos e os seus
discípulos, andando, começaram a colher espigas. 24Os fariseus
disseram-lhe: «Vê! Por que fazem eles no sábado o que não é permitido?
». Jesus respondeu-lhes: 25«Nunca lestes o que fez David,
quando se achou em necessidade e teve fome, ele e os seus companheiros?
26Ele entrou na casa de Deus, sendo Abiatar príncipe
dos sacerdotes, e comeu os pães da proposição, dos quais só aos
sacerdotes era permitido comer, e deu-os também aos seus companheiros
». 27E dizia-lhes: «O sábado foi feito para o homem, e
não o homem para o sábado; 28e, por isso, o Filho do homem é
senhor também do sábado» (Mc 2, 23-28).
1Depois disso, Jesus voltou a manifestar-se aos seus discípulos,
junto do lago de Tiberíades. Manifestou-se-lhes deste modo: 2Estavam
juntos Simão Pedro, Tomé (chamado Dídimo), Natanael (que
era de Caná da Galileia), os filhos de Zebedeu e outros dois dos
seus discípulos. 3Disse-lhes Simão Pedro: «Eu vou pescar». Responderam-
lhe eles: «Também nós vamos contigo». Partiram e
entraram na barca. Naquela noite, porém, nada apanharam.
4Tendo chegado a manhã, Jesus estava na praia. Todavia, os discípulos
não O reconheceram. 5Perguntou-lhes Jesus: «Amigos, não
tendes acaso alguma coisa para comer?». «Não», responderam-lhe.
6Disse-lhes: «Lançai a rede ao lado direito da barca e achareis».
Lançaram-na, e já não podiam arrastá-la, por causa da grande
quantidade de peixes. 7Então aquele discípulo, que Jesus amava,
disse a Pedro: «É o Senhor!». Quando Simão Pedro ouviu dizer
que era o Senhor, cingiu-se com a túnica (porque estava nu) e
lançou-se na águas. 8 Os outros discípulos vieram na barca,
arrastando a rede dos peixes (pois não estavam muito longe da
terra, somente cerca de duzentos côvados). 9Quando chegaram à
terra, viram umas brasas preparadas e um peixe em cima delas,
além do pão. 10Disse-lhes Jesus: «Trazei aqui alguns dos peixes
que agora apanhastes». 11Subiu Simão Pedro e puxou a rede para
a terra, cheia com cento e cinquenta e três peixes grandes. Apesar
de serem tantos, a rede não se rompeu. 12Disse-lhes Jesus: «Vinde,
comei». Nenhum dos discípulos ousou perguntar-lhe: «Quem és
tu?», pois bem sabiam que era o Senhor. 13Jesus aproximou-se,
tomou o pão e deu-lhes, e do mesmo modo fez com o peixe. 14Esta
era já a terceira vez que Jesus se manifestava aos seus discípulos,
depois de ter ressuscitado dentre os mortos (Jo 21, 1-14).

D. Catequese bíblica

1.      Jesus, «Senhor» do sábado. O domingo nasce como «memória» semanal da ressurreição de Jesus, celebra a «presença» real do Senhor ressuscitado, cumpre a «promessa» da sua vinda gloriosa. Nos primeiros tempos do cristianismo, o dies dominicus não substituiu imediatamente o sábado judaico, mas viveu em simbiose com ele. Para compreender isto, temos que meditar sobre três momentos: a relação entre Jesus e o sábado; o surgimento do primeiro dia da semana; o domingo nos primeiros séculos. Nestes três momentos torna-se presente o significado espiritual e teológico do domingo cristão como memória, presença e promessa.
No Evangelho, Jesus manifestou uma liberdade particular em relação ao sábado, a tal ponto que a sua actividade taumatúrgica parece concentrar-se naquele dia: pensemos no episódio das espigas recolhidas no dia de sábado (cf. Mc 2, 23-28; Mt 12, 1-8; Lc 6, 1-5); na cura do homem com a mão seca (cf. Mc 3, 1-6; Mt 12, 9-14; Lc 6, 6-11), da mulher curvada (cf. Lc 13, 10-17) e de um homem hidrópico (cf. Lc 14, 1-6). O evangelista João insere num dia de sábado a cura do paralítico na piscina (cf. 5, 1-18) e o episódio do cego de nascença (9, 1-41). Em relação ao sábado, Jesus move-se numa tríplice perspectiva. Antes de tudo, Jesus confirma a veneração pelo mandamento do sábado: para além da prática legalista dos fariseus, Jesus reconhece, vive e recomenda o significado do sábado.
O episódio das espigas recolhidas num dia de sábado interpreta a Lei à luz da vontade de Deus: «O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado». O sábado tem como finalidade a vida plena do homem (cf. Mc 3, 4; Mt 12, 11-12). Em segundo lugar: Jesus cumpre o sentido do sábado, libertando o homem do mal. O sábado é o auge da obra de Deus, e o homem é criado para o sábado autêntico, ou seja, a comunhão com Deus. A missão de Jesus cumpre-se no gesto de oferecer à humanidade a graça de realizar a sua vocação, aquela para a qual Deus a criou desde a origem. Isto acontece sobretudo para aqueles que vivem feridos no corpo e na alma: os doentes, os aleijados, os cegos, os pecadores.
O sábado é o dia dos gestos de libertação de Jesus. Enfim, Jesus é o «Senhor» do sábado. Renovando a obra de criação e de libertação do mal, Jesus revela-se a si mesmo como plenitude de vida, finalidade do mandamento sabático. Jesus é o o Senhor do sábado porque é o Filho e, como Filho, introduz na plenitude do sábado.
Para experimentar a «presença» do Senhor ressuscitado, a família deve deixar-se iluminar pela eucaristia dominical. A celebração da missa torna-se o fulcro vivo e pulsante do dia do Senhor, da sua presença aqui e hoje como Ressuscitado. A eucaristia faz-nos chegar à margem do mistério santo de Deus. No domingo, a família encontra o centro da semana, o dia que conserva a sua vida quotidiana. Isto acontece quando a família se interroga: podemos encontrar juntos o mistério de Deus? Na sua simplicidade, a celebração deixa que o «mistério» de Deus venha ao nosso encontro.
O rito coloca a família em contacto com a nascente da vida, a comunhão com Deus e a comunhão fraternal. Aliás, muito mais: o mistério cristão é a vida nova de Jesus ressuscitado, que se torna presente na assembleia eucarística. A eucaristia dominical constitui o fulcro do domingo e da festa. Nela a família recebe a vida nova do Ressuscitado, acolhe o dom do Espírito, ouve a palavra, compartilha o pão eucarístico e manifesta-se no amor fraterno. Por isso, o domingo é o senhor dos dias, o dia do encontro com o Ressuscitado!
2.     O «primeiro dia da semana». O domingo é a «memória» da Páscoa de Jesus. Segundo o concorde testemunho evangélico, Cristo ressuscitou no «primeiro dia da semana» (Mc 16, 2.9; Mt 28, 1; Lc 24, 1; Jo 20, 1). Nesse dia cumpriram-se todos os acontecimentos sobre os quais se fundamenta a fé cristã: a ressurreição de Jesus, as aparições pascais e a efusão do Espírito. Os cristãos das origens retomaram o ritmo semanal judaico mas, a partir da ressurreição, começaram a dar uma importância fundamental ao «primeiro dia depois do sábado» (Lc 24, 1). No âmbito desse dia, João e Lucas inserem a memória das refeições consumidas em companhia do Ressuscitado (cf. Lc 24, 13-35 e Jo 21, 1-14), colorando-os com traços eucarísticos. O texto contido no capítulo 21 de São João descreve bem a atmosfera dos encontros eucarísticos das primeiras comunidades cristãs. Jesus «toma, dá graças e distribui» o pão partido (Jo 21, 12.9-14), e é «reconhecido ao partir o pão» (Lc 24, 30.35). Em continuidade com as refeições de Jesus colocam-se as «reuniões» do primeiro dia da semana, recordadas em Act 20, 7 como um momento da assembleia comunitária para «partir o pão» e para ouvir a palavra do apóstolo, e mencionadas em 1 Cor 16, 2 como dia da colecta para os pobres de Jerusalém. Por este motivo, o domingo é conotado por estes três elementos: a escuta da Palavra, o partir do pão para a partilha fraterna e a caridade.
Mais tarde, em Ap 1, 10, será chamada o «Dia do Senhor». Assim, a Igreja das origens confirma o vínculo de continuidade e de diferença em relação ao sábado. O «dia do Senhor» é o dia da memória da ressurreição.
Participando na missa, a família dedica espaço e tempo, oferece energias e recursos, aprende que a vida não é feita unicamente de necessidades a atender, mas de relações a construir. A gratuidade da eucaristia dominical exige que a família participe na memória da Páscoa de Jesus. Na missa, a família alimenta-se na mesa da palavra e do pão, que dá sabor e sentido às palavras e ao alimento compartilhado à mesa de casa. Desde crianças, os filhos devem ser educados para a escuta da palavra, retomando em casa aquilo que se ouve na comunidade. Isto permitir-lhes-á descobrir o domingo como «dia do Senhor». O encontro com Jesus ressuscitado, no âmago do domingo, deve alimentar-se na memória de Jesus, na narração do Evangelho, na realidade do pão partido e do corpo oferecido. A memória do Crucificado ressuscitado marca a diferença do domingo em relação ao tempo livre: se não nos encontrarmos com Ele, a festa não se realiza, a comunhão é apenas um sentimento e a caridade se reduz a um gesto de solidariedade, que no entanto não constrói a comunidade cristã e não educa para a missão. Enquanto nos introduz no coração de Deus, a eucaristia do domingo faz a família, e a família, na comunidade cristã, faz de um certo modo a Eucaristia.
3.     O domingo nos primeiros séculos. Nos primeiros tempos da vida da Igreja, o domingo e a eucaristia no dia do Senhor punham fortemente em evidência também a espera da vinda do Senhor. São Justino, filósofo e mártir, deixou-nos a imagem sugestiva da comunidade cristã congregada no «dia do Senhor», correspondente ao dia seguinte ao sábado.
«No dia, chamado do Sol, reúne-se a assembleia. Todos aqueles que moram na cidade ou no campo encontram-se no mesmo lugar, para a leitura das memórias dos apóstolos ou dos escritos dos profetas, na medida que o tempo o permitir. Depois, quando o leitor termina, aquele que preside dirige palavras de admoestação e de exortação, que convidam a imitar gestas tão bonitas. Em seguida, levantamo-nos todos juntos e elevamos orações; quando terminamos de orar, trazem pão, vinho e água. Então, aquele que preside formula a oração de louvor e de acção de graças, com todo o fervor, e o povo aclama: Amém!
Enfim, a cada um dos presentes são distribuídos e comunicados os elementos sobre os quais foram dadas graças, enquanto os mesmos são enviados aos ausentes por mão dos diáconos. No fim, aqueles que possuem em abundância e que o desejarem, oferecem livremente quanto quiserem. Aquilo que se reúne é depositado junto de quem preside, e ele socorre os órfãos, as viúvas e quantos, por doença ou por outro motivo, se encontram em necessidade, e depois também aqueles que estão na prisão e os peregrinos que chegam de fora. Em síntese, cuida de todos os necessitados» (cf. I Apologia, LXVII, 36).
O domingo é o dia da assembleia dos cristãos e faz-nos sentir o clima das primeiras comunidades, que viviam a eucaristia dominical como uma «antecipação» da vida nova conferida pelo Ressuscitado e «promessa» da transformação do mundo. Hoje, a Igreja e a família são novamente convocadas a esta nascente que jorra, a fim de que a originalidade do domingo cristão não venha a perder-se. Sobretudo em alguns períodos do ano, como o Advento e o Natal, renova-se a espera da vinda do Senhor, através dos gestos que em família e na comunidade alimentam o sentido da esperança.

E. Escuta do Magistério

A família é coisa do domingo, «dia de alegria e de descanso»: é assim que o define o Concílio Vaticano II, na Constituição Sacrosanctum concilium. Deve ser coisa não tanto do domingo como dia livre, descanso colectivo, festa popular, mas principalmente do domingo como «dia do Senhor», ou seja, como dia da assembleia eucarística, da qual parte e para a qual converge (fonte e ápice), em unidade de tempo e de lugar, toda a vida cristã. Os outros aspectos do domingo vêm sucessivamente: são importantes, mas não essenciais. A assembleia eucarística é necessária para a família. A família cristã organiza a sua vida, educa-se a si mesma e os seus filhos, de maneira a poder dar à missa a precedência sobre qualquer outro compromisso.
Domingo, dia do Senhor
«Por tradição apostólica, que nasceu do próprio dia da Ressurreição de Cristo, a Igreja celebra o mistério pascal de oito em oito dias, no dia que justamente se denomina dia do Senhor, ou domingo. Nesse dia devem os fiéis reunir- se para participar na Eucaristia e para ouvir a palavra de Deus, e assim recordar a Paixão, a Ressurreição e a glória do Senhor Jesus, e dar graças a Deus que os "regenerou para uma esperança viva pela Ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos" (1 Pd 1, 3). O domingo é, pois, o principal dia de festa a propor e a inculcar no espírito dos fiéis; seja também o dia da alegria e do repouso.
Não deve ser sacrificado a outras celebrações que não sejam da máxima importância, porque o domingo é o fundamento e o centro de todo o ano litúrgico».
[Sacrosanctum Concilium, 106]

F. Perguntas para o casal e o grupo

PARA O CASAL
  1. Como são sentidos na nossa família o domingo e o encontro com o Senhor ressuscitado?
  2. Os gestos e a ritualidade em casa e na comunidade permitem sentir a vida nova do Ressuscitado, a alegria da sua presença?
  3. A experiência da gratuidade dos bens e do tempo, a escuta da Palavra em casa e na igreja, a mesa eucarística compartilhada, fazem-nos viver o domingo como Páscoa semanal?
  4. Em que momentos do ano, especialmente, e com que gestos vivemos a eucaristia dominical, como tempo da espera e da esperança?
PARA O GRUPO FAMILIAR E A COMUNIDADE
  1. Na sociedade contemporânea, o que é que impede de viver o domingo como dies dominicus (dia do Senhor)?
  2. A educação para o rito e a atmosfera da comunidade cristã introduzem verdadeiramente no encontro com o Crucificado ressuscitado?
  3. Como pode o domingo tornar-se o dia do Evangelho e da memória da ressurreição de Jesus?
  4. De que modo o caminho do ano litúrgico, com os seus tempos e as suas festas, consegue manifestar a espera do Senhor?

G. Um compromisso para a vida familiar e social

H. Orações espontâneas. Pai-Nosso

I. Canto final

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